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Café: extra-forte

Hoje eu cheguei com uma ideia. É uma proposta revolucionária e coletiva, uma tentativa de refrescar a mente e o corpo. Não sou coach, mas garanto que este desafio vai ajudar a todos nós e transformará um pouquinho nossa vida, se conseguirmos cumpri-lo. Vem comigo! 

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Eu ia postar apenas no instagram, mas comecei a escrever e as ideias fluíram tanto, que resolvi trazer para cá também, assim tenho mais tempo e espaço para desenvolver e respirar. O instagram tem o acesso direto ao debate, então, vale passar lá para participar mais intensamente na troca de ideias. No fim das contas, os dois se complementam. Vamos ao que interessa:

Eu sou a moça da foto abaixo, como é de se esperar. Ela foi tirada em setembro de 2018, quando viajei com uma amiga para a Chapada Diamantina. Naquela época, a gente nem pensava tanto no tempo que passávamos nas redes sociais, porque tínhamos outras redes para deitar, trilhas para caminhar, praias para ir, ambientes e natureza a descobrir. Com a pandemia, tudo mudou.

Ficamos um tempo sem nada disso, apenas com estas redes sociais que melhoraram e, esculhambaram também, a vida de muita gente. Chegou o dilema das redes para relembrar o que muitos já sabem e alertar a turma mais distraída. O fato é que o mundo virtual é realmente complexo, com benefícios e riscos. Mas, no fim das contas, é virtual.

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Mucugê - Chapada Diamantina | Bahia
Neste 2020, enquanto procurava trabalho, insisti em desenvolver o projeto do Café: extraforte: instagram, facebook, estratégia de conteúdo e marketing para dar mais visibilidade ao que produzo aqui. Adoro escrever, falar sobre literatura e cinema, é tudo a minha praia. Como as praias são a minha praia, as chapadas, as viagens para qualquer canto e até para lugar nenhum, como quando passeamos por nossa cidade, bairro, casa.

Com a coisa toda melhorando aos poucos, entre o controle, o cuidado e o hábito de viver de máscara, começamos a sair de casa e as praias abriram. Os parques abriram. A primavera chegou. Agora, proponho que tentemos reduzir um pouco o uso do celular também, das redes sociais e que voltemos a construir a convivência cara a cara, sem telas e lives. É uma proposta besta, mas é também um desafio de tremenda ousadia. E não será fácil.

Eu já tento ficar fora das redes um dia na semana, mas ainda é só tentativa, acabo me distraindo com uma notificação e entro, nem que seja para fazer a parte 'trabalho', que é responder a quem me acompanha e compartilha dos interesses por este Café. Gosto de compartilhar fotos, filmes, dicas, livros. Adoro discutir estes temas e amo quando alguém me manda um comentário, uma mensagem, porque é gente disposta a uma conversa com um cafezinho, um chá, uma troca de ideias, influências e reflexões. Mas, mesmo amando tudo isso, a coluna não aguenta, o corpo cansa, a família se distancia e criamos esse universo todo de relações a distância, com encontros cada vez mais raros.

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Jericoacoara | Ceará
As fotos que posto aqui são de provocação mesmo, para mim e para você. Para relembrar os lugares por que passei, as pessoas que conheci, as experiências que tive enquanto não estava com a cara na tela, mesmo eu tendo tirado ou aparecido nas fotos. O objetivo era mais do registro para a memória do que uma confirmação social por meio das redes. O que não me imiscui de participar daquele mundo e também gostar quando alguém comenta uma nova postagem. Quem nunca?

Mas, novamente, eram tempos de passeio, de andar nas dunas, de conhecer pessoas, caminhar por trilhas, subir montes, mergulhar nas águas geladas de uma piscina natural ou naquelas morninhas que só as praias do nordeste oferecem. De andar pelas ruas de uma cidade nova para nossos olhares e se perder em um muro diferente, em uma escultura pendurada no céu ou de provocar a si mesmo em pequenos desafios e novas refeições. Para tudo isso, não dá para usar o celular. Para conversar de verdade com um amigo ou amiga em uma cafeteria, não dá para ter o aparelho do lado com a tela virada pra cima, como se estivéssemos sempre à espera de algo mais importante do que o presente. E, de novo, eu também estive nesse lugar, nessa ansiedade e busca por retornos.

Por isso, proponho o desafio para mim e para você, que venha comigo devagar e tranquilo, mesmo com essa ideia simples e que sim, será revolucionária. Vamos ficar um dia sem redes sociais?

Um dia por semana, para ser mais precisa. Um dia sem checar feed de nenhum tipo: facebook, instagram, twitter, youtube, happn, tinder, tiktok e sei lá mais quantas. Sem checar notícias também, naquela ansiedade por saber mais sobre os números da pandemia - vivi assim um tempo - à espera de dias melhores. Vamos usar o whatsapp com parcimônia, sem checar grupos. As mensagens importantes virão e serão respondidas, como as urgências, em ligações telefônicas. Não me parece uma ideia insensata. O que acha?

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Terras Altas (Highlands) | Escócia 
Vai ser desconfortável, vai gerar um pouquinho de ansiedade no início, mas preceberemos como usaremos nosso tempo, este tempo que 'perdemos' escolhendo filtros, compartilhando memes, conversando 'nada', checando feed e, literalmente, vendo a vida virtual do outro. Vamos nos voltar aos encontros ao vivo e a cores, com segurança e responsabilidade. Vamos à praia, aos parques, caminhar por aí. Está difícil viajar, então marquemos um cafezinho, pode ser em casa mesmo, com um amigo, para botar o papo em dia, pode ser no play do prédio, na porta de casa, se o medo maior for da pandemia.

Que se faça ao vivo o que tem sido feito por internet. Que deixe mais tempo para as plantas, os livros, os filmes, as refeições em família. Que se tente preparar um prato novo ou se busque aquele caminho não costumeiro. Que se dê uma volta, sozinho mesmo, pela cidade. Vai ser bem diferente. Desative as notificações - por um dia. Um dia por semana.

Será que conseguiremos? É pedir demais? 
Como vivíamos antes das redes sociais? E do celular? E, arrisco dizer, da internet?

Um dia por semana sem redes sociais.
Vamos juntos? Testa e me conta como foi? Pode ser aqui mesmo nos comentários ou no próprio instagram. Farei conteúdos periódicos por lá também, para não perdermos a ideia de vista.
Me conta. Vai ser lindo.

***

Vamos manter esse Café funcionando a todo vapor? Vem comigo! Com muito pouco, já faz uma diferença danada =)
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A primavera começa oficialmente hoje, dia 22 de setembro. Para comemorar a estação mais bonita do ano, segue 12 dicas de filmes e séries, experiências de viagens, livros imperdíveis para ler em 2020 e coisas para fazer em casa, para fazer jus a este blog delicioso.


dicas-filmes-series-viagens

Esta é a minha estação favorita da vida. O que acontece na primavera é o desabrochar da vida como um todo, as flores e folhas ressurgem com a força da renovação, como se o ano começasse agora, com mais luz, dias um pouquinho mais longos, as brisas começando a amornar. Há um brilho diferente e um ar de coisa boa, de vontade de passear, de viver novas experiências e de reencontrar os amigos. A lista que vem aqui é em busca deste momento, entre os livros, filmes e séries imperdíveis para ler e assistir em 2020; lugares para conhecer e, estando em casa, algumas dicas para garantir uma temporada agradável.


Livros

O que você não pode deixar de ler em 2020

para-ler-em-2020
Livros para ler nesta primavera

Orgulho e Preconceito, Jane Austen. 

Indiquei outro dia, o filme Orgulho e Preconceito (2005), de Joe Wright no instagram do Café. O filme é magnífico, um romance bem construído para o cinema, baseado no livro homônimo de Jane Austen, um dos melhores que já li. Em Jane, o romance é mais aprofundado e a sua escrita é um pouco mais mordaz do que aparenta no filme. É como se Lizzie falasse pela autora, que também não acreditava em um casamento sem amor - e isso no século dezenove da Inglaterra rural. O texto ultrapassa a 'literatura de gênero' e é uma das obras mais importantes daquele país, além de ser uma delícia de ler. Leia o livro antes de ver o filme, se possível.


