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Café: extra-forte

Chegamos ao final da série 1899, cujo início comentei no post anterior. Agora, além de falar sobre a produção, surgiu uma polêmica para discutirmos: a denúncia de um suposto plágio da obra de uma autora brasileira, Mary Cagnin, que escreveu Black Silence, um quadrinho que apresenta similaridades com a produção da Netflix. E sim, parece improvável, mas não é impossível de acontecer.

poster-1899-netflix

Antes de entrarmos na polêmica, vamos por partes. A série de fato é muito boa. A ideia aqui não é trazer spoilers, mas dar uma ideia do todo, respondendo à pergunta de sempre: vale a pena assistir? Sim, vale. A série é menos sombria do que Dark, o roteiro tem algumas barrigas - cenas que poderiam ser encurtadas, momentos da narrativa que alongam os episódios e não são fundamentais - mas, suas reviravoltas a partir do 4 episódio são interessantes. Quem não leu nada sobre a série (recomendo que siga assim), não consegue vislumbrar, no início, o final que esta temporada terá. 

É interessante ver a construção narrativa e entender como os criadores conseguiram esticar a trama para o alcance e transformação que tem. A partir de um ponto, eu comecei a visualizar parte da ideia final da obra, sem saber ainda como seria sua conclusão e, de uma maneira, ela me lembrou Westworld. Esse é o máximo de informações que darei para garantir a surpresa do espectador. 

Para além dos spoilers, é muito bacana perceber que, como na série anterior dos mesmos criadores, aqui há também muito simbolismo. É parte da graça da série quebrarmos a cabeça para entender ou nos anteciparmos sobre os destinos dos personagens. Então trago alguns, como a pirâmide, um elemento histórico e místico importante para nossa história mundial, cuja função é dar morada 'eterna' aos antigos faraós do Egito. Em seguida, os nomes dos navios: Prometeus e Cérbero, dois personagens importantes da mitologia grega. O primeiro roubou o fogo divino para dar aos humanos e, como castigo também divino, foi amarrado a uma pedra, e todos os dias uma águia comia seu fígado, que se regenerava para um novo ataque no dia seguinte por toda a eternidade. O segundo, Cérbero, um enorme cão de 3 cabeças que guarda a entrada do reino de Hades, o reino dos mortos, de onde nenhuma alma sai e os vivos que ali adentram, são despedaçados em seguida. Além disso, tem essa entrada de sonhos / realidades paralelas, que se remete tanto à física dos buracos de minhoca quanto às interpretações de sonhos da psicanálise - ou seja - tem muita diversão para quem gosta de enigmas de todo tipo.

O enorme e ótimo elenco de 1899
O fato é: os atores e a trama se sustentam até o fim, mas eu esperava - e isso é pessoal - que fossem aparecer mais referências ao século XIX como pontuei no texto anterior. É o penúltimo ano do século, de um século com tantas transformações em diversas áreas. 1899 funciona mais como um cenário do que como um motivo real para o ser título da obra. Pelo menos, nesta primeira temporada é o que dá a entender. Caso encontrem outros motivos que tragam mais relevância ao ano na série, mandem pra mim por aqui ou no instagram do Café: extra-forte pra gente discutir.

Agora sim, falaremos sobre o plágio. O mundo recebeu com surpresa a afirmação da autora brasileira Mary Cagnin em sua conta no twitter, acusando os criadores de 1899 de plágio. O plágio, como sabemos, é a reprodução total ou parcial de um conteúdo produzido de uma pessoa por outra sem sua autorização e/ou conhecimento. Ela afirma que há na série vários elementos e ideias iguais ou muito similares aos de sua criação, citando a pirâmide, escritas em código e outros. 

mary-cagnin-black-silence
Mary Cagnin
Acabei de ler Black Silence - a autora disponibilizou a obra para o público, objeto do suposto plágio - vou indicar sempre que é suposto porque não é da minha competência dar esse atestado - e os elementos que ela cita, em parte, estão lá mesmo. Não sabemos se é uma estranha coincidência (pirâmides são referências muito usadas em ficção científica, assim como escritas em código), como também vale afirmar que as narrativas das duas obras são bem diferentes. O roteirista e criador da série, Baran Bo Odar se manifestou, indicando a impossibilidade do plágio em sua conta no instagram e disse ter tentado contato com a autora brasileira para que se entendessem.

A polêmica funcionou como um chamariz para as duas obras, que agora entrarão com mais uma camada no crivo do público, que se tornará o avaliador da suposta cópia. Cabe aos advogados especializados em direitos autorais essa matemática sensível, mas, da forma como foi posta a questão, me pareceu que o plágio seria mais escancarado, como o de estudantes que copiam textos de mestres, e identificamos logo de cara o problema. No caso da série e do quadrinho, alguns elementos estão lá, mas as histórias me pareceram bastante distintas de forma geral, tanto que não sei se cabe a ação. Mas, como disse anteriormente, é deixar com os especialistas.

comparações entre a série 1899 e o quadrinho Black Silence.
1899 à esquerda, Black Silence à direita.
De todo jeito, vamos aguardar o provável e ótimo retorno financeiro desta primeira temporada de 1899, aquecido não apenas pela qualidade da obra, como pela polêmica que se fez em torno dela. Casos assim acabam servindo à curiosidade do público, que quer ser parte da trama, nem que seja apenas por conhecimento, para a boa conversa na mesa do bar ou tomando um café. Acho que o plágio é uma realidade em qualquer meio e, neste caso específico, há muitas nuances a avaliar antes de se atestar algo tão grave. A série segue valendo a pena, a temporada de debates está aberta e quem quiser falar sobre simbolismos, sobre as qualidades e defeitos da obra, expectativas e interpretações com e sem spoilers, estou por aqui com meu café quentinho, esperando a visita. :)

***

O Café está em constante e parcimoniosa atualização. Em breve, volto com novidades. Para contribuir e deixar este lugar ainda mais aconchegante, dá uma passada no buy me a coffee. Por muito pouco, se faz muita diferença ;)
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A nova série da Netflix, 1899, mostra já nos primeiros minutos ao que veio. Com uma construção minuciosa como a que vimos em Dark, estabelece de cara o clima do que estaremos a ver, assim como um universo à parte, que nos é, simultaneamente, estranho e familiar.

1899-netflix-serie

Quando o espectador assiste uma produção audiovisual, nem sempre se atenta à enormidade que é a transmutação de texto em imagem. Ao escrever isso, vem à mente aquela frase clássica da fotografia, de que ela vale mais do que mil palavras. No caso da construção cinematográfica, é mais realista dizer que para uma imagem - cena - se construir, precisa-se de muito mais do que mil palavras.

