• Home
  • Sobre
  • Portifólio
  • Contato
linkedin instagram facebook pinterest

Café: extra-forte


futuro ancestral, ailton krenak

Há determinados livros em que é preciso voltar e não demoramos a perceber quais são eles. Assim que começamos as primeiras páginas, já percebemos algo importante que nos toma de vez. Futuro Ancestral, de Ailton Krenak, com esse título tão lindo quanto profundo, é um deles.

Aílton Krenak é um autor conhecido por seu trabalho no campo dos direitos indígenas e que se torna, a cada dia, mais relevante para todos. Com a crise indígena acentuada no Governo Bolsonaro, especialmente na Terra Indígena Yanomami, ele torna-se não apenas importante, como urgente. Em seus textos, Krenak traz uma dimensão da natureza de quem a vive de perto e em profundidade. O ambientalista faz filosofia com uma linguagem acessível, direta e poética. Ler seus textos é encontrar uma roda de conversa ampla, empática e crítica sobre nós mesmos enquanto humanos e brasileiros, e sobre como ainda desconhecemos muito do que somos feitos.

Em Futuro Ancestral, editado pela Companhia das Letras, encontramos 5 textos que tratam do nosso comportamento no mundo. Da Pandemia à educação das crianças e do respeito às idades e saberes, do respeito à própria infância, fala também da matança dos rios e das construções das cidades que insistem em separar 'meio ambiente' de 'civilização', trata ainda da tragédia de Mariana e mais um tanto de coisas. Os textos estão conectados com essa ideia de futuro ancestral talhado no presente, uma ideia de que o tempo é o fluxo contínuo de trocas entre gerações, como ele cita a vida das crianças Krenak, que

anseiam por serem antigas. Isso porque, nas humanidades em que as crianças ainda têm a liberdade e a autonomia de aspirar mundos, elas valorizam muito os velhos. As pessoas antigas têm a habilitação de quem passou por várias etapas da experiência de viver. São os contadores de histórias, os que ensinam as medicinas, a arte, os fundamentos de tudo que é relevante para ter uma boa vida. É o que os quéchuas chamam de sumak kawsay e que foi traduzido para o castelhano como bienvivir, ou bem viver, em português. 

A conexão que se faz entre o jovem e o ancião é a de sabedoria de vida, conhecimento e respeito. O idoso é quem passou pela experiência de viver e, em vez de ser descartado como se faz na urbanidade, é reverenciado, é um exemplo a ser seguido e é quem compartilha conhecimentos. Esse trecho, quase ao fim do livro encontra ressonância em sua abertura, quase poesia em suas primeiras páginas:

Nesta invocação do tempo ancestral, vejo um grupo de sete ou oito meninos remando numa canoa: 

Os meninos remavam de maneira compassada, todos tocavam o remo na superfície da água com muita calma e harmonia: estavam exercitando a infância deles no sentido que o seu povo, os Yudjá, chamam de se aproximar da antiguidade. Um deles, mais velho, que estava verbalizando a experiência, falou: "Nossos pais dizem que nós já estamos chegando perto de como era antigamente".

Eu achei tão bonito que aqueles meninos ansiassem por alguma coisa que os seus antepassados haviam ensinado, e tão belo quanto que a valorizassem no instante presente. Esses meninos que vejo em minha memória não estão correndo atrás de uma ideia prospectiva do tempo nem de algo que está em algum outro canto, mas do que vai acontecer exatamente aqui, neste lugar ancestral que é seu território, dentro dos rios.

foto de ailton krenak ambientalista
Ailton Krenak
Quando começamos a leitura, encontramos o trecho e só ele já nos faz respirar melhor. Krenak traz formas de ver o mundo e de entender que é preciso reconhecer riquezas, tradições e o respeito pela natureza como algo intrínseco à humanidade e não à parte dela. Suas reflexões sobre urbanidade, cidadania e canalização dos rios, um contrassenso e o oposto do progresso real são precisas e urgentes. Aqui em Salvador, Bahia, por exemplo, há um grande volume de obras públicas, como a construção de avenidas e viadutos que acabam com a vegetação e ampliam a canalização dos rios, os tornando esgotos ou tapando seu acesso à luz, como para esconder poeira embaixo de um tapete. Os rios não podem ser os problemas das cidades, eles já existiam quando os assentamentos urbanos tomaram posse e é por eles que as cidades passaram a existir naquele local. Os alagamentos e enchentes não acontecem por causa dos rios, mas por um sistema de esgotamento ausente e despreparado, em um planejamento urbano ineficiente, para dizer o mínimo. A natureza sempre indica o que estamos fazendo errado de forma explícita, e é esse o ensinamento que precisamos.