O Conto de Aia, Margaret Atwood.

Só agora atentei que minha seleção contempla livros que se tornaram filmes ou séries, mas não foi intencional. Li O Conto de Aia antes de saber da produção da série do Hulu e de toda a sua construção narrativa, de forma que construí em mim as imagens destas aias em uma distopia cruel e realista demais para chamarmos de ficção. As aias deste conto (que é um romance) são as mulheres utulizadas como reprodutoras em uma sociedade que se converteu a um absolutismo religioso cercado de ignorância e medo - termos que costumam andar juntos. Entre a revolta dos que parecem mais esclarecidos e um jogo de poder político e social opressor, o livro é violento, mas fundamental. A série traz a 'materialização' da obra escrita, trazendo ao grande público uma história importante, ainda que fictícia. De narrativa fácil e empolgante, oscilamos entre a dor das cenas de sofrimento das mulheres em nossas mentes e de suas revoluções, que nos instigam a continuar. Leia o livro e veja a série. Cenas fortes.


Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum.

Vamos chegar um pouco mais perto da Amazônia em uma história nacional contada com maestria por um grande autor. É o livro mais curto dos três e traz um misticismo de uma região que nós, mesmo brasileiros, conhecemos pouco. Uma história de retorno à terra natal, reencontro familiar e histórias intricadas e obscuras, que nos deixam sem respirar até o fim. Escrevi sobre o livro e o filme de Guilherme Coelho, com Dira Paes e Daniel de Oliveira depois de ter conversado com o diretor. A crítica segue aqui e vale o investimento. 


Viagens

Três experiências imperdíveis em cidades maravilhosas para este ano

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Experiências para a Primavera de 2020 | Budapeste

Orla do rio Danúbio, Budapeste

Alguns anos atrás fui à Europa com uma grande amiga. Escolhemos uma parte do leste do continente e desembarcamos em Budapeste. Essa cidade tomou meu coração e todas as outras por que passamos - Praga, Leipzig, Dresden, Berlim, Bratislava, Viena - pareceram menos importantes, mesmo sendo incríveis. Budapeste tem um 'ar diferente', como se andássemos sobre as páginas de um romance histórico. Caminhamos pela orla do Rio Danúbio, esta que vocês veem na foto e até ali é tudo apaixonante. De um lado da cidade, Buda, histórica com monumentos que remontam à idade média e do outro, atravessando a ponte das correntes, Peste, onde se destaca o Parlamento e há uma aura mais moderna, do império austro-húngaro. Um passeio para inaugurar a nossa primavera é acompanhar o outono deles, o clima é agradável e ainda distante do inverno brutal. Andar pela orla de Peste, próximo ao Parlamento é ver parte da história do mundo, no que este povo tão resiliente passou (os judeus eram empurrados para o rio na ocupação da segunda guerra mundial) e como eles se reergueram depois de tantos conflitos. Um passeio ao ar livre em uma cidade linda e tão complexa, é tudo o que precisamos nessa primavera.


Parque Lage, Rio de Janeiro

Voltando ao Brasil, desembarquemos na cidade que morei por doze anos, o Rio de Janeiro. Além dos passeios obrigatórios de quem visita a cidade - Jardim Botânico, Corcovado e Cristo, Pão de Açúcar, Orla de Copacabana de dia e Lapa à noite - vale visitar o vizinho do Jardim Botânico, o Parque Lage. Antes um engenho de cana de açúcar, posterior casa de aristocratas, o Parque Lage é hoje um parque público, tombado como patrimônio histórico e cultural da cidade. Menor do que seu vizinho imponente, este espaço abriga ampla vegetação, aleias para passeios sob a sombra de árvores, uma respeitada Escola de Artes Visuais, uma cafeteria e é palco de eventos de toda ordem: festas fechadas e abertas ao público, eventos de cinema e feiras livres de artes, comidas e bebidas artesanais. Um dos melhores passeios que o Rio oferece, de graça e para todas as idades. Ar puro, natureza em plena primavera e arte acessível. Para que mais?


Praia de Jaguaribe, Salvador

Voltei à minha cidade maravilhosa em março e, com toda a mudança de vida e pandemia, estou prestes a retornar à minha praia do coração, Jaguaribe (as praias foram reabertas esta semana apenas, depois de mais de cinco meses de espera, cautela e coração apertado). Jaguaribe não é a praia mais famosa da cidade, nem é a que sai nos cartões postais ou é listada como passeio obrigatório. Entretanto é, para mim, a mais deliciosa. Sua faixa de areia é extensa, na maré baixa é tranquila e na alta, com atenção, é um dos melhores banhos de mar. Há algumas barracas de praia meio arranjadas 'do jeito que dá', mas que ainda assim, suprem com as bebidas básicas e água de coco. Perto delas, ainda se encontra baianas de acarajé, ambulantes que vendem o picolé capelinha - tradicional da cidade - queijo coalho e outras 'iguarias' de praia. Na extensão característica do litoral soteropolitano, há uma amplidão quase a perder de vista: de Jaguaribe é possível ver Itapuã de um lado e a Boca do Rio do outro. Praia tranquila para passar o dia, surfar, nadar ou apenas conversar com os amigos, aproveitando a brisa constante e interminável que vem do mar de águas não geladas. Esta semana ainda inauguro a primavera por lá.


Filmes e Séries

Filmes e séries imperdíveis para começar a primavera do jeito certo!

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filme Enola Holmes | Netflix

Enola Holmes, Harry Bradbeer (2020) - Telecine

Milly Bobby Brown retorna à Netflix depois de algumas temporadas como a Eleven, de Stranger Things, agora como a irmã de ninguém menos que Sherlock Holmes. Intrépida, ela segue em busca da mãe desaparecida (Helena Bonham Carter). Com trilha sonora de Hole (de Courtney Love, a viúva de Kurt Cobain, do Nirvana), o filme estreia dia 23 de setembro e promete ser uma aventura gostosa, com roteiro criativo e animado para ver em família, em casa. Um filme recente e fresco, como esse ar novo que chega em nossas casas. Na netflix.


Jules e Jim, François Truffaut (1962) - Telecine

Um dos grandes nomes da nouvelle vague, François Truffaut é desses diretores amados da minha vida e da de muita gente, na verdade. Em Jules e Jim, temos estes dois amigos apaixonados pela mesma mulher, Catherine. Os três formam uma amizade complexa e nós circulamos entre ela, por seus diálogos, conversas, encontros e desencontros. Amor e amizade se entrelaçam em uma história única e deliciosa que marcou uma época e todas as pessoas que assistem este filme. Imperdível, clássico e atemporal. No telecine. 


Goop Lab, Gwyneth Paltrow (2020) - Netflix

Primavera é tempo de renovação, repensar os hábitos e reforçar a saúde com a chegada do calor e dias mais amenos. Para entrar no clima, vale assistir ao Goop Lab, um seriado comandado por Gwyneth Paltrow, a atriz hollywoodiana dona da Goop, uma empresa / revista de estilo de vida e bem estar. Para dar qualidade de vida aos seus funcionários, ela os leva a embarcar em experiências alternativas de bem estar e manutenção da saúde. Cada episódio traz uma prática diferente como mergulhos em um lago super gelado, outros sobre o uso terapêutico de ayahuasca, outro sobre sexualidade feminina e por aí vai. Nada disso lhe dará a garantia absoluta de uma vida melhor, mas vale como reflexão, se pensarmos em adequar determinadas práticas em nosso dia a dia. Para ver tomando o café da manhã. Na netflix.