1899 faz isso em sua abertura. Com uma voz off (onde o narrador não aparece), vemos imagens sombrias e belas de natureza poderosa, céu e mar. A sinopse conta que esta é a história de passageiros de diferentes nacionalidades em um navio que segue da Europa para os Estados Unidos. No meio da viagem, se deparam com sinais de que outro navio, desaparecido meses atrás, está próximo e vão ao seu resgate. No texto narrado, como em um dos temas de Dark, falamos do elemento humano e da crença na ciência, sobrepondo o cérebro (pensamento e razão) à imensidão e (in)finitude do universo (mistério e caos). Na sequência, encontramos a protagonista: uma neurologista que fez algum tipo de tratamento de saúde mental à revelia antes do embarque, uma mulher de ciência que já foi tida como louca. Voltando aos minutos iniciais, o som é um elemento à parte, tão ou mais espetacular do que as imagens que absorvemos com sofreguidão: a combinação de efeitos sonoros com a qualidade da voz e da trilha, insere a tensão que descortinaremos em breve. Mais uma vez lembraremos de Dark, a série que traz a angústia como ponto forte, imensamente trabalhada no som e na fotografia. Mas, por que fazer desta forma?

poster 1899, nova série netflix.

Em 1899, nada é gratuito. A construção visual e sonora é preconizada lá atrás, nas palavras do roteiro. Ali, se visualiza a tensão, com indicações precisas sobre o que veremos e ouviremos, assim como suas metáforas. O cinema é um trabalho de criação artística coletiva e o que houver de indicações em texto, será compartilhado com as equipes que trarão ainda mais elementos criativos, darão profundidade e uma forma concreta ao que o roteirista pressupôs inicialmente. Esse conjunto de ideias se traduz em uma 'criação de clima' que suporta o universo inventado, elementos que dão contexto e plausibilidade à história que assistiremos. E nisso, os criadores de Dark, os mesmos de 1899 - por isso as menções acima - são brilhantes.

O que mais impressiona, e estamos no início da série, é a construção desse mundo e a forma como ela nos convida, imediatamente, a fazer parte dele. O mistério é a chave mestra, o clima sombrio, as apresentações de personagens dando a entender que cada um traz um problema, a adaptação de época com questões sobre medicina, filosofia, gênero e comportamento, e essa indicação, mais uma vez, de se tratar de algo que descobriremos juntos: espectadores e personagens. Em menos de meia hora do primeiro episódio, conhecemos os principais envolvidos na trama, figuras diversas e misteriosas que farão um amálgama das relações humanas dentro de um universo particular - um navio - e fantástico - o mistério do navio afundado, considerando o chamariz do sobrenatural versus a ciência, como a medicina do cérebro (que fatalmente se mostrará como um novo mistério, a mente humana) em uma protagonista desacreditada. É muita informação para pouco tempo de história, mas tudo parece fazer sentido e embarcamos nessa jornada com facilidade e questões em aberto à espera de solução.

elenco principal de 1899, série da netflix

Vamos seguir adiante com 1899, esperando desdobramentos interessantes, suspense, personagens complexos e mistérios para solucionarmos, como os grandes filmes e séries. Pensando que a série se passa no finzinho do século XIX, vale relembrar o que acontecia na época e como as revoluções em todas as áreas do conhecimento podem se fazer presentes aqui, de Darwin a Freud, de Pasteur a Dostoiévski, Marie Curie e Van Gogh, da evolução da fotografia e do nascimento do cinema. É uma produção para todos assistirem (exceto menores de 16 anos) e perceberem a riqueza de uma construção cinematográfica excepcional em muitos sentidos. Pelo menos, até agora. 

No avançar da série, volto aqui para falarmos mais sobre ela.  
Aguardem cenas dos próximos capítulos. =)

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Faz tempo que não venho indicar filmes e séries para assistir. Talvez por ter esses conteúdos mais perto por conta do trabalho, a percepção é a de que há muito do mesmo, muito barulho por nada, muita massificação de conteúdo. E, para piorar, todos os streamings buscam basicamente os mesmos gêneros e formatos para novas produções. É difícil.


Mas sempre há, no meio do ruído, uma brecha, um som especial. E essa nota particular encontrei em Landscapers, exibida pela HBO Max. Deixando claro, estou no terceiro episódio, mas a série inglesa baseada em fatos reais e protagonizada por Olivia Colman e David Thewlis é brilhante.

O tranquilo, ingênuo e excêntrico casal Edwards é acusado de assassinar os pais abusivos de Susan, a esposa, mais de uma década atrás. O casal, agora na França, assume tê-los enterrado no próprio quintal, como uma forma de cuidado. A polícia inglesa os encontra após uma denúncia e eles retornam à Londres, se entregando para as diligências. Com um humor peculiar entre a inteligência dos gestos, a morbidez dos atos não assumidos e personagens milimetricamente construídos para o deleite do próprio elenco e do público, não há como não se encantar. É viciante.

Olivia Colman | Landscapers

O roteiro flerta com o teatro em cenários de luzes exageradas como se eles próprios fossem personagens, marcando flashbacks, fantasias e o tempo presente, também com projeções de vídeos e filmes ao fundo. A direção de arte e cena criam um clima tão curioso, que pensamos menos no crime e mais em como estão contando aquela história… ou qualquer história. O elenco é estelar; além do casal conhecido, temos Kate O’Flynn (Brexit, Wonderlust, Bridget Jones) e Samuel Anderson (Lady in the van, Loaded, Football Monologues) como detetives cobrindo o caso.

A HBO acertou em cheio ao trazer essa produção da Sky Atlantic para o mercado internacional. Novamente, se trata de um dos gêneros mais consumidos e produzidos no mundo, o de crime verdadeiro, que transita entre ficção e documentário nos dois formatos (filmes e séries), alimentando a curiosidade mórbida e ávida de seus espectadores. Todos os streamings têm produções do gênero aos montes, mas poucas são realmente interessantes. Aqui, a série ficcional traz ainda ao fim de cada episódio, reportagens da época cobrindo com verdade jornalística os atos criminosos de uma família disfuncional.

Samuel Anderson e Kate O'Flynn | Landscapers

Não espere encontrar uma série de crime comum com uma investigação padrão como as que conhecemos. As reconstituições são brilhantes e até as participações curtas do elenco de apoio são muito bem feitas. Também não espere gargalhadas, o humor entra na estranheza dos detalhes, nas interpretações impressionantes de Colman e Thewlis, principalmente, e nas ironias de olhares e diálogos. Tudo se equilibra bem, numa educação inglesa como as que vemos nos cinemas, da hipocrisia escancarada, da educação dos gestos discretos até, provavelmente, a explosão dos acontecimentos e possíveis surtos dos nossos heróis à medida que a trama agudiza.

Fico me perguntando se não está na hora das séries irem para a grande tela. A fotografia, a escolha dos planos, tudo aqui parece feito para os cinemas, inclusive a liberdade criativa na forma como contam a história, mesclando a fantasia que há em nossos protagonistas ao que seriam os fatos à luz do dia, o crime, os possíveis desfechos. É o retorno da ilusão que esperamos e precisamos encontrar quando entramos na sala escura, a experiência de viver aqueles minutos em suspensão e ter o deleite de conhecer uma história bem contada. Landscapers, tem tudo isso com a força de uma história verdadeira. Pra quem quer ver algo diferente, a série é, com certeza, uma boa aposta.