Para além das ideias base, o livro é uma delícia. É dos que deveria despontar em provas de concursos, vestibulares, ENEM. È preciso educar com livros como esse, levar para a mesa de bar dos amigos, de jantar das famílias, de lanche nas escolas. Aqui em casa, o livrinho segue com tantas orelhas marcadas, que quase dobrou sua fina espessura. É muito o que reler e refletir, dividir com quem quiser, e como ele nos relembra:

Nossa sociabilidade tem que ser repensada para além dos seres humanos, tem que incluir abelhas, tatus, baleias, golfinhos. Meus grandes mestres da vida são uma constelação de seres - humanos e não humano.

Livro: Futuro Ancestral, de Ailton Krenak
Companhia das Letras, 2022. 130 páginas.

***
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

Ano passado, reencontrei uma colega da época de escola que não via, possivelmente, desde a época da escola, no final dos anos 90. Maria Cecília mora fora do país e vínhamos nos acompanhando pelas redes sociais, estreitando uma amizade atrasada mas muito bem vinda neste momento de nossas vidas. Fomos a uma livraria, trocamos figurinhas literárias e ela me indicou este livro: Kim Jiyoung, nascida em 1982, de Cho Nam-Joo.

livro de kim-jiyoung, nascida em 1982, de cho nam-joo, pela editora intrínseca
Kim Jiyoung, nascida em 1982. Cho Nam-Joo, Editora Intrínseca
O livro trata de uma mulher, como o título indica, nascida em 1982 na Coréia do Sul, mãe de uma criança e casada. Ela largou o trabalho para ter a filha e ser dona de casa, um fato comum no país. O relato já começa com uma transformação da protagonista, narrado na terceira pessoa. Kim Jiyoung parece estar tendo algum tipo de dissociação, muda de personalidade subitamente quando conversa com o marido ou familiares e se posiciona como nunca havia feito antes. A tendência, na Coréia do Sul, é que as mulheres tenham uma postura mais submissa e devotada à família, a aceitarem o pesado fardo da criação quase unilateral dos filhos e assumirem toda a responsabilidade dos cuidados da casa e das tradições familiares.

Entretanto, Kim Jiyoung cansou. De alguma maneira, seu comportamento estranho, o esgotamento do sujeito, é percebido nitidamente sob a forma de um desequilíbrio mental e o marido foi sozinho ao psiquiatra falar sobre a esposa e tratamentos possíveis. Entenda aqui, ele foi sem ela ao psiquiatra, porque a ela não importa saber de si.

O livro é excepcional e a vontade é de sair descortinando ele todo por aqui, conversando sobre cada situação que se apresenta, inclusive sobre a escolha narrativa que se explicará mais adiante - o fato do narrador não ser a própria Kim Jiyoung. Nada disso é à toa, o que torna a obra curta demais para sua qualidade.

Falar sobre o papel da mulher, em quase qualquer sociedade, é dialogar sobre imposições do patriarcado e suas tentativas de rompimento dessa estrutura arcaica. O livro encontra um caminho interessante porque traz um exemplo que está na ordem do ‘comum’ e envereda pelo fantástico com as ‘personalidades’ apresentadas da protagonista. A justificativa para esta solução é clara, marca a ausência de subjetividade imposta às mulheres daquela cultura para serem cumpridoras de tarefas domésticas, executoras apenas, sem reflexão, vontades, reclamações, afeto. Então, a partir do momento que Kim Jiyoung deixa de ser quem é para aquele microcosmo - e talvez pra si, ela assume as personalidades de todas as mulheres.

A obra não se restringe ao fato que abre sua história. Ela cria um panorama para que entendamos como é a vida de Kim Jiyoung, de seu nascimento ao momento em que tudo acontece. Assim, acompanhamos um relato que trata do seu nascimento, da situação familiar, dos privilégios do filho homem, das atribuições dela enquanto mulher, da adolescência, dos assédios e da perpetuação dos privilégios masculinos. Além disso, inclui dados estatísticos de comportamento e sociedade, criando quadro realista do que é ser mulher na Coréia do Sul dos anos 1980 para frente.

O livro é baseado na vida da autora, Cho Nam-Joo, que deixou o trabalho para se tornar mãe, e seus um milhão de exemplares vendidos no mundo em 18 idiomas atestam sua relevância e como ela se comunica em diferentes culturas que, não coincidentemente, abraçam algumas características semelhantes de comportamento e sociedade. Em pouco mais de 170 páginas temos tudo isso com um final excepcional. Boa leitura!