Em casa

Dos benefícios da internet, links que vão melhorar a sua vida

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Being Water | Yoga e autoconhecimento

Being Water | Resiliência, consciência, generosidade e yoga

Quem me conhece, sabe que não sou adepta do universo da auto-ajuda. Entendo a relevância de quem busca se aprimorar ou buscar, literalmente, ajuda, nesta bibliografia, mas meus caminhos para isso são outros. Por sorte, tenho grandes amigos e amigas que contribuem para este processo das mais diversas formas e uma delas é Fernanda, uma amiga de longa data e para sempre. Nanda é o equilíbrio entre o 8 e o 80: é executiva de alta eficiência e é praticante e instrutora de Yoga. Juntas, estamos desenvolvendo seu projeto de vida, o Being Water, um site sobre qualidade de vida, práticas na natureza e muito conteúdo relevante e interessante para quem tem um pé no concreto e outro na terra. O site dela está em inglês - ela mora fora do Brasil há muitos anos - então para quem não lê no idioma, é só apertar aquele 'traduzir essa página' que o google oferece. Os conteúdos são excepcionais. Acesse o site, estreia hoje!

Lá do Sítio | Refeições vegetarianas e consciência ambiental

Maria Gambardelli e Daniel Lira são amigos que o Rio de Janeiro me deu. Trabalhamos juntos no grupo Globo e sempre foi um sonho de Maria aproveitar o sítio da família para a causa em que acredita e vive. A sustentabilidade, a consciência ecológica e política se uniram na forma como ela já se alimentava e alimenta há anos - é vegana - e o sonho virou muito trabalho e realidade. Lá do Sítio é sua empresa que fornece refeições vegetarianas e veganas, muita coisa que vem, efetivamente, do sítio de sua família, um lugar impressionante não só pela beleza, mas pelo cuidado no trato das plantas e animais - os cachorros maravilhosos que completam essa família - e pelos conhecimentos de Maria e Daniel sobre seu trabalho e sobre o cultivo e colheita. No instagram do Lá do Sítio, se você mora no Rio de Janeiro ou em Miguel Pereira, é possível encomendar as refeições (este não é um post publicitário), que são deliciosas ou, apenas, aprender mais sobre uma forma de viver mais em comunhão com a natureza e aplicar um pouco no seu dia a dia. Maria e Daniel, suas refeições e seu sítio, são das coisas que mais sinto falta estando longe. Passa lá no Lá do Sítio.

Visualize Value | Grandes ideias bem desenhadas   

Não conheço o designer de Visualize Value, esse perfil do instagram que descobri outro dia. Com não sei quantos seguidores e seguindo apenas seu criador, Jack Butcher, este produtor de conteúdo tem muito a dizer e o faz de forma contundente. Entre a natureza consciente de Maria e as práticas e reflexões de Fernanda, vale acompanhar o VV para ganhar estas pílulas de provocações do pensar. É coisa muito bem feita, que desperta nossa curiosidade e nos tira da mesmice. Melhor forma de viver a nova estação não há. Em inglês, mas fácil de entender. Vale a visita.

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Gostaram da lista? Têm mais sugestões de ligares e links para usarmos de forma produtiva e estratégica a internet? Cheguem mais, comentem e compartilhem com os amigos estas dicas incríveis. E, para quem gosta de um Café e quer me ajudar a manter este funcionando, passa aqui!
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Foram quinze dias no Chile em 2011. Separei sete para o Atacama. Em San Pedro, ganhei uma dica para ir à Uyuni, na Bolívia. O Deserto de Sal, que eu nunca tinha ouvido falar, me esperava. Foram poucos dias e essa viagem ainda mexe comigo. Talvez esteja na hora de voltar.


Antes de chegar a San Pedro de Atacama, eu esperava encontrar uma cidade rochosa e empoeirada, tudo meio amarronzado, aquela imagem clássica de deserto e céu limpo e seco. No norte do Chile, a cidade tem paisagens lunares e a quase ausência de umidade deixa tudo mais límpido, como se estivéssemos em uma imagem em alta definição, em 4k. A região tem um dos céus mais limpos do mundo. Estamos no deserto. É lindo e único, mas jamais como eu havia imaginado.

Uma visão distópica de grandes telescópios plantados em um jardim eletrônico torna obrigatória a visita à noite. É um observatório astronômico, uma das grandes atrações da região. Antes de correr para os equipamentos, participamos de uma conversa em uma sala redonda, a céu aberto, com direito a chocolate quente e mantas para espantar o frio. Depois de viajar por alguns minutos, ouvindo curiosidades sobre o Universo, vamos nos encontrar com as constelações, os anéis de Saturno, Marte, Vênus e Mercúrio, nebulosas, Júpiter. Quando você viaja sozinho, todos os seus sentidos parecem mais ativos e as experiências, mais fortes.


Um colega de quarto no albergue, que se tornou amigo para a vida, havia me falado sobre Uyuni, um deserto de sal na Bolívia que eu jamais ouvira nada a respeito. Ele estava fazendo um roteiro parecido com o meu, mas estava sempre dois dias à minha frente e insistiu que eu não deixasse de ir, que eu não deveria perder uma experiência tão incomum – e eu só pensava que já estava vivendo algo diferente ali, no meio do deserto. Ele sorriu. Eu agendei o passeio e minha vida começava a mudar naquele momento.

Foi um tour de quatro dias em um jipe. Montei uma mochila pequena com a maior garrafa d’água que encontrei, óculos escuros, protetor solar. Roupas para o vento e as noites geladas – nós dormiríamos em abrigos simples e sem aquecimento. Todas as refeições incluídas.

Prepare-se para se impressionar. Deixamos San Pedro e depois de cruzar a fronteira cedinho, um café da manhã nos esperava na Bolívia. Café, suco, chocolate, pão, nada muito pesado, mas o suficiente para começar o dia. Voltamos para o carro, o motorista nos levava para um mundo de sonhos. Lagos vermelhos e em tons de coral, outros em ciano. Montanhas no horizonte, céu azul sem nuvens, aquele mesmo solo pedregoso marrom claro e imensas pedras, rochas em formatos diferentes, esculpidas por décadas de ventos e intempéries. Uma pausa para um banho em uma piscina natural de água quente - as águas sulfurosas de um território vulcânico. Não havia estradas ou muitas sinalizações e nosso guia sabia todos os caminhos desta vastidão.


À medida que andávamos, a distância do nível do mar aumentava e fui me sentindo um pouco estranha. Meu corpo estava se adaptando à altitude e precisava se recompor, mas não foi nada desesperador. Um enjôo e uma dor de cabeça leves, apenas. Depois da primeira noite de sono e de um chá com folhas de coca, tudo voltou ao normal. Muitas pessoas sequer percebem as mudanças. Antes de ir pra cama, fomos à porta do nosso abrigo olhar o céu. Um mar de estrelas clareava tudo ao horizonte, um céu como nunca vi antes e nem era noite de lua cheia. Nunca deixe de olhar o céu quando for a um deserto. Não há nada igual no mundo.

Na manhã seguinte, flamingos coloriam e davam relevo aos imensos lagos que dominavam a paisagem. Árvores de pedra pareciam ter sido instaladas estrategicamente entre os espaços vazios. A sensação era de estar em uma daquelas imagens de fundo de tela de computador. Saímos algumas vezes do carro para caminhar. Eu estava viajando sozinha e nestas circunstâncias, fazer amizades é ainda mais fácil, mas escolhi aqueles momentos para mim, para andar sozinha por uns instantes e sentir aquela natureza tão distinta da que temos no Brasil.

Cada minuto nos guiava a um novo e surreal cenário. A rota imaginária nos fazia entrar agora em uma tela branca como neve e já sabíamos que havíamos chegado. Olhando em toda e qualquer direção, era um tapete branco e um céu de azul pleno e nada mais. De repente, encontramos uma construção, parecia ser uma casa – era um hotel. Paredes e móveis feitos de sal. Mais adiante, fomos a uma pequena ilha com cactos de todos os tamanhos e lhamas nos morros, uma paisagem inusitada, literalmente no meio do nada. Tudo parecia um sonho, não fosse a alegria e surpresa nos nossos olhos a confirmar aquela realidade. Quando se trata de Natureza, não há limites para a criatividade.