David Thewlis | Landscapers

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Na primeira crítica do ano, vamos com um assunto que parece batido e velho, mas que está todos os dias diante de nós: a humilhação pública. Conhecida como cultura do cancelamento, o tema do documentário 15 minutes of shame da HboMax, tem tudo a ver com o nosso cotidiano, com empatia, ignorância e respeito. Produzido por quem sabe muito sobre o assunto, Monica Lewinski.

15 minutes of shame, hbo max
O diretor Max Joseph e sua produtora, Monica Lewinski

Quando vivemos um período de crise, de forma geral, somos tomados por emoções e acabamos tomando decisões precipitadas. Parte delas são julgamentos sobre pessoas e fatos com base nas informações que recebemos em qualquer meio: julgamos por uma decisão errada, uma frase equivocada, uma ação precipitada, uma foto – como as que nós mesmos podemos tomar ou produzir a qualquer momento. O que nos diferencia de quem comete o erro? A fama, o dinheiro? Às vezes, quase nada, apenas a sorte de não estarmos sob os holofotes.

O documentário traz uma premissa que vale o filme inteiro: a ideia de que não sabemos a história de cada um e julgamos pelo que achamos ser verdade, baseado em nossos parâmetros subjetivos e no que a mídia diz, o que quase nunca significa a mesma coisa.

Além disso, o filme traz um panorama histórico e explicativo sobre a cultura do cancelamento com exemplos em todo o mundo. Comprovamos que o que vivemos é a repetição de um comportamento social antigo e, nem por isso, correto. Os ditames morais de cada período reforçam a prática e, em 2022, os apedrejamentos e banimentos continuam como os de séculos atrás, literal, metafórica e virtualmente. A evolução do desfile da vergonha em praça pública se tornou a fofoca de tabloides com os papparazzis atrás de novidades perniciosas sobre famosos décadas atrás. Hoje, com as tecnologias disponíveis, estes famosos são qualquer um: influencers, tiktokers, instagrammers, youtubers, subcelebridades, BBBs, podcasters, quando não um cidadão comum flagrado em uma situação delicada.

15 minutes of shame, hbo max
Na tradução: 15 minutos de vergonha

Fico me perguntando se o sucesso dos reality shows também não se trata disso, do nosso desejo em julgar o outro e ter ali um programa de TV “realista” que oferece esta possibilidade com pessoas interpretando a si mesmas. Lembremos dos atores de novelas que personificavam heróis e vilões e eram abordados na vida real, recebendo elogios e degradações públicas por uma obra ficcional. Hoje, a ficção não é suficiente. Os realities substituíram a fantasia se fantasiando, eles mesmos, de verdade. Sentados nos sofás das nossas salas de estar, somos os juízes detentores da moral e bons costumes do mundo e distinguimos os dignos de nosso apreço dos que merecem a execração pública. O que não podemos esquecer é: tudo isso é planejado. A humilhação e o banimento dos séculos XX e XXI são uma forma de fazer dinheiro pautada na opinião pública, conduzida através da apresentação de seus personagens e histórias na TV e nos algoritmos online. Nada é por acaso.

No filme, escutamos os especialistas de diversas áreas que trazem reflexões e aprofundam o tema, como a neurocientista que conta como nosso cérebro percebe um indivíduo, indicando que para isso, não basta ter conhecimento sobre ele, é preciso perceber suas emoções e ver seu rosto, conhecer suas expressões. Em tempos de internet, isso se torna supérfluo, especialmente no twitter, o que dá mais poder e menos inteligência às nossas verborragias sobre alguém que, em nosso subconsciente, sequer é entendido como humano. Outra pesquisadora traz a informação de que nosso cérebro libera dopamina ao descobrirmos que um malfeitor foi condenado por seus atos. Partindo disso, fica fácil relembrar tanto a força justa dos movimentos sociais que explodiram na internet da última década em busca de justiça, quanto quando achamos que um indivíduo fez algo errado e foi condenado em nossa praça pública virtual. É a mesma satisfação, mas não pelas mesmas razões. É Tiffany Watt Smith quem estuda o assunto e vai além, falando sobre o prazer que sentimos sobre, com o perdão da palavra, a desgraça alheia.

O filme é interessante e, mesmo tentando abarcar todas as possibilidades de vergonha pública sem necessidade, segue bem, nos fazendo pensar em nossos comportamentos, reações online e no mundo real, e em como somos manipulados todos os dias. É um filme que conversa bastante com O Dilema das Redes e Cidadão Quatro. Produções importantes para pensarmos no conteúdo que produzimos, na atenção que damos ao que nos chega online, em como somos vigiados, no que consumimos virtualmente e como isso nos afeta, nos faz construir linhas de pensamento que se retroalimentam, muitas vezes, alheios à nossa consciência. Somos inundados por uma gama de informações programadas com o objetivo de consolidar opiniões e promover engajamento, gerando lucro para quem as produz. Neste jogo, só nos resta sangue frio e um olhar mais atento ao que nos chega, com o cuidado de promover um engajamento pautado no cuidado e respeito ao outro além, claro, da veracidade do que absorvemos e propagamos. Saímos do documentário com uma reflexão sobre quem somos nestes tempos de manipulação cibernética de forma leve, atenta e com exemplos claros de pessoas que, possivelmente, nós também julgamos quando suas histórias foram à público. Estes são os pouco mais de 15 minutos de vergonha que valem o ingresso.

***

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A família Richthofen (da ficção)

Partindo de um crime que abalou o Brasil, a Amazon Prime Video aposta em um lançamento nacional duplo: A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais, dois pontos de vista da mesma história, nenhum deles verdadeiro. 

Tratar de verdade em uma narrativa ficcional é um tema polêmico. Tratar da verdade em 2021, não apenas abarca o mesmo adjetivo, como o torna controverso. A verdade anda cara em nossos dias. As fake news não são a novidade do século, mas tornaram-se mais perniciosas, preocupantes e moldaram muito do comportamento, política e economia de grandes nações nos últimos anos. O assunto é tão sério, que há novos estudos sobre o tema, também por força do avanço das redes sociais e seus impactos nos mais jovens.


Filme A menina que matou os pais, Amazon Prime Video

No Brasil, estamos familiarizados com a desinformação. Dentro da casa de cada brasileiro há uma ou mais pessoas que ouvem apenas um lado da história e acreditam que é esta a verdade dos fatos. Muitas vezes, sem sequer conhecer os fatos. Muitas vezes, sequer sabem se os fatos realmente os são. Em uma trajetória de informações distorcidas e falsas, sobre muito do que nos cerca, somos encaminhados através dos algoritmos por uma narrativa que vai se firmando e se pretendendo real. Em estudos de comunicação se dizia que se virou notícia, é real. Com tantos mecanismos de propagação de ideias e histórias, com a pseudo democracia da informação na internet, como fica essa afirmativa nos dias de hoje?

Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos
cartaz dos dois filmes sobre o caso Richthofen

O menino que matou meus pais e A menina que matou os pais se encaixam perfeitamente neste momento. Os filmes abrem com a informação de que são uma narrativa ficcional baseada em fatos reais, em especial, nos depoimentos dos principais assassinos, Daniel Cravinhos e Suzane Von Richthofen. Com essa premissa, é preciso estar atento e forte: nada do que for contado ali é, realmente, digno de crédito.

Como Elize Matsunaga, o caso Eloá, Eliza Samudio, o Maníaco do Parque e Daniela Perez, este é mais um caso que tomou o país. Suzane e Daniel planejaram e assassinaram os pais dela enquanto dormiam em sua casa. A intenção era viver sem eles, aproveitando a boa situação econômica da família. Quando chegamos aos depoimentos e investigações da época, o que sabemos é deste jogo de culpa, quando o casal rompe em uma troca de acusações. De vítimas, ficaram os pais mortos e o irmão de Suzane, Andreas, que carrega um passado e presente trágicos.

Imagens dos filmes A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais
Allan Souza Lima (Cristian Cravinhos), Carla Diaz (Suzane von Richthofen) e Leonardo Bittencourt (Daniel Cravinhos)

Entretanto, a curiosidade sobre grandes crimes é parte do que nos torna humanos. Talvez menos pela morbidez dos atos, mas por uma busca de compreensão, de entender se há alguma justiça nos crimes cometidos ou se é, apenas maldade, perversão, violência gratuita. Neste percurso, de nada os filmes nos servem. Juntos, eles são um jogo narrativo de inversão de papeis a partir do discurso dos depoimentos dos réus. Os vilões, responsáveis pelo crime, se alternam nos filmes e é apenas isso o que vemos.

Talvez o que mais decepcione seja justamente isso: os autores decidiram não contar as histórias que desejávamos tanto conhecer. Esta escolha de jogo de cena seria interessante como uma alternativa, algo como o que vemos em Corra Lola, Corra (Tom Tykwer, 1998). Ali, em um único filme de ficção, há diferentes pontos de vista para uma mesma história, nos dando um panorama mais completo do que estamos a conhecer. Nesta obra escrita por Raphael Montes e Ilana Casoy, e dirigida por Maurício Eça, deixamos escapar a veracidade dos fatos, a única coisa que realmente importa em uma história de crime verdadeiro. Em tempo: é importante ressaltar o respeito pelas escolhas da produção. Só é uma pena que se perca a oportunidade de abordar o entorno do crime, os julgamentos de fato, as histórias um pouco mais próximas da realidade.

Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos
Daniel Cravinhos e Suzane Von Richthofen

Ao sair dos filmes, ficamos com as mesmas questões com que entramos: o que de fato aconteceu? Por que aconteceu? O que fez com que eles saíssem de vítimas colaterais a suspeitos e então condenados pelos crimes? Por que não sabemos nada sobre as investigações? O que aconteceu a Andreas? Ao colocarem as famílias de classe média e classe alta em oposição, a única coisa que sabemos é sobre a polarização de velhas ideias e preconceitos, punindo não apenas os criminosos, mas suas classes e dando a entender que o interesse motivador do crime não partiu apenas de Daniel - no caso de O menino que matou meus pais - mas de toda sua família. Na versão que se quer oposta, se diz: a pobre menina rica não aguentou a pressão preconceituosa de seus familiares e, por não ligar para dinheiro (apenas porque o tinha em profusão), arquitetou sua solução final com o extermínio dos pais para viver melhor.

Talvez, de positivo, saiamos com a percepção de que ainda não encontramos uma boa forma de contar esta história, abrindo margem para novas produções, já que ainda há muito o que conhecer e encontramos um público ávido e receptivo à produção nacional. Com tantos streamings investindo em conteúdo brasileiro, esperamos o aquecimento do mercado audiovisual como uma nova retomada de produções no pós-pandemia, esta última que promete acabar ano que vem. Se isso tudo for verdade.

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Este é o segundo dia das mães que passamos na pandemia. Alguns não têm acesso direto às suas mães por conta do isolamento e lhes resta, com isso, uma ligação, um carinho enviado à distância e com muita saudade. Então, trago dicas, tentando ajudar nestes encontros, da forma que der.

dicas do que fazer, assistir, ler, no dia das mães. para você e sua mãe. dicas de como preparar um dia das mães incrível

Fiquei pensando em uma imagem que trouxesse um pouco as minhas ideias e comecei buscando famílias, fotos de mães, mas interrompi este fluxo, da mesma forma que não queria listar, ainda que perca um pouco do público, 10 filmes para ver com sua mãe. Se colocar no google, verá, provavelmente, uns 40 sites fazendo isso. Queria algo que nos aproximasse mais, que trouxesse um pouco de ternura, porque mãe é isso: amor incondicional e ternura.

Assim, encontrei flores. Acho que dar flores é um ato de ternura. É de amor e carinho, claro, mas a ternura acho que traz uma gentileza junto, ternura é ato, mais do que sentimento pra mim. Então, vamos lá. Pensei em formas que se traduzam nesta gentileza, no afago, no abraço que queremos dar em nossas mães, independentemente das circunstâncias. Querer é tudo o que temos. Segue a lista!


Envie uma carta

Quando eu morava no Rio, minha mãe me enviou umas duas ou três cartas. Era uma forma que ela havia encontrado para falar das coisas do coração. Eu sei, quase ninguém recebe cartas que não sejam contas ou propaganda e, por isso, acho que seria uma grande novidade. Também troquei cartas com uma amiga que mora na Europa e é uma experiência. Nos sentimos um pouco como os escritores dos séculos passados, trocando correspondências, aguardando e trabalhando a ansiedade do correio. É, aliás, uma forma saudável de lidar com este sentimento. Se puder, envie uma carta para sua mãe. Custa muito pouco e você pode expressar nas suas palavras o quanto ela é importante para você, pode contar uma história, uma piada, falar da vida. A carta íntima dá uma liberdade incrível, e receber uma, é delicioso. É a certeza de que aquela pessoa se interessa por nós. De repente, some à carta, umas pétalas de flor, imagina a surpresa dela ao abrir?


Envie uma cesta de café da manhã

Se estiver com um pouquinho de grana, não precisa muita, envie uma cesta de café da manhã. Eu amo cafés da manhã. Acho que é aquele momento em que o dia está começando e há uma promessa de coisa boa no ar. Imagine sua mãe acordando com a campainha e aquele carinho em forma de comidinhas especiais esperando por ela? Com sorte, alguém até acordou antes dela e deixou em cima da mesa aquele embrulho grande e cheio de quitutes. Com certeza, será memorável para todos. Eu acho uma delícia de presente, literalmente. 