Livro: Kim Jiypung. nascida em 1982, de Cho Nam-Joo
Editora Intrínseca, 2022. 172 páginas.
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

O prêmio Nobel de Literatura costuma me instigar a conhecer os autores ali consagrados. Alguns são historicamente conhecidos em nosso país, em sua grande maioria, homens. Minha curiosidade aumenta quando o prêmio é dado a uma mulher. Por um conceito ou preconceito, tendo a achar que as mulheres ganhadoras do Nobel de Literatura são ainda maiores do que os homens fotografados por ali, levando em conta que ultrapassaram o gênero que ocupa quase todo o cânone e historicamente por eles selecionado. De uma forma ou de outra, acabo de ler O Lugar, de Annie Ernaux, a vencedora do prêmio deste ano e é dessa descoberta que vamos falar.

annie-ernaux-nobel-o-lugar

Fui investigar os livros da autora e, sem ler muito sobre, peguei este O Lugar. A minha alegria veio imediatamente quando entendi o teor de suas obras. Annie fala sobre memórias, família, história. São temas que me atraem naturalmente, por eu mesma carregar essa vontade de conhecer famílias, histórias de vida, possibilidades de viver onde quer que se esteja. Quando um autor puxa esse assunto, especialmente com a qualidade literária que ela traz, é como se entrássemos naquela família, vivêssemos parte daqueles sentimentos e, mesmo se tratando de uma realidade que nos é distante de muitas maneiras, nos aproximamos dela com o que temos fundamentalmente em comum: nossa humanidade. 
"Busco a figura do meu pai na maneira como as pessoas se sentam e se entediam nas salas de espera, como falam com seus filhos, como se despedem umas das outras na plataforma da estação de trem." 

Em O Lugar, Annie me levou para um território assombroso, dos que eu mais temo na vida: a morte. Ela conta a história de seu pai, do homem que foi, do tempo que viveu, das lutas que batalhou, mas não num tom fúnebre, apesar de sabermos seu fim logo no início. A autora consegue se equilibrar no que parece ser uma dor, uma saudade de algo que se perdeu e de uma forma de viver, como ela coloca, da vida das 'pessoas simples'. E é aí que ela se torna magistral. As pessoas simples são seus pais, os moradores da pequena cidade onde passou a infância e adolescência, os operários, as pessoas não burguesas, as pessoas que não vivem de luxo ou envolvidas em arte, música, literatura, cinema, os intelectuais - o que para o pai de Annie, eram a mesma coisa, dada a distância entre esses mundos.

Foto do Kindle aberto na capa do livro de Annie Ernaux, O lugar.
O lugar, de Annie Ernaux

São pessoas de costumes comuns, sem soberba, como muitos brasileiros, como os pais dos meus avós, como meus avós, em grande parte. São pessoas que batalharam para que seus filhos pudessem ter uma vida mais confortável e o acesso à melhor educação possível. Que vivessem com privilégios que eles mesmos não tiveram, criando oportunidades para que os mais novos habitassem outra realidade que, por fim, triste e ironicamente, determinava um afastamento entre todos. Essa separação é ainda mais evidente quando a autora se casa com um rapaz de sua vida adulta, distante fisicamente e socialmente de seus pais, agudizando as diferenças. Isso se percebe especialmente no cuidado embaraçado dos pais com os visitantes, como se o uso de polissílabos e citações daqueles os tornassem cidadãos de primeira classe e os demais estivessem a seu serviço sem reconhecimento.

"Uma ideia fixa: “O que vão pensar da gente?” (os vizinhos, os clientes, todo mundo). A regra básica era sempre dar um jeito de escapar à crítica dos outros, sendo muito educado, não emitindo opiniões, ou vigiando o tempo todo o próprio temperamento, para não deixar escapar nada que pudesse ser julgado pelos outros."

Sem oposição, a autora narra com uma tentativa de distância a história do pai, mas, em intervalos irregulares, questiona este trabalho, os sentimentos, a diferença entre eles, a perda iminente e já conhecida com um sentimento maior do que ela suportaria, que ela suprime em frases esfriadas à força. E, mesmo sendo o assunto que mais me aterroriza na vida e do qual eu sempre me afasto em qualquer forma em que o conteúdo se apresente, entrei nesse livro com uma voracidade e o terminei em pouco mais de 12 horas, considerando aí a noite de sono. Talvez por saber o futuro da história, o que restava a conhecer era a vida do personagem e não sua morte. Talvez isso tenha me salvado, talvez a narrativa de forma simples e sentimentos complexos, talvez por falar sobre família e cuidado. Talvez por, ao falar do pai, é a força da mãe que se sobrepõe, como alguém que é sempre o ponto forte da família, a estrutura que os mantém juntos de alguma maneira.

Fotografia atual de Annie Ernaux, escritora francesa, prêmio Nobel de Literatura em 2022.
Annie Ernaux
Annie Ernaux não me deixou leve com esse livro, mas me fez ver, claramente, como ela supera a premiação que lhe foi dada. Enquanto escrevo, já penso na sequência, no livro seguinte dela que trará suas histórias reais, de memória de família e que reverberarão em mim com aquela profundidade que nos aperta o peito, ao mesmo tempo que nos abre um sorriso íntimo de satisfação, de sair da zona de conforto e nos fazer pensar em nós, em nossa história de vida e familiar, nas nossas pessoas simples e como, sem o que foi e é a vida delas, nada seríamos hoje.