Continuamos dirigindo. Agora não havia construções, ilhas ou lhamas. Paramos no meio do branco e azul, nada se via além disso, os olhos ardiam um pouco pela claridade seca daquele imenso vazio. Eu gostei daquele silêncio e caminhei por um tempo. Uma transformação íntima acontecia, eu me sentia parte do Universo em sua essência, como se fôssemos duas partes da mesma substância. Me permiti estar sozinha, me sentir como um indivíduo naquele espaço. Eu tinha certeza de que aquele momento eu levaria por toda a vida. E então, era hora de tirar fotos.

O cemitério de trens foi uma conclusão brilhante de nossa jornada. Suas estruturas de ferro velhas e corroídas pelo sal nos faziam entrar em um mundo de ficção científica. Tempos depois, chegamos na pequena cidade de Uyuni, que carrega o nome de seu deserto e todos juntos, tomamos uma cerveja de despedida. Alguns ficariam na Bolívia e outros, como eu, voltariam para San Pedro. O dia seguinte foi menos glamouroso, mas eu ainda estava imersa naquelas sensações, nas muitas definições de vazio e imensidão que acabara de aprender. Eu queria sempre ver mais e conhecer mais, mas, ao mesmo tempo, deixei nosso motorista nos levar por mais caminhos sem estradas e me perdi por horas olhando tudo pela janela do jipe. Alguma coisa mudara dentro de mim. 

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Agora me dei conta que não escrevi nada sobre o Chile. Foi minha primeira viagem pra fora do país sozinha. Não conhecia ninguém, à exceção de um contato de uma amiga de uma amiga que ia se casar por lá. Claudia é chilena ia se casar com um carioca em Santiago e generosamente me convidou para a festa. Sem nunca ter me visto.

Descobri que quando viajando só, as coisas mais fantásticas podem acontecer a qualquer momento, em qualquer esquina. Este casamento para poucos é um grande exemplo. E o mais legal é que não conhecendo ninguém, absolutamente tudo se torna novo. A cerimônia foi linda e rápida, percebi que se não todos, muitos eram amigos próximos e que estavam ali com a alegria de ver duas pessoas que se amam, casando. Me colocaram na mesa dos brasileiros e o que achei que ia ser um evento – para mim, de poucas horas – me fez ficar até o final e acordar meus colegas de quarto quando cheguei ao albergue. Bebemos muito, dançamos ainda mais e comecei a viagem da melhor forma possível.


Santiago é uma cidade especial. Provavelmente essa é uma frase que vai se repetir em todas as viagens, já que cada uma deve abarcar um monte de coisas, lugares e culturas interessantes. O negócio é que todos que tinham ido à Santiago (bem menos pessoas conheciam, ao contrário de Buenos Aires), me falavam que a cidade não era nada demais e nem tão charmosa quanto a portenha, que realmente é incrível.

Santiago é limpa, organizada, seus sistemas parecem funcionar muito bem e todas as pessoas foram muito educadas, simpáticas e prestativas. Do segurança do metrô a todos os policiais. Não é uma cidade de tango, ou cidade sensual como as nossas, mas ela vai te encantando sutilmente, você vai criando intimidade aos poucos e se surpreende sempre com a brutalidade com que a natureza se apresenta no meio de uma capital federal. É virar uma esquina e está lá, a cordilheira, como um imenso desafio, piscando pra você.


Em Santiago, os homens não te cantam nas ruas (à exceção do moço do caminhão que me mandou um beijo e pediu uma foto) e nas boates, te convidam apenas para dançar. E te pedem que olhe nos olhos. Essa é uma diferença brutal de comportamento, pelo menos pra mim. Quando nos chamam pra dançar no Brasil é um indício de que vão, no mínimo, lhe tocar, abraçar, encostar em você... e nunca se preocupam com os olhos. O rapaz que me convidou não estava interessado em mim, mas em outra brasileira do meu albergue e foi por isso que começamos a conversar. Ele era um pouco tímido e ela não se interessou. De alguma forma participei do assunto, já que ela não entendia muito espanhol e fui facilitar o diálogo. Terminei conversando bastante com ele, que tinha uma doçura no olhar, misturada com uma firmeza, alguma segurança de pessoa tranquila. Dancei com ele, mas era estranho perceber que ele ficava em encarando. Era estranho e divertido ao mesmo tempo. E intimidante. Até que ele percebeu e me questionou, por que eu não olhava pra ele. Expliquei que era muito diferente pra mim e que ficava tímida, e então ele me deu a sacada da coisa toda: se você olha nos olhos de um rapaz, ele é quem fica tímido e abaixa o olhar. E com isso, entendi como a cidade funcionava.


Quando começo a pensar nesta semana, milhões de pequenas histórias passam pela cabeça, não tanto como filmes, mas como um complexo amontoado de percepções íntimas, emoções de todo tipo, cenas incríveis, diálogos e vinho, muito vinho bom e despretensioso.

Fiquei num albergue perto da Avenida Brasil, mas foi sem querer. La Princesa Insolente me ganhou pelas fotos e pela pesquisa, e acertei em cheio. Não ficava no pico turístico, nas Ipanemas ou Copacabanas, mas era um espaço acolhedor e com muita gente disposta a conhecer mais gente ainda. No meu quarto eram 2 rapazes e 2 moças, contando comigo, mas nunca o mesmo grupo todas as noites. Um deles mais tarde se tornaria um companheiro acidental de quase a viagem inteira, incluindo o Atacama. Fabien é suíço e também estava viajando sozinho, com uma duração de jornada que só europeus e norte americanos conseguem ter.  Eu tinha uma semana em Santiago, outra no Atacama e parecia surreal só quinze dias para tanta coisa. De uma forma maluca, consegui encontrá-lo nas duas regiões e viramos companheiros de viagem, sempre trocando informações fundamentais, não importando se estávamos juntos ou não. A internet facilitou bastante o processo e íamos empolgando um ao outro sobre o que fazer ou não, especialmente no Atacama.


No topo do morro La Concepción tem uma santa. Como o Corcovado daqui, só que com outro clima. Claro, tinha o turismo, mas tinha silêncio. Todos tiravam fotos, mas falavam baixo e tinha uma arquibancada para sentar e ver a cidade inteira lá embaixo. Tinha também aquelas estantes com milhões de velas, promessas, pedidos e flores. A impressão que eu tenho é de que a cidade tem um tempo diferente. As pessoas param. Sentam, olham a vista, ficam nos parques, namoram. Olham nos olhos. Basta lembrar de Neruda e sua história e já dá pra ter uma ideia. E Salvador Allende. E o GAM. E a Catedral. E a garota da Catedral, desenhando calada o que acontecia ali.

E os cachorros? Santiago é uma cidade de cachorros. Estão em todos os lugares, vira-latas bem alimentados, tranquilos, convivem pacatamente com todo mundo. Estava no centro, atravessando uma rua para chegar ao prédio lindo do Correio, um monte de gente esperando o sinal. Uma policial estava do meu lado e um cachorro entre nós. Ele fez que ia atravessar antes da hora e a policial lhe chamou a atenção como se fosse dela. O cachorro obedeceu e atravessou a rua conosco. Não vi cocô nas ruas. Não sei como eles fazem para lidar com isso, mas nesse mesmo dia visitei o Museu de Arte Pre-colombiana, que também achei que ia ser um passeio rápido e me tomou um tempão. Lá tinha a história de como os cachorros eram elementos fundamentais da cultura. Tem uma escultura de um cachorro e uma explicação de que naqueles tempos eles eram guias de passagem para quem ia a La tierra de los muertos. É uma fidelidade que se mantém hoje, ainda mais quando lembramos dos filmes, tem até um com Richard Gere (com cara de ser bem meloso e ruim) que fala disso.