Assistam a um filme juntos

Vou passar uma lista de filmes para ver no dias das mães, mas a ideia é ir além. Se você tiver a sorte de encontrar com sua mãe em segurança, se vocês estiverem no mesmo isolamento social, vale assistir  juntos, alguma coisa que ela vai gostar. Pode até ser sobre maternidade... minha mãe, particularmente, adora a temática. Se não puderem ver juntos, combinem de ver o mesmo filme à distância e depois se liguem. O que importa, no fim das contas, é a cumplicidade e compartilhar momentos, certo? Segue uma lista com filmes filmes e séries para ver no dia das mães:

filme um inverno em nova york (the kindness of strangers). dica para o dia das mães 2021.

Um inverno em Nova York

Um inverno em Nova York significa mais em seu título original: The kindness of strangers. A trama é sobre esta mãe que foge para Nova York com os filhos. Enquanto o marido abusivo é policial e procura por ela, ela segue no amparo de estranhos, por sorte e encontrando essa gentileza do título, o cuidado de pessoas que cruzam o seu caminho. É um drama bonito, com personagens complexos e que quase se desenrola rápido demais. Dá vontade de seguir acompanhando aqueles personagens por mais tempo. Na netflix.

Que horas ela volta?

O filme conta a história de Val (Regina Casé), uma empregada doméstica pernambucana que trabalha para uma família de classe alta em São Paulo. Há anos no serviço, Val mora onde trabalha, recebe a notícia de que sua filha Jéssica (Camila Márdila) irá à cidade prestar o vestibular e sua chegada rompe com o equilíbrio da casa. O filme promove um retrato fiel não apenas da classe alta, como um recorte amplificado das diferenças sociais e a delicada relação entre família, patrão e empregado. Para saber mais sobre porque ver este filme, clique aqui! No telecine play.

Fatma

Esta série recém-lançada traz muito para nós. A produção é turca e se passa em Istambul. Fatma é uma faxineira que busca desesperadamente por seu marido, desaparecido após sair da prisão. Ele cumpriu pena em lugar de outra pessoa e sua integridade é o que faz Fatma percorrer este purgatório para dizer a ele que seu filho morreu. Como faxineira, Fatma é invisível nos círculos que habita, como serviçal, passa despercebida nos lugares, o que acaba por se tornar uma vantagem, quando ela vem a cometer alguns crimes por raiva e vingança. Assisti a série toda de uma só vez, como não faço há muito tempo. Cada episódio constrói um degrau de conhecimento dela sobre seu marido, sua situação e quem são as pessoas que estão ao seu redor. Intrigante, excepcional e com grandes atuações. Na netflix.

Supermães (workin moms) é uma dica de série do que assistir no dia das mães.

Supermães

Esta série canadense sobre jovens mães traz um grupo de apoio de mães, em que cada uma precisa lidar com uma rotina atribulada entre família, trabalho, relacionamentos e individualidade. Humor ácido, grandes diálogos e muita vida real. Sendo ou não mãe, sendo ou não mulher, tem pra todo mundo. Catherine Reitman é Kate Foster a protagonista. Ela é também a criadora e roteirista, além de ser mãe, de forma que sabe do que está falando. Uma curiosidade bacana é que Philip Sternberg, o marido de Kate Foster é casado na vida real com Catherine. Não suficiente tudo o que a mulher faz, ela ainda foi ao Tedx Talks. Segue link com a palestra em português. Na netflix.

Kramer vs Kramer

Ano passado, em homenagem ao dia das mães, eu compartilhei a lista de filmes de minha mãe. Ali, há vários filmes que eu e ela (mais ainda) amamos. Um deles é Kramer vs Kramer que, sempre vi e sempre verei. Conto um pouco o porquê: Dustin Hoffman e Meryl Streep. Encontramos este casal em crise. Joanna Kramer decide sair de casa e deixa Ted Kramer com a tarefa de conciliar o trabalho, a vida doméstica e a educação do filho ainda criança. O filme joga com essa relação homem x mulher, poderes e deveres, relações machistas e readaptação. É muito mais complexo do que um drama de divórcio e muito mais interessante também. É um dos melhores filmes feitos e é muito despretensioso, o que o torna mais especial. E convenhamos: Meryl Streep e Dustin Hoffman juntos não poderiam fazer um filme ruim. Levou os principais prêmios do Oscar de 1980 e está no google play e na apple tv.


Um livro para o dia das mães

Eu mesma me coloquei nessa enrascada... um livro apenas... vou trazer então dois, para equilibrar nos pesos, sentimentos e diferenças. O primeiro é o que li no início deste ano.

um defeito de cor e o amor é fogo. duas dicas de livros para o dia das mães.

Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves
Aqui, temos a saga de uma criança que sai da África para ser adulta, mulher e viver no Brasil. Em Salvador. Isso no que poderia ser o fim da escravidão mas era, ainda, o início dos movimentos abolicionistas. O livro é uma saga. É para ler com calma, é extenso. No meu caso, funcionou como uma série. Não senti dificuldade em maratonar suas mais de novecentas páginas e, mesmo parecendo um desafio quando comecei, li vorazmente. Dei uma olhada nos outros leitores blogueiros e, para a minha felicidade, tivemos impressões semelhantes. O livro é bem escrito, conta por uma perspectiva interessante a história de uma mulher que constrói sua vida com todas as adversidade possíveis. A pesquisa, com certeza, deve ter sido imensa, para dar conta dos detalhes culturais históricos entre os países. Dê para a sua mãe se ela tiver o hábito da leitura. Se não tiver, segue outra dica para ajudar a construí-lo:

O Amor é Fogo, de Nora Ephron

O livro virou o filme A difícil arte de amar. Novamente com Meryl Streep contracenando agora com Jack Nicholson, conta um período da vida da própria autora. Meio autobiográfico, meio romance, a narrativa é tão ou mais deliciosa do que o filme que a escritora roteiriza. O livro conta uma história agridoce sobre um casamento, do início ao que pode ser o seu fim, com uma intimidade de diálogos que impressiona. Nora é uma contadora nata e ela tem um humor peculiar, que nos faz rir como cúmplices de uma história nem sempre feliz. Com pouco menos de 200 páginas, dá pra ler numa sentada. Certamente sua mãe vai adorar.


Marque presença

A gente sabe que a vida não anda muito fácil. Se a sua mãe não estiver acessível para você, tenha certeza: ela está com saudades. Se um encontro físico não for possível, faça o que estiver a seu alcance: uma mensagem carinhosa, uma ligação, uma chamada de vídeo. Se puder, mande flores, um chocolatezinho ou alguma das opções que listei mais acima.

Se não puder, mande carinho, faça contato. Faça questão. Se a sua mãe for mãe mesmo, o que ela mais vai amar é o gesto. Pode ser um aceno da porta do prédio ou da casa. Pode ser um "só passei para dizer um oi de longe". O que importa é o ato. O carinho, a ternura. Tudo o que, com sorte, ela já fez e faz tanto por você.