"Não pensava no fim do meu livro. Agora eu sei que ele se aproxima. O calor chegou no começo de junho. Só de respirar pela manhã, dá para saber que fará um dia bonito. Logo não terei mais nada para escrever. Queria adiar as últimas páginas, queria que elas pudessem estar sempre à minha frente. Mas não é possível voltar muito atrás, corrigir ou acrescentar coisas, e nem mesmo me perguntar onde estava a felicidade."

***

Para me ajudar a manter este espaço sempre vibrante, me paga um cafezinho? É só clicar no buy me a coffee e eu te levo lá! Obrigada!

Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

Retomando a vida no Café, encontramos Chico Buarque em seu Leite Derramado. Meu primeiro livro do compositor e cantor, uma experiência interessante que trouxe o que pensar. De narrativa leve e atravessada pela história do país, vale as ideias que desperta, sempre com um cafezinho ao lado.

livro=leite-derramado-chico-buarque



Leite Derramado veio através do meu trabalho de curadoria de conteúdos para projetos audiovisuais como uma ideia e fui conhecer a obra. À primeira vista, empolgação: vem coisa boa, Chico Buarque, não tem como não ser bom. Mas, ao entender que a história é sobre um homem em uma cama de hospital, os pelos do braço se arrepiaram. Tenho um problema com o tema da morte e, em especial, por doenças. Provavelmente é marca de uma família com médicos e uma mãe que nos colocava para assistir a dramas pesados nos anos 90. Chego aqui para contar mais.

Eulálio é um senhor centenário em uma cama de hospital que narra suas memórias para alguém. Este alguém varia: sua filha, a enfermeira, o auxiliar de enfermagem, quem estiver passando. As lembranças atravessam a história do país e do mundo em guerras, ditadura, império, escravidão, economia e outros temas por um viés muito particular. Este é um ganho na trama, histórias pessoais que cruzam a grande História são a melhor forma de aproximar o leitor de uma realidade que lhe é estranha e, ao mesmo tempo, reconhecível.

capa do kindle do livro Leite Derramado, de Chico Buarque.

Eulálio apresenta sua família partindo do pai, um homem escravagista que se torna abolicionista e do avô português que emigrou ao Brasil junto com a corte nos idos das ameaças de Napoleão. Ele próprio assume ser, com orgulho, de uma família abastada e marca isso por toda a narrativa, também trazendo a mãe burguesa e controladora, mas já assume, com o passar dos anos, que era como um esnobe ou ex-nobre. Encontramos o grande amor de sua vida, Matilde, cria de cozinha de uma família de pessoas brancas e que, ele mesmo, tem dificuldades em enxergar sua cor e origem. Para o protagonista, ela era irmã das outras meninas daquela família, estudavam na mesma escola no Rio de Janeiro e seu francês arrastado era um charme.. Matilde nos acompanha durante toda a trama pela voz dele e pela falta que ela lhe faz, desaparecida há décadas.

Além dela, vemos o discorrer de sua família em decadência moral, social e financeira. A filha que apanha do marido e perde parte da fortuna, a história dos varões da família sempre com o mesmo nome e derrocada em tráfico, vida sem trabalho na base do jeitinho. A moradia é uma presença na trama, é um dos marcos das finanças em falta por golpes, roubos, ausência de administração e cuidado de todos. A falta de estrutura sólida familiar os leva organicamente a um fracasso generalizado como a todos que, acostumados a uma vida de bonança sem esforço, esquecem de precaver-se contra tormentas.

A graça do livro está na maestria da linguagem. A narrativa memorialista faz sentido ao homem que se perde em devaneios, repete histórias, muda a ordem dos acontecimentos. É interessante ler a amarração da trama, pois nos traz à mente as nossas próprias memórias, tecidas a partir dos sentimentos e sensações. Quando uma lembrança ressurge, nunca é em sentido cronológico como em um livro biográfico, mas parte de um cheiro, uma palavra, música, paladar, afeto. É daí que resgatamos as emoções que trazem o passado, a pessoa, o bicho de estimação, uma viagem, ao presente.

Imagem de rosto de Chico Buarque de Holanda. Autor de Leite Derramado.

É isso o que Chico Buarque faz tão bem. A falação foca no que marcou mais a vida do protagonista e, ainda assim, constrói uma história que nos faz querer saber mais, pela própria forma de contar. Propositadamente, Eulálio se confunde com quem lhe escuta e pode soar perdido e aéreo, como muitos idosos em condição similar. E como muitos idosos em situação similar, garante momentos de lucidez e precisão na escolha das palavras e pensamentos com uma clareza impressionante. O que importa é o que está dentro daquele homem, o que lhe pertence e que ele sente relevante compartilhar, entre os remédios que toma e o entorpecem, e exames de imagem. As memórias, o que o nosso organismo retém, é o que nos marca e molda.