Em novembro, Santiago é quente e agradável de dia e fria à noite. O clima é meio seco, o que faz um bem danado pros cabelos e pra pele, desde que você também use hidratante. Senti mais sede do que o normal e era uma boa desculpa pra provar os sorvetes deliciosos de lá. Como não estou podendo comer frutos do mar, perdi uma grande parte da gastronomia, mas passei bem com as carnes e legumes. É uma cidade em que a comida não é das mais baratas, mas pra quem vive no Rio, tudo é possível e as porções são generosas. Ah! E as empanadas são sensacionais. Bem como as lojas de departamento. Precisava de roupas para o deserto e foi o que me salvou.


Esse ano, trabalhando no É Tudo Verdade, acabei conhecendo um casal de chilenos. O marido era protagonista do documentário do filho e passei alguns momentos com eles. De novo, pessoas incríveis, educadas, calorosas e tranquilas. Deve ter algo diferente na água de lá. E pensando bem, tem muito mais pra falar, mas vou deixar os pensamentos se organizarem um pouco mais, junto com as lembranças das pessoas e mais histórias surgirão naturalmente. Santiago não tem fim e ainda nem falei do deserto ao norte ou da minha vontade de ir ao sul. As viagens nunca terminam, eu acho. São sempre uma sequência de portas sem fechaduras. É só sair empurrando.
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Resolvi começar pelo final. A última grande etapa da minha viagem foi a visita ao Salar de Uyuni, na Bolívia. Como foi o que mais me marcou, fica ainda muito fresco na memória e talvez seja o mais importante de toda a viagem. Ou não.
Quando estava em Santiago e em Valparaíso, conheci outros viajantes que tinham ido ao Atacama. Como eu, alguns viajavam sozinhos, os europeus e norte americanos sempre por mais tempo que brasileiros ou vizinhos. Como eu estava prestes a chegar lá, queria estar segura do que ia encontrar. Todos me falaram para ir ao Salar de Uyuni, no altiplano boliviano.

Eu nem sabia como era o Salar, não tinha noção de como seria o passeio, com quem eu ia, como ou quando. Contaram que seria uma viagem de três ou quatro dias e que eu veria as paisagens mais impressionantes da região desértica. E que valeria muito mais a pena do que fazer passeios menores em torno de San Pedro.

Quando cheguei a San Pedro, estava mais perdida que cego em tiroteio. O hostel era bom, mas não era tão amigável ou com uma boa área comum para conhecer gente como os anteriores. Ainda não sabia direito que passeios fazer ou como encontrar o tour pra Bolívia. Dei sorte de no meu quarto ter uma garota canadense que virou minha comadre atacamenha e compartilhamos bebidas e comidas, compras, todos os nossos dilemas de viagem, de vida e do que mais aparecesse pela frente.

Última noite antes do tour, entro na internet pra enviar e-mails, além de uma pesquisa de 3 segundos sobre o mal da altitude. Vi os sintomas e como marinheira que não mareia, achei que no iba a  pasar nada.

Dia 01 – Entrando na Bolívia.
Deixamos San Pedro cedo num micro-ônibus para dar saída com o passaporte na polícia federal da fronteira chilena. Uma hora depois estávamos na polícia boliviana, num frio do cão, aguardando o novo carimbo. Tudo certo. Tomamos café da manhã ali mesmo e trocamos o confortável buzu pelo jipe com capacidade pra seis pessoas. Ali já era no meio do nada, ao longe uma carcaça de ônibus, a polícia boliviana era uma casinha com 2 cômodos, a bandeira do lado de fora e o mundo vazio, mas cheio de potencial para as nossas expectativas. Éramos 3 americanos – um casal e a amiga – 2 austríacos e eu. No outro jipe: suíços, irlandeses, alemães e franceses. Dali em diante meu espanhol se restringiu aos nativos e inglês por 4 dias consecutivos. Pra mim estava ótimo, porque nunca falei tanto os idiomas ao mesmo tempo. Mas toda manhã era um parto. O cérebro ainda não estava 100% e começar o dia numa outra língua requer um esforço quase sobrenatural diante da falta de oxigênio. Minha glória foi quando em outro grupo apareceram uns portugueses e nunca gostei tanto daqueles meninos por intensos dez minutos.

O primeiro dia foi o mais cruel. Achei que ia segurar a onda, mas a falta de oxigênio provocada pelos 4800m de altitude me deu uma dor de cabeça constante, um cansaço absurdo, sem falar na incapacidade de comer. Ainda assim, consegui ver todas as lagunas que nosso guia Johnny nos apresentou: Verde, Blanca, Colorada, Geysers fedorentos. Incríveis, vimos o vulcão Licancabur mais de perto em toda a sua grandeza e as primeiras paisagens de adjetivos que não são suficientes para expressar o que estava diante de nós. Tanto que não falávamos (e também porque eu não conseguia falar muito...). Tirávamos fotos e víamos e para mim era muito discrepante o que eu via do que eu conseguia registrar. Primeiro porque ao vivo é ao vivo e é 360 graus com todos os seus sentidos excitados e você percebe como as palavras beleza e natureza se associam de forma tão perfeita. Segundo, porque além de estar aprendendo a fotografar, precisava de lentes de maior alcance para chegar mais perto daquela magnitude. E terceiro, porque a foto é sempre um recorte, nunca vai te dar toda a amplidão e, principalmente nesta situação, jamais lhe dará a idéia de todo. Sempre algo se perde .
Mas entre uma laguna e outra, entre uma grande vista com parada para fotos e outra, havia todo o deserto. O altiplano é lindo e poderoso, mas eu estava num estado de sonolência atroz. Dividindo o último banco com Martin (um dos austríacos), sempre que entrava no carro passavam 5 minutos e eu me recostava. Ele via minha situação ridícula e perguntava: vai dormir? Tá tudo bem? E eu sempre respondendo: acho que sim, só um pouquinho. Até que não nos falávamos mais; assentíamos com a cabeça e sabíamos que eu ia me encolher no banco e fechar os olhos. Precisava sumir com a luminosidade por uns minutos. Quando estamos no deserto, todos os nossos sentidos afloram: o ruído do vento, o cheiro da terra estranha, o gosto dessa mesma terra, a luz do sol mais forte do que nunca, as pedras e os animais que tocamos, sem falar de tudo isso que sentimos de uma só vez e com seu corpo se adaptando àquelas alterações. E com tanta informação ao mesmo tempo, não dava para captar tudo sempre e precisava desligar algum botão. Todos estavam acostumados à altitude, já haviam passado pelo Peru (Cusco, Macchu Picchu e tudo mais), de forma que fui a única café com leite.

Mas todo mundo foi muito gentil e parceiro. Acabou que os onze cuidaram de mim de alguma forma e eu cuidei de alguns. Acho que fiz a diferença no grupo com aquele calor brasileiro, a alegria gratuita por simplesmente estar ali. Meu estado de graça – ainda que contrastasse um pouco com o físico – estava completamente exposto, devassado. Era impossível ser discreta com o que estava diante de mim. Mesmo abatida e sem ter almoçado no primeiro dia. Passei o dia sem comer, ainda mais tendo botado pra fora o café da manhã. Mas deu tudo certo, consegui dormir e a dipirona reduziu meu mal estar. No dia seguinte, acordei bem e provavelmente fui a que dormiu melhor. A noite foi realmente muito fria, mas estava tão protegida e dormente que nem percebi.
Dia 02 – Comendo poeira.
Engraçado que agora parei de escrever e estava revendo algumas fotos... cada uma traz tantas recordações de pequenos detalhes, conversas, uma vida tão intensa em cada um daqueles dias que parece que viajei por muito mais tempo. Acho que estar distante de todos e tudo que conhecemos, de estar realmente no deserto, isolado, longe, é de uma transformação talvez maior do que eu já tenha percebido. Sei que algo de diferente e especial aconteceu, mas acho que ainda não consegui captar tudo. Tento ficar atenta para não perder, não deixar essa energia tão forte se dissipar. Mas não sei também direito como se manifesta. Estou sentindo.