***

Espero, de coração, ter inspirado um pouquinho a sua semana e que você consiga preparar alguma coisa legal para a sua mãe ou para as suas mães, se você tiver a sorte de ter mais de uma. Para me ajudar a manter este blog delicioso, dá uma passada no buy me a coffee! Cada cafezinho faz uma diferença danada e me estimula a seguir produzindo conteúdo para todos nós 💘

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Poderia ser apenas mais uma produção de crime e violência contra a mulher, como as que abundam nos streamings dos últimos anos, na ficção e no documentário. Entretanto, a série ultrapassa o 'estereótipo' e ganha o brilhantismo das grandes produções que a HBO traz de tempos em tempos. Necessário e intrigante.

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Cultura e tradição

Há uma tradição na noite de Natal na Islândia, em que as famílias se reúnem para trocar livros e contar histórias em torno das lareiras. O país é um dos maiores consumidores de livros e, em 2003, foi nomeado pela Unesco como a capital literária do mundo. Como se não bastasse, é um dos mais pacíficos também e, talvez por isso, tenham tanto interesse e curiosidade por histórias policiais e de horror.

Por outro lado, fora desta zona quase mágica de conforto, segurança e qualidade de vida, encontramos um volume expressivo de produções audiovisuais que retomam o tema da violência doméstica e das diversas violações e abusos sexuais no Brasil, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Ao colher dados estatísticos destes países, encontramos oposição aos números da ilha do gelo e então entendemos que estas produções são, na verdade, alertas de um comportamento doentio, repetitivo e, infelizmente, cultural destas nações.

Dentre todas, uma série que se destaca por um conjunto de fatores é I may destroy you. Dirigida, escrita e protagonizada por Michaela Coel e lançada em 2020 pela HBO, a série de 12 episódios conta a história que a própria artista viveu, ao ser drogada e estuprada em um bar em Londres. A Inglaterra acumula dados vergonhosos deste tipo de violência, associados à ineficiência policial em resolver as denúncias. Por lá, 85 mil mulheres e 12 mil homens sofrem algum atentado sexual violento por ano.

i may destroy you - crítica
Michaela Coel e Marouane Zotti | I may destroy you

Por que assistir

Não apenas por ser um tema que nos marca e ameaça todos os dias - todas e todos nós conhecemos alguém que já viveu ou vive alguma experiência de relações abusivas, estupro, assédio ou atentado sexual violento, quando não somos nós as próprias vítimas - como por ser uma grande e sensível produção.

A construção da narrativa provoca corações e mentes mais conservadoras, as mesmas que lutamos para trazer alguma clareza com as afirmativas óbvias de que ela não teve culpa por ter bebido, por estar sozinha ou acompanhada, por estar com roupa curta, por sair à noite, por viver. A série nos estimula a pensar mais sem se impor didaticamente, especialmente quando traz uma personagem com múltiplas camadas, dando uma humanidade não apenas a ela, como a seus coadjuvantes. Os amigos de Arabella (Michaela Coel) ganham peso e trazem também histórias que ilustram com nuances o que é possível viver em torno do tema.

Eles são como nós, como ela. Vivem o dia a dia em uma grande cidade, pagam contas, trabalham, se relacionam e tentam se proteger. Nos tempos de redes sociais e paqueras através de aplicativos de relacionamentos, há uma zona cinzenta de intimidade e permissividade entre os corpos que pode ser amplamente debatida e que também aparece aqui, interligada com a insegurança que estes encontros com desconhecidos provocam.  

As diversas histórias por que vivem os personagens nos deixam atônitos e com o coração na mão, porque nos ganham na empatia, no reconhecimento e na solidariedade. Nos identificamos com muito do que acontece ali e nos vemos - e já vivemos - situações similares, que nos fazem repensar as nossas próprias relações de amor e amizade e histórias.

por que assistir I may destroy you
Michaela Coel e Weruche Opia | I may destroy you

Estupro e permissividade

Há quem ache que se precisa explicar e justificar sobre o tema. O estupro, como sabemos, é um crime de vergonha não por quem comete, mas por quem sofre. Instituiu-se uma ideia na História do Mundo de que - especialmente tratando-se de mulheres - elas têm sempre a culpa por terem sofrido algum atentado ou terem sido estupradas. O dito é tão comum que sai arrastado com cansaço pela digitação no teclado, como se isso fosse mais óbvio do que o resultado de 2 + 2.

O que é preciso expor sempre e repetidas vezes é que não há permissão de nenhum tipo quando há estupro. É como uma antítese, são conceitos que se excluem, habitam o mundo da alteridade se aparecem juntos. Como os pólos de repulsa dos ímãs. 

I may destroy you desenha isso com uma sofisticação que quase nos tira lágrimas - não pelos crimes, mas pela forma plena e bonita ao tratar do tema. São diversos os mecanismos de violência, são muitas as sutilezas e brutalidades e por isso a necessidade de proteção. Por um gesto de descuido, como não levar a amiga para a casa, algo se perde no caminho. E a série traz isso e outros grandes momentos que não culpabilizam ninguém além dos agressores - como deve ser - e até lhes garante alguma humanidade, onde isso é possível. É um risco acertado, se pensarmos que a monstruosidade pode habitar em todos nós em alguma medida.

Crítica de I may destroy you, nova série da HBO
Paapa Essiedu | I may destroy you

Beleza no caos

Para além das variadas condições da violência expostas de tal forma a dirimir as dúvidas de como ela se manifesta, a série traz um panorama vivo do hoje, quando se fala em cultura urbana e comportamento.

A seleção do elenco foi excepcional. Da maioria negra, voltamos, como em Insecure (também lançada pela HBO), a trazer qualidade na diversidade, dando voz e vez a quem é de direito, com as questões de cor e gênero. A tecnologia permeia os assuntos, assim como o comportamento nas redes sociais, do uso excessivo ao útil. O ganhar a vida também. O início das carreiras, o reconhecimento e a busca por um lugar ao sol, vencendo preconceitos e estereótipos ou aprendendo a conviver com eles sem reforçar ou renegar as próprias origens. 

Ainda, há os desafios em se relacionar sob o signo do hibridismo e da fluidez que dita as regras da década. A intimidade - construção que requer tempo para firmar o alicerce que é conhecer o outro - perde espaço para o imediatismo, evoluindo de uma catarse eventual, como o Carnaval, para o querer muito todos os dias, recebendo quase nada em retorno, como um vício que corrói seu usuário. O vazio se vê no olhar de Kwane (Paapa Essiedu), um dos - grandes - atores da série, que se encontra com outros corpos, retornando sempre com a espera de uma nova aventura, ocupando o espaço de algo mais consistente que levaria outro tempo para germinar.