Há um ponto que é próprio do protagonista e que nos deixa em alerta. É a história de um homem branco e velho da zona sul do Rio de Janeiro com suas marcas racistas da velha nobreza e machistas da cultura de então, ainda que pintadas com possíveis ironias e alguma humanidade. Dá uma sensação diferente ler o livro, entre o prazer da excelente escrita presa em um conteúdo que, por vezes, incomoda. Me senti em cima do muro, entre entender a ironia fina e a licença poética do autor em criar o personagem e deixar sair dele tantos descaminhos de época. Há um sentimento estranho no final da história, que nos deixa mais interessados em Matilde e no que falta saber dela, e também na derrocada familiar do que, em si, nas memórias perdidas de contexto de Eulálio.

Por fim, Leite Derramado é um título intrigante e seu significado é lindo e profundo quando chegamos a ele. Novamente, é de Matilde que falamos, de quem queremos saber sempre mais e de quem, como a Eulálio, sentiremos mais falta ao fecharmos o livro.

***

Para me ajudar a manter este espaço sempre vibrante, me paga um cafezinho? É só clicar no buy me a coffee e eu te levo lá! Obrigada!

Share
Tweet
Pin
Share
2 Comentários
maracanazo, maracanã, 1950
Maracanazo, 1950

No início da semana passada, estive pesquisando livros e autores que despertassem o olhar para uma história interessante e com uma narrativa fluida em que as imagens viessem fáceis, como se estivéssemos vendo um filme se desenrolar a cada página. O algoritmo universal me levou a Empate, de Vinícius Neves Mariano, livro que devorei em poucas horas com muita alegria e novas ideias.

O ano é 1950, o momento, a final da Copa do Mundo, Brasil e Uruguai. É a estreia do Maracanã, construído especialmente para o evento - o maior estádio do mundo em seu primeiro momento de glória. O Brasil, como em todas as finais de campeonato, parou para ver o jogo. Estádio lotado, 200 mil pessoas. Duas delas estarão lá e não conseguirão ver nada.

imagem do Maracanã, em 1950 durante a final da copa do mundo, o Maracanazo
O Maracanã de 1950 é o cenário para o livro de Vinícius Neves Mariano

Como se estivessem em um pesadelo, dois homens caem no fosso que separa o campo da arquibancada. Um, manco e raivoso, injustiçado por ter lutado em uma guerra que não era sua, deseja ardentemente a derrota nacional e o outro, a esperança honesta em um trabalhador comum que só quer chegar ao fim do dia feliz, a vitória implacável sobre os vizinhos uruguaios. Com a narrativa dividida entre os soluços de uma torcida desesperada e eufórica, e flashbacks que reforçarão as razões do primeiro, seguimos ansiosos como se o jogo estivesse acontecendo diante de nós e não soubéssemos o resultado.

Tudo o que se ouve são ruídos, gritos, aplausos. O silêncio é sempre mais tenso e reforça a cena que se passa entre os dois. Como uma peça de teatro, tudo é a troca entre eles, e o futebol, ainda que importante enquanto contexto, não se sobrepõe às relações humanas que se descortinam diante de nós.
Capa do livro Empate, de Vinicius Neves Mariano
Empate, de Vinícius Neves Mariano

Vinícius Neves Mariano é preciso no contar de sua história e, no final, sentimos falta daqueles personagens, queremos saber mais sobre eles, queremos ficar talvez mais tempo, além daqueles pouco mais de 90 minutos de jogo. Ironicamente, este mesmo tempo contado é implacável, cronometrado ao fim do romance, do jogo e de qualquer coisa. É o tempo que determina tudo o que temos, fomos e somos. 

O autor foi uma grata surpresa pra mim, que investigarei seus outros escritos agora. Há outros dois livros a conhecer, o recente Velhos demais para morrer, e a experiência do instagram, Nenhum futuro próximo. Para saber mais, visite o site do autor.

***

Vamos manter o blog sempre vivo? Com um valor tão pequeno quanto o de um cafezinho, você contribui para a manutenção deste espaço que traz sempre um conteúdo gostoso e quase sempre útil. :)

Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

É sempre suspeito pensar no que ler por um ano inteiro. Minha lista costuma se intercalar entre aqueles livros que desejo ler há algum tempo e surge o momento, outros que descubro pelo caminho e terceira e mais recente via: os que preciso ler para o trabalho. Com a pandemia e um distanciamento social que parece não ter fim, nesta metade de 2021 concluí meu desafio de leitura do Goodreads. Hoje é dia de trocar ideia sobre livros. :)

imagem de livros e o título: o que ler em 2021. post sobre livros lidos e o que vale a pena.

Todos os anos me proponho a ler uma quantidade de livros. A grosso modo, não significa muita coisa se você leu 5, 15 ou 50 livros em um ano. Não é uma avaliação qualitativa ou algo que mereça mérito de qualquer tipo. Eu considero o "desafio de leitura" como um número que eu ache alcançável e divertido tentar cumprir, um estímulo a buscar obras interessantes que estimulem o meu prazer pela leitura. Nos anos anteriores, me propus a ler mais e 2020, com o apocalipse que afetou a nossa saúde física e mental, não cheguei nem perto de atingir meus 37 propostos. Li 12 e não sofri com isso.