Viver aqueles dias neste contato direto com uma natureza estranha faz notar como a própria entidade natureza é realmente uma. É a única palavra – além de selvagem – que temos para definir tudo aquilo. E são essas duas palavras que também usamos para outros lugares, outros encontros extraordinários em regiões especiais. Eu estava com mais 11 pessoas, além dos guias, distintas e em seus pares, completamente alheias a mim inicialmente. E todas experimentavam o mesmo ambiente e em suas gradações eram mais ou menos generosas, mas sempre dispostas. Eu era toda receptividade. Não como uma figura zen, hippie, mística maluca ou qualquer coisa do tipo, mas o que havia ali para apreender era tão intenso – tanto nas relações sociais quanto com o ambiente – que não havia espaço para a reclusão – exceto quando eu não estava bem e aí havia um conflito interno entre o afastamento e o que esta escolha nos faz perder. Ainda assim, nunca conseguia dormir totalmente no carro, era quase um olho aberto e o outro fechado. Acho que por estar viajando sozinha, tudo isso se intensifica. Todos estavam com alguém ali e eu, mesmo estando com todos, estava muito mais apenas comigo. E a música boliviana ali, sutil, nos transformando.
O segundo dia foi bem cansativo. Eu estava muito mais disposta, já tinha tomado um pouco do chá de coca e estava indo bem, me alimentando e bebendo muito mais água do que no dia anterior. É importante sempre beber água, por mais óbvio que pareça. Como o altiplano é muito seco, perdemos água sem sentir e a ausência dela ajuda a intensificar algum desconforto. Por isso, eu e um dos irlandeses sentimos mais no dia anterior. Ainda assim, quando andava muito, ficava cansada, como uma senhorinha. Éramos todos idosos naquelas caminhadas curtas e o coração quase na boca ao menor esforço. Era engraçado.

Pegamos estrada o tempo inteiro e intercalamos com outros 2 jipes no caminho, então nem sempre éramos os primeiros na rota. A estrada era um caminho sem trilhas entre a areia e barro que Johnny conhecia muito bem, mas um dos outros dois motoristas não, então ele tinha que ser responsável por este carro, se posicionando atrás dele a maior parte do tempo, enquanto o terceiro seguia na frente. Com isso, comemos muita poeira. Não sei como resisti tanto tempo e nossos cabelos eram uma massa intocável de pó.

Não tínhamos tomado banho na noite anterior e a secura da região tirava qualquer possibilidade de ondas no meu pobre cabelo. Como uma índia, eles estavam lambidos e agora entupidos desse pó fino que não só estava no meu nariz e garganta, como em todo o meu ser. A rota off road batia muito. Foi bastante complicado e ainda tínhamos mais lagunas para ver. Estávamos meio cansados disso, então quando fomos ver a última – creio que La Negra – já tínhamos abstraído a pobre e tudo o que nos interessava eram as rochas, as formas imensas no meio do nada. Tudo era sempre no meio do nada. Como as nuvens que constroem figuras para decifrarmos, assim elas eram. De todos os tamanhos, desenhos... e era incrível como em alguns momentos era tudo planície, pouca ou nenhuma vegetação e imensas pedras no meio do nada, como se tivessem sido jogadas ali.
Em algum momento da tarde, paramos num vilarejo chamado Copacabana. O jipe passou muito rápido e não consegui a foto, mas juro que era esse o nome. Ermo, com umas quatro quadras em cada lado da praça, igreja e escola, era tudo que havia para ver. Acho que um dos guias mora ou tem família ali e decidiram parar para resolver algo ou descansar. Nós ficamos na praça, esperando as definições de nosso líderes e aproveitamos para fazer xixi num cantinho escondido e conversar ou simplesmente... esperar.

Fomos pro segundo refúgio e como eu tinha pouca bagagem, só uma mochilinha (tinha deixado o restante em San Pedro), consegui ser a primeira a tomar banho, com o imenso prazer de descobrir que realmente tinha água quente – ninguém acreditou que isso aconteceria. O banho foi incrível e deu uma renovada no astral do grupo. Éramos gratos por nos livrar momentaneamente de toda aquela terra, de poder pentear os cabelos (e descobrir que de novo ficariam irritantemente muito lisos) e não suficiente, ainda tomar café brasileiro no meio do altiplano boliviano.
Agora sim, eu estava de verdade em estado de graça. Eu ria na mesa enquanto conversava com o povo, ria de graça e sem motivo, enquanto na noite anterior ficava mais calada, esperando passar toda aquela confusão que estava sentindo. Eu falava agora e o café funcionou muito bem, quase como uma droga, com um efeito incrível e que desceu esquentando o coração e a mente. Foi uma noite muito boa e ainda teve lhama de jantar, mas fiquei com pena da bichinha e não comi. E quando fui lá fora – sim! No meio do nada! – para ver as estrelas, meu deus. O que era aquilo! Um mar, mais uma vez, de estrelas, como o que vi no observatório perto de San Pedro. As únicas luzes eram as do refúgio e o resto era nada, deserto escuro, iluminado por quantas constelações. Só consegui ficar uns poucos minutos ali fora, porque o romantismo todo some quando está muito frio. Acho que nessa viagem eu nunca senti tanto frio por tanto tempo.

Dia 03 – O Salar.
Terceiro dia. Todos estávamos ansiosos pra conhecer o Salar. Acho que ninguém sabia direito como era nosso percurso, estávamos nas mãos dos guias bolivianos e acho que não queríamos saber muito, na verdade. A graça estava no inesperado, na surpresa. Mas acabou que o refúgio era bem perto do Salar, então foi bem mais fácil do que tinha imaginado. Pegamos os jipes e em 10 minutos, era tudo branco e azul.
O caminho todo era como um mar ao contrário, ou como ir a uma praia em que o mar nunca chega. Andamos de carro um bom tempo e demos de cara com uma ilha de Cactus no meio do nada. Incahuasi, que em quéchua significa Casa do Inca é cactus, vegetação rasteira, lhamas e quase nada mais. É muito bonita e intensifica o caráter surreal do lugar. Inclusive, fiz alguns vídeos numa tentativa de criar algo em cima, mas minhas narrações ridículas são uma mescla de surreal, inacreditável e especial, além de bizarro. Porque era tudo muito extremo sempre e nunca há palavras suficientes para descrever esse tipo de coisa, então, como estamos mais sentindo do que pensando, as palavras saem soltas, quase sem sentido ou necessidade.

Era nosso último dia e quando pisamos naquele sal, éramos todos crianças. Como um imenso papel branco diante de nós, aquele chão era nossa rua, nosso jardim de infância; cada um buscava uma brincadeira, um jogo diferente pra fazer e registrar. Eu, como sempre, fiquei pensando nas maluquices, como dar estrelinhas e ficar de cabeça pra baixo, articulando e obedecendo os meninos nas artes deles. Foi muito divertido, mas em algum momento eu não conseguia tirar o chapéu gigante – que eu tinha comprado pra meu pai, mas que salvou minha vida – ou os óculos e ainda assim meus olhos ardiam. Era sal, branco, o céu muito azul e uma coisa refletia a outra! Mas brincamos muito e nessas horas não tem mal tempo, não problemas, preocupações... só existe o presente. E só existe ali.
Éramos catorze (com os guias) no meio do nada, com o mundo em volta. O horizonte, finalmente plano em qualquer direção, era branco e azul.  E a essa altura já tínhamos músicas americanas misturadas com as mais deliciosas e bregas como minhas nordestinas, bolivianas. Ouvir a letra das músicas era uma diversão quase só minha e eu ria sozinha, mais uma vez, tentando em vão explicar aos gringos o que dizia. Era tudo festa. Mas, por mais único que tenha sido, tinha que acabar. E fomos embora, a caminho de Uyuni, a cidade.