I may destroy you não força o tom, mesmo com o peso do tema. É preciso ter atenção com os possíveis gatilhos, entretanto. Quem viveu ou vive situações como a de Michaela e seus amigos (quase todos nós, arrisco dizer, em maior ou menor escala) e tem isso ainda cicatrizando, precisa tomar cuidado. A série dá a tônica de seus temas com a velocidade do cotidiano do adulto entre os vinte e muitos e trinta e poucos anos em qualquer cidade grande ocidental. Entre os dribles para escapar das violências e o gosto agridoce do crescer, vale aproveitar as cores de uma fotografia que ressalta os tons, como uma música que emociona, entristece e até enraivece, mas que não queremos que pare de tocar. 

Enquanto não vivemos a vida pacífica dos crimes de ficção literária da Islândia, seguiremos com produções como esta, que trazem histórias reais e atuais, estimulam o debate e alertam para os infelizes perigos que nos rodeiam, dentro e fora de casa. Neste caso, sem esquecer o entretenimento e a grandiosidade de uma produção exemplar. Que rode o mundo. 
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Sabe aquela história de que quando a gente faz o que gosta, não vemos o tempo passar? É um pouco o que acontece com o Vozes da Mata, uma expedição - documentário entre o Rio de Janeiro e o Pantanal.

Documentário Vozes da Mata, expedição da Orquestra Maré do Amanhã ao Pantanal. Aldeia Urbana Marçal de Souza
Vozes da Mata | Aldeia Urbana Marçal de Souza | foto: Marco Brendon

Um projeto com futuro

Realizado a várias mãos e com muito cuidado, Vozes da Mata é uma expedição dos músicos da Orquestra Maré do Amanhã à região do Pantanal, para levar música e participar do intercâmbio cultural entre as duas regiões do país. Além do que já tocam, há uma sinfonia em preparação, sendo composta por Francis Hime. A ideia é chamar atenção para o bioma que pouco aparece nos noticiários e que sofreu bastante no início do ano (e da pandemia) com as queimadas. Perdemos quase 30% da vegetação nativa, além de machucar e matar vários animais. 

Juntamente com a expedição, estamos produzindo um documentário sensível e atento para levar a informação e a arte adiante. Lígia Feliciano e Lygia Barbosa são as diretoras, duas mulheres retadas que tive a sorte e honra de conhecer. Aliás, neste projeto só tem fera. A equipe da Orquestra, músicos jovens, experientes e sensíveis são atentos ao que se passa, com uma visão crítica da vida. O projeto  musical existe há mais de dez anos e forma 3800 jovens entre os que estão na Orquestra e aqueles de escolas públicas do complexo de favelas da Maré. Poderia passar um tempo só falando deles aqui, da importância de seu trabalho para nós e para eles próprios, em como isso também converte uma realidade de esquecimento em arte e transforma vidas. 

vozes da mata, uma expedição e um documentário que leva música ao Pantanal.
Vozes da Mata | um projeto coletivo
A realização conta com o desenvolvimento da Inspirartes e da Escarlate, a produtora que toca o documentário e onde eu trabalho atuamente. A Escarlate é uma empresa enxuta e com grande potencial, uma visão de negócios importante e muita mulher talentosa, um panorama diferente ao que estamos acostumados na área. Não suficiente esse elenco, contamos com a curadoria ambiental da WWF-Brasil. 

Como estamos em pandemia, conseguimos montar o conceito e a pré-produção de tudo à distância, entre mil chamadas telefônicas e reuniões online. Pessoas no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro se juntaram, tornando tudo verdadeiramente brasileiro. Esta confluência de desejos, observações e conversas garantiram um produto híbrido e rico em referências e experiências. 

Pantanal, Orquestra Maré do Amanhã
Vozes da Mata | Orquestra Maré do Amanhã | foto: Marco Brendon

Documentário como aprendizado

Neste complexo, eu tive a sorte de fazer parte da pesquisa para o desenvolvimento do documentário. Trocamos muitas ideias entre equipe técnica e produtora, pensamos, estudamos. Coube a mim entrevistar a maior parte dos personagens e um mundo se abriu. Conversar com essas pessoas, ter acesso às suas vidas, compartilhar histórias tem sido não só inspirador, como motivador. Ficar até 1h, 2h da manhã 'entrevistando' - porque sempre foi mais uma conversa do que qualquer outra coisa - expandiu meus horizontes e me trouxe para o que eu sempre gostei de fazer na vida: aprender.

Os documentários garantem esses momentos. Aqueles mais sensíveis que buscam encontrar, antes de reafirmar alguma coisa, me movem e são parte da minha formação acadêmica e de vida. O Vozes possibilita isso de forma exponencial, quando cruzamos cidades conhecidas como Rio de Janeiro e Campo Grande e outras que me são novas, como Ladário, Aquidauana e Corumbá. Comunidades e Orquestras Indígenas, Aldeias Urbanas, frações do Brasil que não vemos todos os dias e pessoas, sempre pessoas reafirmando suas culturas e origens - as mais nacionais possíveis, mostram que nossa terra é infinita, plural, resistente e resiliente. Não apenas isso, mas o retorno ao audiovisual com uma pegada mais criativa, buscando conteúdo e forma em conjunto, com uma equipe técnica e artística experiente e conceituada. Quase um presente, um trabalho desses.

Expedição de reconhecimento dos povos originários ao Pantanal pela Orquestra Maré do Amanhã
Vozes da Mata | integração e re-conhecimento | foto: Marco Brendon
O Vozes da Mata segue em produção neste momento, as equipes do filme, da Orquestra e as locais no estado pantaneiro estão juntas, fazendo história. E esta é a primeira etapa, no Mato Grosso do Sul. Após a temporada de chuvas, investiremos para o Mato Grosso e quem sabe o que o futuro nos aguarda. 

Para acompanhar o dia a dia deste projeto único e que tomará o país em breve, siga o Vozes da Mata no instagram e fique atento. Tem muita gente boa participando e querendo participar. Vamos dar voz a quem e o que importa. Vamos juntos.

***

Para seguirmos compartilhando informações e conhecimento, me ajuda com um cafezinho? Custa quase nada e faz uma diferença danada na vida! ;)
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Documentário parece um termo pesado que costumava estar associado a filme chato, como aqueles que passavam nas tardes de domingo, com bichos correndo pela África. Enquanto ainda acho que esses têm o seu valor, vim falar da outra categoria, que nos prende até mais do que um filme de ficção. Vamos conversar sobre o novo documentário da Netflix, Os Segredos de Saqqara para entender melhor este tipo de filme e porque é tão importante. E legal!

crítica do filme Os Segredos de Saqqara (2020), o novo documentário da Netflix
Segredos de Saqqara | Netflix

Acabei de assistir a Os segredos de Saqqara, o documentário mais novo da Netflix, lançado neste 2020. Ele conta a história de uma equipe de arqueólogos egípcios que estão escavando a região de Saqqara, um dos sítios arqueológicos mais antigos do mundo, pertinho do Cairo, no Egito. O que podem descobrir ali, abrirá margem para ampliar a história do Egito e, portanto, do mundo como conhecemos. Mas, aí você me pergunta: por que não fizeram uma ficção sobre essa história? Não seria melhor?