Este ano, baixei as expectativas, encarei a realidade da "Pandemia - ano 2" e fui em frente com meu barquinho literário, remando na paz e com meu café ao lado. Chegamos a fins de junho e, sem perceber, vi que li os 15 livros que havia me proposto para todo o ano. Vem mais por aí, mas, antes disso, mostro um pouco do que li e o que vale a pena.


Os que deram muito certo ❤

Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves

Da fantasia para a quase realidade. Este romance histórico traz a saga de uma mulher africana, levada criança como escrava e desembarcando na Bahia. Vivendo em Salvador boa parte de sua vida, este surpreende. É preciso respirar fundo para seguir com ele, é volumoso e me prendeu como uma série bem feita, em que ficamos tentados a ver tudo de uma só vez. Como grande parte da história se passa em minha cidade, para mim (e para quem conhece Salvador) fica a delícia de cruzar passado e presente e reconhecer naquelas linhas, os caminhos que percorro hoje. Além disso, é um livro com grande pesquisa histórica e cultural para se fazer crível. Para ler na rede.


Cidadão do Mundo, o legado de Sérgio Vieira de Mello, Matias Spektor

Amigo de longa data, Matias tem uma escrita - além de vasto conhecimento - fluida, que equilibra bem análise, conhecimento e uma leveza que quase tornaria qualquer assunto uma crônica. Em seus textos para jornais, traz ironias sofisticadas em forma de opinião e nos faz parecer até mais inteligentes do que somos. Em Cidadão do Mundo, ele traz um pouco da vida e relevância de Sergio Vieira de Mello, o diplomata brasileiro e adido da ONU que morreu em um atentado em Bagdá em 2003. Carismático, inteligente e conciliador, Sergio foi uma dessas personalidades que se foi cedo demais e deixou para sempre aberta a vaga de excelência que conquistou. Vale a leitura para conhecer, como me serviu, mais sobre a vida deste homem.


Imagem da cidade de Praga, República Tcheca, onde se passa a maior parte da história de Utz, livro de Bruce Chatwin.
Praga: a cidade mágica (da vida real) onde Utz acontece

Utz, Bruce Chatwin

Este livro surgiu, sendo sincera, numa promoção. O que não tira a sua qualidade, mas apenas a origem dele em minha vida. Inusitado, é um romance que trata da história de um colecionador de porcelana em Praga e como ele garantiu a segurança de sua coleção ao longo dos anos, atravessando guerras e regimes. Acho que o li até rápido demais e me pego tendo flashbacks de sua história. O livro traz muito da solidão dos personagens que escolhem o exílio social ou lhes é imposto de forma sutil. Ao mesmo tempo, traz as atrocidades de um regime que impõe o silêncio da repressão e a escuta é sabida. Para ler de uma só vez e se preparar para receber estas lufadas de sentimentos e lembranças depois. 


O livreiro do Alemão, Otávio Júnior

Uma história real, uma ideia para o trabalho. Descobri este livro em minhas investidas por histórias interessantes, relevantes e, se possível, reais. Encontrei Otávio Júnior, o verdadeiro livreiro do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro e sua história, este trecho de autobiografia, sobre sua paixão pelos livros, pela educação e por querer compartilhá-la com todos à sua volta. A história dele é vencedora, sua escrita é rápida e simples o que não diminui em nada seu talento e mensagem. Otávio é merecedor de todo apoio que conseguir, por seus objetivos e desejos de tornar o seu entorno, um lugar melhor para se viver. Uma história linda e que deve virar filme.


Tudo é Rio, Carla Madeira

Dos livros mais surpreendentes do ano. Tudo é Rio tem uma força voraz, arranca tudo de dentro da gente e nos faz pensar. Tem umas questões realmente a trabalhar ali, umas sensibilidades sobre ser mulher e relacionamentos, mas é forte e complexo, como a vida. Aí há a violência, a dor, o luto e o recomeço. Há amor, desamor, sexo, paixão e vingança. Há uma dona de casa, um marceneiro e uma prostituta. Um triângulo não amoroso e então, cheio de amor. Vai virar filme ou série com certeza, já foi dito por aí. Leia primeiro e vamos discutir. Tem uma resenha só pra ele aqui.