Paramos uma última vez, agora num cemitério de trens. Eram vários vagões e acho até que trens completos; uns em trilhos, uns fora deles. Parecia Mad Max, porque tudo que é metal velho retorcido e enferrujado me remete a Mad Max. Como não sei a história do lugar, ficou tudo meio solto, mas foi legal. Agora que éramos crianças e já tínhamos ganhado nosso brinquedo, poderiam nos levar pra qualquer lugar que estava ótimo. E esses trens não chegavam a ser mórbidos, mas sim retratos de um passado desconhecido, esqueletos enferrujados e pichados de assinaturas, românticos. Não sei por que, mas tinha gesso no chão, então como boa brasileira, deixei a marca. Mais brincadeiras, fotos e piadas. Fomos embora.
Tínhamos que deixar a maior parte do pessoal na cidade de Uyuni, eles partiriam de lá para dentro da Bolívia e eu, a americana e os suíços, voltaríamos para San Pedro. Ficamos um tempo rodando por Uyuni atrás de biscoitos e água (nossa vida girava em torno das garrafas individuais de 2L) e vimos que a cidade é meio triste, ao contrário de todo o passeio. Acho que ela era pequena demais, que os trens não existem mais e ela ficou meio esquecida. Parecia uma cidade dos filmes de velho oeste, toda em tons de terra e poeira. E meio vazia. Conseguimos comprar e agora era esperar o novo jipe. Em frente à nossa agência de turismo havia um bar, o mais bonitinho da região, com uma cara tropical engraçada, com folhagens fazendo um teto para sombra e cadeiras e mesas vermelhas, daquelas que as cervejarias patrocinam. Éramos poucos quando sentamos, não imaginei de reencontrar o resto do pessoal que já estava hospedado nos albergues. De alguma forma quase todos apareceram e conseguimos a despedida daqueles três dias realmente surreais.

O novo guia nos chamou, demos tchau aos novos amigos e partimos para o terceiro e último abrigo em alguma cidadezinha boliviana mais perto da fronteira. Teríamos um longo dia seguinte de caminho de volta.

Dia 04 – Fim de festa.
No caminho de volta ainda seguíamos animados. Agora eu já era amiga de Martin e Marc, os suíços que foram meus companheiros de jornada. Michelle, a americana, ainda estava nos conhecendo e agora, talvez por necessidade, ela se uniria mais a nós, já que seus amigos ficaram em Uyuni e ela teria mais uma noite e meio dia conosco. Acabou que ela também era uma menina divertida e fomos conversando o caminho até o último refúgio, à noite.

Curiosamente, nossa paisagem estava mudando e até em asfalto andamos com o carro. Entendi que como a etapa passeio estava no fim, poderíamos pegar uma estrada regular para chegar mais rápido ao destino. Chegamos na maior cidade que havíamos passado desde então e que também não me lembro o nome. Só lembro que ficamos animados com a ideia de estar em algum lugar mais povoado, com construções maiores. Mas logo que entramos no refúgio essa imagem desapareceu. Sabíamos que seria rústico e que teoricamente nem teríamos jantar, por isso as provisões. Tivemos um jantar de salsichas com purê de batatas e tomate que estava bom, mas os banheiros eram meio de filme de terror. Tinham uma porta sempre aberta e claro que não separavam por gênero. Michelle foi escovar os dentes e deu de cara com um turista sei lá de onde nu, tomando banho. Um dos boxes tinha porta e o outro não. Mas também não era desesperador. Decidimos de comum acordo que não tomaríamos banho gelado e fomos dormir. Acordamos acho que às 5h, num frio incrível e, claro, tomaríamos o café da manhã na fronteira, como fizemos na ida.

De volta à estrada, com e sem asfalto, com córregos, lhamas, cabras, montanhas mágicas e novas paisagens deslumbrantes. Estávamos relaxados e entre uma conversa e outra, um cochilo e outro, o tempo ia passando. Sem perceber, chegamos à fronteira. Era o café da manhã, o carimbo de despedida e o adeus à Bolívia. Dali em diante era só retorno. San Pedro. Santiago. Rio de Janeiro.
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Em uma época imemorável, um homem e uma mulher de diferentes tribos da Patagônia Argentina se conheceram e se apaixonaram. Como suas culturas eram diversas, a norma que imperava sobre eles era o fim do amor, com a obrigatória separação. Cada um deveria seguir seu caminho, casando-se com um de seus comuns.

Mas o amor deles era muito muito forte. Era como aquele amor de Romeu e Julieta, de almas gêmeas e talvez como estes amores pelos quais as pessoas se casam com sinceridade. Em todo caso, o amor deles era muito maior do que as convenções e regras que tinham que obedecer.

Resolveram fugir. Era a única forma de viverem juntos e construírem com seu amor uma nova família, até formando uma nova tribo baseada no amor e com ele fortalecido. Eles correram e correram e se viram diante de um lago muito profundo e frio, o lago Mascardi. Conhecedores da região, sabiam que a única forma de viverem juntos seria na outra margem, onde as duas tribos não os alcançariam. Ao mesmo tempo, a margem oposta era muito distante e o lago de águas quase polares poderia matá-los.

Mas, mais uma vez, pensaram que não poderiam viver sozinhos separados - casados com outras pessoas que não eles e foram com o amor do mundo nas mãos dadas ao lago.

Nunca mais se ouviu deles.

Foram procurados em todas as terras, em todas as margens e vales. Tribos se comunicavam, as mais distintas, para saber que fim tiveram os dois jovens mais importantes que haviam em cada comunidade. Nenhuma resposta. Não havia nenhum sinal deles em lugar nenhum, nenhum corpo encontrado, nenhum corpo avistado.

O tempo passou.

Neste mesmo local onde eles haviam pulado, nasceu um mirante, de tanto as pessoas tentarem vê-los. Numa tarde de sol já sem esperanças, alguns passavam por ali e viram uma sutil movimentação na água. Aos poucos, uma ilha nascida verde submergiu das águas profundas. Alguns metros afastada, outra ilha, parecida com a primeira também se viu nascer. Aos poucos, as duas foram de encontro uma à outra e tornaram-se apenas uma, com um formato nunca antes visto, mas agora perpetuado como símbolo de amor eterno.

Piuque Huapi em Mapuche significa Ilha Coração.

*Essa lenda foi contada por Mapu, um índio Mapuche que era nosso guia em um dos passeios por Bariloche este mês.
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Dias atrás...

Agora estou num avião. Enquanto o vôo não acontecia, minha tensão aumentava a cada segundo de atraso. Passei a não gostar de aviões.

Agora que estou no avião em vôo, a coisa muda de figura. Há um mar de nuvens abaixo de nós e acima um céu azul que não se vê lá da terra. O Rio estava nublado e frio, são estas aí, as nuvens dele. Estou indo a Salvador, que também tem nuvens, só que em menor quantidade.

É sempre a mesma história: um drama pra voar, contido e fingindo que tudo está indo muito bem e estou muito segura de mim. Tudo mentira. Eu sempre sei que vai dar tudo certo, mas sempre me lembro de todas as histórias em que aconteceu tudo errado. E passei uma semana de filmes não muito benéficos para o momento, até que vôo e fico tranqüila.

Neste mar de nuvens. Primeiro vemos as nuvens de baixo pra cima, cinzas e ameaçadoras. Depois entramos no meio de campo, tudo branco, parecendo aquelas metáforas de Céu... depois subimos ao paraíso dos relevos brancos e macios. Dá vontade de mergulhar nas nuvens, de se prender no avião com uma corda e deixar ele te levar por entre elas, porque as nuvens são também mar.

Uma criança brinca no fundo do avião, pra dar graça ao vôo, após uma hora e meia de atraso. Lá na frente, uma mulher a cara da Maria Bethânia, mas acho que ela é muito chique pra pegar um vôo desse... mas é a cara... o mesmo cabelo, pelo menos.