O documentário é um gênero cinematográfico?

Não. O documentário não é um gênero como a comédia, o romance, o drama. Assim como 'filme estrangeiro', 'alternativo' ou 'cinema nacional' não são gêneros. O documentário é uma forma de fazer filmes que busca assuntos pautados em fatos, em situações que estão ocorrendo ou ocorreram em nossas vidas. Essa é uma definição muito ampla e que, se formos pensar, também vale para a ficção.
 
A discussão sobre o que é documentário esbarra nas zonas cinzentas da produção audiovisual. Por isso, hoje é mais comum se tratar de filme de ficção e não-ficção. Na minha humilde opinião de não acadêmica, dá para seguir das duas maneiras. Hoje, claramente entendemos se o que estamos vendo é um documentário ou um filme de ficção. Como assim?

escavação na tumba de Wahtye em Saqqara. Documentário Os Segredos de Saqqara.
Os Segredos de Saqqara | Escavação na tumba de Wahtye 
A linguagem é outra. O documentário busca respostas, está atrás de entender sobre um assunto, de conhecer, questionar. Os filmes de ficção partem de um assunto e elaboram uma narrativa sobre ele, um conceito fechado, para construir a história a partir dali. O documentário procura as histórias. Talvez as diferenças devam partir daí. 

Documentários relevantes | A crítica de Os Segredos de Saqqara

Vamos partir do nosso exemplo mais atual: Os segredos de Saqqara. Um filme feito no outro continente, a mais de um oceano de distância, no Egito. Sobre uma escavação arqueológica que busca resquícios da civilização local há mais de 4000 anos. Por que isso é importante para nós, brasileiros (ou humanos, que seja)?

Saber um pouco sobre uma escavação no Egito pode não ter nenhuma relação direta com a gente, se pensarmos rapidamente. Mas, considerando que o Egito é um dos berços da civilização como conhecemos hoje, criamos uma relação. Saber como as pessoas se comportavam, que ferramentas usavam, como se comunicavam, como era a ciência naquela época, contribui para criamos uma linha evolutiva de todos esses aspectos, de nós mesmos. Se pensarmos que só sabemos o que sabemos hoje, graças a pesquisadores, escavadores, arqueológos, antropólogos como estes, conseguimos imaginar assim, que em seu trabalho, eles encontram a nossa História no meio das areias e sob muita terra.  

os antropológos e arqueólogos de Saqqara
Os Segredos de Saqqara | Arqueológos e antropólogos egípcios em Saqqara
Então, a equipe de História e Ciência com seus escavadores chega a Saqqara com o objetivo de encontrar, a partir da existência das pirâmides no entorno, o que havia de civilização por ali. Com isso, o que eles buscam é puramente conhecimento. E, o mais surpreendente, é que eles encontram muito mais. Eles encontram um novo braço da História. A tumba de Saqqara tem talvez 4400 anos e uma família inteira dentro, os Wahtye. Um registro raríssimo e precioso para a nossa vida. Por terem rituais fúnebres e uma crença fértil de vida após a morte, aqueles egípcios deixaram inúmeros registros em hieróglifos - os desenhos antigos talhados nas paredes - contando parte de sua história.

Enquanto escavavam em um prazo curto - a seis semanas do Ramadã, quando perderiam a receita para manter o projeto, encontraram muito mais artefatos e História além daquela da família Wahtye. E assim, não só conhecemos um pouco mais sobre aquela civilização, como passamos a dar outra importância à busca por conhecimento destes grandes profissionais. Do escavador sem formação acadêmica, mas, com um olhar clínico e apurado ao doutor em antropologia, antropozoologia, egiptologia, arqueologia. Estão todos ali buscando aprender.

Assim, documentários são sim, importantes. Se forem como este então, são perfeitos, porque trazem as emoções das descobertas, o cronograma que nos deixa tensos à medida que o tempo vai se tornando escasso, as relações entre os colegas de trabalho, o bem comum. É um filme sobre relações humanas no fim das contas e, mesmo que não seja o nosso objeto particular de estudo, o filme nos fisga na narrativa, em uma história que não vemos ou ouvimos falar todos os dias. Desta forma, o documentário é, também, um filme de entretenimento.

Crítica de Os Segredos de Saqqara, Netflix
Os Segredos de Saqqara | A tumba de Wahtye 
E se buscamos uma análise de estrutura narrativa, encontraremos protagonistas, personagens secundários, jornadas, aventura. Os Segredos de Saqqara é um filme de revelações e a cada novo momento, ficamos abismados e quase viciados esperando a seguinte descoberta e aguardando as análises sobre o que já foi encontrado. Escavar e achar quase intacta uma tumba egípcia de 4000 anos é um presente para nós e isso fica evidente nos olhares surpresos de toda a equipe, de qualquer hierarquia ali dentro. É um filme especial.

Documentário é filme?

Essa é uma pergunta que costuma aparecer de outra maneira, como: é filme ou documentário? Quando vou ao cinema assistir um documentário, um amigo sempre comenta: ah, achei que fosse ver um filme ou ainda, documentário não é filme. Esta premissa parte da mesma da introdução. Documentário é cinema, documentário é filme. 

As formas de fazer ficção e não-ficção são análogas; ambas envolvem câmeras, equipes técnicas, arte, criatividade, roteiro, projeto, são feitos da mesma matéria. A diferença é a premissa: enquanto a ficção parte da história fechada, o documentário busca uma história para contar. 

os segredos de saqqara, egito.
Os Segredos de Saqqara | Outras descobertas do sítio
Com isso sim, Documentários são filmes, sempre - ou séries de tv, como a que esperamos que fosse, Os Segredos de Saqqara. Claramente, o filme nos deixa presos até o desfecho, com a vontade de continuar aquela expedição que encontrará mais surpresas. Este é apenas um dos grandes documentários lançados esse ano. Vale lembrar que começamos 2020 revendo os filmes do Oscar, Honeyland, For Sama, The Cave e outro dia choramos e nos alegramos com Professor Polvo e nos indignamos com One Child Nation. Ficamos atentos e tensos com O Dilema das Redes e com outro importante que acompanha a temática, expandido para a política, Privacidade Hackeada. 

Documentários são portas para uma nova perspectiva ou para ilustrar algum acontecimento. Nos trazem entusiasmo, nos fazem aprender ou relembrar alguma situação ou fato. Nos encantam com histórias brilhantes, como as que Eduardo Coutinho costumava contar. São tão cinema como qualquer ficção. Muitas vezes, são até melhores.  


Gostou do trailer? Invista nesse documentário e se gosta de não-ficção, tem um festival ótimo no país que segue online neste ano de pandemia, o É Tudo Verdade. Vale a pesquisa!

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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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