 

Foto do castelo de Bran, o Castelo do Conde Drácula.
O verdadeiro castelo do Conde Drácula, Romênia
Drácula, Bram Stocker

Sim, o clássico. Depois de ler Frankenstein e o Médico e o Monstro, e ter descoberto como são muito bons, a despeito de muitos filmes inspirados neles, fiquei com vontade de descobrir a grandiosidade do vampiro também muito conhecido entre nós. Bram Stocker traz um thriller - o livro é muito mais "de suspense" do que Frankenstein ou Dr. Jekyll, que poderiam facilmente ser categorizados como dramas "sérios" - e sua atmosfera é, de fato, bastante sombria. O livro é gostoso de ler, a história todos conhecemos, de um vampiro que precisa conquistar outros territórios para se manter eterno. A ideia de perenidade, de medo do invisível e do sobrenatural são muito bem tratadas aqui. Foi uma delícia entrar em um universo relativamente conhecido. 


Caçada ao maníaco do parque, Luísa Alcalde

Outro livro de trabalho. Vamos andar com esse, violento, real, que acompanha "em tempo real" a caçada ao maníaco do parque, aquele serial killer brasileiro que levava mulheres jovens para um parque à beira da cidade de São Paulo, as estuprava e matava. O maníaco segue vivo e preso, é um psicopata diagnosticado. Não é meu gênero de preferência, mas faz parte da vida e trabalho é trabalho. Ainda acho melhor ler estes do que histórias de gente que morre de doença, como os escritos por John Green.


A vida mentirosa dos adultos, Elena Ferrante

Ler Elena Ferrante é encontrar alguém de quem se gosta. Isso funciona comigo, quando passo a acompanhar o trabalho de um autor. Se ele for vivo, melhor ainda, porque esperamos novidades para os próximos anos. Neste, A vida mentirosa dos adultos, ela traz novamente uma protagonista napolitana em formação, uma adolescente vivendo entre as mentiras de seus pais e como isso parece transformá-la ao longo dos anos. Acho interessante é a visão de que os pais, quaisquer pais, não são, eternamente, os herois de nossas vidas, os exemplos de perfeição e correção, de honra ilibada e sensatez perene. Os adultos são jovens que cresceram. E, se a formação de base não for consistente e ancorada em valores e experiências que os reforcem, a fluidez da moral se torna constante e deslizes acontrecem. Eu gosto da ideia de tirar o peso  de 'exemplo' dos pais, mas entendo que é um momento extremamente marcante para quem a vive. Gosto de como a autora aborda isso, de como sua personagem percebe os adultos e como passa a se relacionar com eles e seus semelhantes, os jovens. O olhar apurado que parece ser tão específico de um protagonista, se torna um reflexo de parte do que vivemos e é isso que torna sua literatura tão especial. Se não conhece a autora, sugiro começar por A Amiga Genial.


imagem ilustrativa de bagagens em frente a uma casa, para um teto para dois, livro de beth o'leary
As bagagens que iniciam a história na Londres de Beth O'Leary

Um teto para dois, Beth O'Leary

Esse foi um acerto, levando em conta as expectativas. Não é um Orgulho e Preconceito, mas é uma literatura leve para tempos sombrios. É um romance romântico que pontua questões sérias como relacionamento abusivo de uma forma digerível, séria e sem pesar tanto o clima. Daria um ótimo filme. Se você gosta desse tipo de literatura, este é um acerto. A Pequena Jornalista já havia me falado sobre ele e, como ela sabe tudo de 'chick lit', fui na dela e me dei bem. 


A pequena livraria dos sonhos, Jenny Colgan

Adoro romances românticos. Minha investida por livros parte da vastidão de interesses em romances e comédias românticas que abundam tanto aqui, como nos filmes. Este livro é um alento. Leve, divertido, com uma história bem do jeito que eu gosto: café, livros, mudança de vida, viagem, mais livros e romance é de uma leveza tal sem ser bobo, que parece que estamos vendo um filme bom, só que é ainda melhor, porque dura mais para terminar. É dessas histórias que queremos que vire filme mesmo, na verdade, para compararmos a nossa imaginação com a dos outros. Jenny Colgan me levou para a Escócia e me deixou com saudades daqueles poucos dias que passei lá anos atrás. Me fez querer estar lá agora, naquele clima sempre inconstante e com paisagens magníficas. Se for sem preconceitos com literatura "de mulher", vai se divertir. 



Não é muito a minha, mas... 👀

Minha esposa tem a senha do meu celular, Carpinejar

É meu primeiro livro do autor. Leve, é uma série de crônicas sobre o casamento. Como o casamento deve ser, como o amor dele pela mulher é pleno, transparente, sincero. Como ele adora sua mulher e lhe tem confiança plena ao lhe ofertar, entre outras coisas, a senha do celular. Nâo sei. Terminei o livro, mas fiquei no meio do caminho. É como ler qualquer história sem conflitos, sem transformação do personagem. É como ver uma série expositiva, não tão narrativa. Achei morno. Entendo porque ele tem a atenção que recebe e acho que lhe seja devida. Acho que ele é como Martha Medeiros, que tem seu público. Talvez eu esperasse mais ironia, mais acidez e só encontrei doçura. O li para o trabalho e, para ele, atende as expectativas. Mas, para o meu lazer, não me pegou.