É engraçado, a gente voa e voa e parece que vai tão devagar... eu sempre quero chegar logo. Uma hora e meia de vôo, o piloto falou. Passaram-se 20 minutos até agora. Daqui a pouco é a hora do suco com amendoins condimentados e barra de cereal: a pior refeição que um avião poderia nos servir.

A única coisa a lamentar da beleza das nuvens, é perder a vista da terra. Mas não se pode ter tudo. Apenas relances de um pouco de cada coisa. Pelo menos dá pra saber que não viajamos por mar, mas por terra de fato.

Só para calar a minha boca infame, nos serviram sanduíche com suco. Creio que seja por causa do almoço e pra nos alegrar, depois de tanto atraso. Ainda mais: como é meu dia de sorte, consegui ver bastante terra e ainda um rio, que não tenho idéia de qual seja. Agora nuvens e nuvens.

Há uma senhora ao meu lado, com idade de ser minha mãe. Bem vestida, ela pediu sanduíche light, que não tinha. Aceitou o que tinha, que nem é esse macdonald's todo de gorduras, pelo contrário: queijo branco e peito de peru. Depois do sanduíche normal com suco de caju light, uma trufa de chocolate, pra fazer valer logo tudo de vez. Vai entender... ela bem quer saber o que tanto escrevo, tenta ler com o Ray Ban preto, mas finjo que não é comigo. Ela disfarça, olhando pra minha janela. Bobinha...

Como sempre, estou com frio. Mas isso é só uma anotação sem muito sentido no texto. Estou chiquerésima com meu casaco comprido, jeans escuro e salto preto. Óculos tão chiques quanto o de minha vizinha e me tremendo de frio. Acho que as pessoas chiques não sentem muito frio... droga. Todos os meu pêlos estão arrepiados e é claro que meus pés, nos saltos pretos, congelados. Minhas unhas vermelhas de esmalte, possivelmente estão arroxeadas na vida real. Coisa de nordestino quente. E olha que lá fora tá 27 graus e é meio-dia e quarenta e dois.

O piloto informa: chegaremos em Salvador às 13:50, que me dá ainda mais de uma hora de vôo. A única meta é segurar a bexiga até lá e evitar as besteiras no texto.

Agora estamos em cima do mar. Eu vi a passagem acontecer... eu reparei, e não é a primeira vez, que quando vemos a costa, a orla mesmo, bem do alto, dá a impressão de que está tudo parado, né? Como uma fotografia dessas de iamgens aéreas. Vemos a faixa branca das ondas quebrando, vemos as ondulações do mar e vemos as nuvens... tudo parado... e agora estamos descendo e eu peso 250 quilos. Faltam mais ou menos trinta minutos para pousarmos... fiquei tentando descobrir que praias eram as da costa. Certamente já estamos na Bahia. Pense comigo: um vôo Salvador-Porto Seguro dura aproximadamente 50 minutos. Tendo isso em mente e entendendo que falta mais ou menos meia hora pra chegar na terra, já passamos por Porto Seguro, certo? Achei uma boa dedução...

Eta! Tripulação, preparar para o pouso. Temperatura de 27 graus.
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Ontem fiquei na dúvida do que ia restar do meu domingo de ócio e Páscoa; o tempo não ia nem vinha e as praias, como sempre, muito cheias. Resolvi conhecer o Centro Cultural Banco do Brasil e aproveitei pra ver as exposições que estavam rolando.

O CCBB fica na esquina da Igreja da Candelária, no Centro do Rio, aquela da chacina em 93, quando mataram quase dez crianças e jovens moradores de rua. Aquela mesma chacina em que um dos sobreviventes foi Sandro, o sequestrador do ônibus 174, anos depois. Só aqui eu soube o que siginficava isso tudo, já que vi os moradores de rua, a Igreja da Candelária e entendi a linha que o 174 fazia (Gávea – Central do Brasil).

As exposições que estão rolando por aqui são: Família Ferrez e Os Trópicos – Visões a partir do Centro do Globo. Ia tudo bem comigo no ônibus que dava no centro da cidade até que o cobrador disse, quando eu perguntei se estava perto: você vai pro CCBB, né? Então, se você der sorte e o sinal fechar, você salta na porta, se não... só depois da Candelária. É óbvio que ao ouvir Candelária, “chacina” apareceu na minha cabeça e pensei, como menina de classe média besta: meninos de rua, assalto e o fim do meu circuito cultural num dos marcos de violência da cidade, mas evitei sofrer muito. Fiz cara de “droga, me lenhei” e falei pro cobrador: relaxe, vou dar sorte. Ele riu e continuamos nosso percurso. 

Como sou realmente uma pessoa de sorte, agradeci milhões ao cobrador e motorista, Deus, Todos os Santos e Orixás e pulei de alegria do ônibus para o portão do CCBB. É um prédio grande e amplo, com teatros, cinemas, auditórios, salões de exposição e um café. A exposição Os Trópicos já começa no andar 1 (aqui no Rio eles abstraíram o "térreo"). De cima a baixo, no centro do prédio há uma abóbada toda ornamentada com uma peça imensa que fizeram para compor. Há os bancos para sentar e deitar no centro, para observarmos. É uma visão interessante.

Subi para a exposição. Peças artesanais, fotografias, pinturas, tecidos, roupas, música, vídeo-instalações, documentário. Algumas são do Museu Etnográfico de Berlim e outras coletadas pelo mundo: Etiópia, África do Sul, Brasil, Espanha, Indonésia, Suíça e mais uns aí. É dessas exposições que você passa um tempão e tenta guardar tudo na memória. Claro que com a que eu tenho, pouco fica. O que mais surpreendeu foi o vídeo sobre Ruanda. Filmado lá, tratava em sete capítulos, do genocídio de 1995. Como sabemos, mais de 500.000 pessoas foram assassinadas a facão, a grande maioria da etnia tutsi.

O que importa neste filme é a forma. Ele não era um documentário de depoimento ou uma ficção, como Hotel Ruanda (2004). O filme tratava não do epicentro do conflito, mas das montanhas, onde algumas famílias viviam das plantações de café – a principal economia do país. Crianças, jovens, idosos, mulheres. Mostrou-se o massacre, como era impossível não fazê-lo, mas desfocado, para que víssemos as ações criminais mas não passássemos por mais desconforto além do inevitável. Mostrava ainda, o vazio após o incidente e a tristeza nos olhos das pessoas. Foi um filme que me prendeu, parei para ver todos os capítulos. Eram dois telões com imagens simultâneas, com a montagem combinada que tornava dois vídeos em um só. Como era de se esperar, não saí me sentindo bem do vídeo, mas entendi a proposta e aprendi com ela e com a história que foi contada. 


Depois de muito caminhar nos Trópicos, achei que conseguiria ver os Ferrez tirando fotos. Vi, mas cansada do monte de cultura que tinha engolido de uma só vez. A fotos dos Ferrez são muito boas e antigas, datam até os anos 60 do último século e, em sua maioria, são paisagens do Brasil de norte a sul. O que mais me interessou nessa exposição foram as fotos de família e quando eram fotografadas pessoas. Para mim, as fotos tornavam-se muito mais interessantes, porque víamos como as pessoas andavam, se vestiam e se portavam diante das câmeras. Muito mais legal que as paisagens, não querendo diminuí-las. 

Saindo de lá, mais terrorismo. O taxista infame da porta do CCBB me informou que eu teria que pegar o ônibus pertinho da Candelária, que era pra eu ter cuidado e andar atenta. Ele praticamente disse: você vai ser assaltada. Mais uma vez, contei com a ajuda do pessoal do plano astral e fui em frente. Quando cheguei no ponto, vi que as pessoas de rua realmente moram ali e não são poucas, mas ficam mais longe, do outro lado da rua e estavam tranquilas, deitadas ou quietas. Peguei meu coletivo e segui para casa, sem crises. Estou gostando desta terra.

Observação fundamental: Juro que pensei em comprar o livro da Expo dos Trópicos para mostrar ao povo da pátria amada, mas era 60 reais e fiquei tímida. :P
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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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