Imagem do Japão para representar Silêncio, o livro de Endo Shusaku
Uma viagem ao Japão medieval é o que fazemos neste Silêncio

Silêncio, Endo Shusaku

Este é o livro que deu origem ao filme homônimo de Martin Scorsese. Não vi o filme. O livro... não sei como veio para mim, deve ser coisa dos algoritmos. A premissa é boa: o questionamento de um padre missionário sobre o silêncio de Deus diante de uma situação difícil. O contexto é interessante, a catequização do Japão no século XVII e o encontro com uma cruzada contra o catolicismo. Há momentos interessantes, mas há um ciclo sem fim de repetição do padre sobre o silêncio de Deus e, por mais que a ladainha seja justificada, se perde numa ausência de ritmo e no pouco que sabemos sobre personagens relevantes na trama. O livro é bastante importante no Japão e bem colocado no mundo, mas acho que a trama se perde no meio do caminho ou se alarga para dar mais peso ao drama que se propõe do que à ideia que ensaia elaborar. Acho que esperava mais carga filosófica e não encontrei.


Ikigai: os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz, Ken Mogi

Então, aí eu achei esse. Disfarçado de sabedoria e cultura japonesa, é um auto ajuda que termina mal. Começa muito bem, na verdade, mas, com o andar da carruagem, se perde em encenação e o "resumo do livro no final do livro" me matou. Parece que era algo como: se você está com pressa, só leia as últimas páginas, mas escrito como: e então, segue o que vimos neste livro. Me irritou. Acho que subestima o leitor e não precisamos ser subestimados. Mas, os cinco passos são bem legais, traz um pouco de uma filosofia de vida japonesa que não conhecia e devo falar sobre isso em outro post. Tenho me voltado para questões saúde e viver melhor, naquele momento de pensar o que queremos para a vida, sabe? Então, para iniciar isso, o livro serviu. Se curtir a temática, vale a leitura sem grandes expectativas.


O ano em que disse sim: como dançar, ficar ao sol e ser sua própria pessoa, Shonda Rhimes

Este foi uma dica de uma colega de trabalho e, infelizmente, esperava mais. Entendi porque ela me sugeriu ler, Shonda Rhimes é uma entidade de força e produção audiovisual nos Estados Unidos e dominou as noites de quinta-feira, o prime time do prime time gringo por um tempo com Gray's Anatomy, Private Practice, Scandal e How to get away with murder. Pouca coisa, não? Ela escreve bem, obviamente, mas, não sei se foi a tradução (deveria ter lido em inglês) ou se foi porque o livro entrou, no meio de seu caminho, na prateleira de auto ajuda, que não tenho o hábito de frequentar. Então, li todo, claro, porque as referências de carreira me interessaram, mas parte daquela transformação pessoal não era muito a minha praia ou se repetia demais, talvez. Valeu por conhecer um pouco mais sobre essa grande mulher da nossa indústria, mas não indicaria como leitura por prazer.


Do jardim, com muito afeto: uma história tocante sobre uma amizade improvável, Ana Hantt

O título já indica o assunto, imagino eu. É mais uma tentativa de ler estes romances românticos conforme comentei acima. Só que esse... me pareceu simplista demais. Eu gosto de histórias românticas, sou romântica e etc, mas tem que ser bem escrito, senão fica parecendo filme feito para tv. E esse tinha uma ideia boa, mas pareceu um desenvolvimento apressado, curto, com resoluções fáceis demais. Enfim, sempre acho uma felicidade se conseguir uma publicação, escrever é difícil, toma tempo e, às vezes, a nossa ansiedade quer cortar este tempo de elaboração e partir para a ideia seguinte. Vai ver foi isso. Tem boas críticas no goodreads, mas me deixou insatisfeita. Não perca tempo.


E você, como estão as leituras neste ano ainda complicado demais para deifnir? Vamos trocar figurinhas literárias? =)

***

Para contribuir com este Café cultural, dá uma passadinha no Buy me a coffee? Garanto sempre conteúdos gostosos e inspiradores por aqui!

Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários
Posts mais antigos

Sobre mim

a


Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


Social Media

  • pinterest
  • instagram
  • facebook
  • linkedin

Mais recentes

PARA INSPIRAR

"Amadores se sentam e esperam por uma inspiração. O resto de nós apenas se levanta e vai trabalhar."

Stephen King

Tópicos

Cinema Contos e Crônicas streaming Documentário Livros Viagem comportamento lifestyle

Mais lidos

  • Querida, vou comprar cigarros e volto
    Querida, vou comprar cigarros e volto
  • Crítica: Love 3D, Gaspar Noé
    Crítica: Love 3D, Gaspar Noé
  • Cinema em Casa | Robert Downey Sr.
    Cinema em Casa | Robert Downey Sr.
  • Jia Zhangke - Um homem de Fenyang
    Jia Zhangke - Um homem de Fenyang

Free Blogger Templates Created with by ThemeXpose