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Café: extra-forte

Olá, amantes do cinema! Fechando agosto com chave de ouro, terminamos nossa visita com o artista de cinema do mês, Wes Anderson e seus vários desdobramentos para além do cinema. Inspirador e inspirado, o diretor e roteirista deixa sua marca na sétima arte, mas também no mundo próprio da Arte e da Comunicação. Trago aqui alguns links interessantes para falarmos um pouco mais sobre este rapaz e nos despedirmos dele em grande estilo.

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Wes Anderson, nosso artista de cinema de agosto
Para começar, o filme que estamos aguardando: The French Dispatch já tem trailer, mas segue sem previsão de lançamento no Brasil. Dá uma olhada, só para ficar na vontade, como todos nós.


A turma do Criterion Collection, esta 'locadora' internacional e fantástica que me dá vontade de ter absolutamente tudo, fez um especial com toda a carreira do diretor. Você confere aqui, pode comprar, só fica um pouco salgado, porque é tudo importado mesmo. Aproveita e dá uma passadinha no site da Criterion e olha o acervo deles. É impressionante e eu queria trabalhar lá. <3  
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Jude Law e Jason Schwartzmann em um estudo do storyboard no Grande Hotel Budapeste.
A Studio Binder, um software / empresa produtora de conteúdo ama tando Wes Anderson, que fez um estudo aprofundado, uma aula quase, por tópicos, do que torna o diretor tão fantástico e especial. Confere aqui!

No instagram, há uma febre. O Accidentally Wes Anderson é uma espécie de coletivo de seguidores que postam locações da vida real que têm a ver com o estilo, a estética das obras do diretor. O negócio ficou tão famoso e sério, que virou livro e é lindo mesmo!

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mr. anderson's house / instagram

Mr. Anderson's House é apenas uma casa para hospedagem via AirBnb toda decorada ao estilo do diretor. É claro que há um perfil no instagram desse lugar inusitado e dá uma vontade doida de ficar lá, só para ter a experiência. Esta maravilha fica em Ontário, Canadá.

E, para encerrar bem, há um estudo da paleta de cores e luz dos filmes do diretor neste Tumblr delicado e cuidadoso, o Wes Anderson Palettes. É um deleite para os olhos, além de ser um bom estudo sobre cinema. Passa lá!

O diretor tem infinitas ótimas referências na internet, nosso artista de cinema é, por si só, fonte de curiosidade para todo mundo que o acompanha ou vê, pelo menos, dois de seus filmes. Com estilo próprio e já comentado aqui, com um trato narrativo cuidadoso e de humor refinado entre a acidez e a ingenuidade, é sempre um deleite acompanhar sua trajetória dentro e fora do cinema. Não é à toa esse volume de referências, homenagens e estudos sobre o homem. Com isso, nos despedimos dele e no aguardo de seu último filme. 

Agora, vamos pensar... quem poderia ser o Artista de Cinema de Setembro? Sugestões?
E, se gosta do que vê por aqui, passa no buy me a coffee e me ajuda a manter este site em pleno funcionamento! :)
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Semana começando, o mês já cruzando a metade - parece que agosto nunca passou tão rápido (ou todos os outros meses passaram devagar e nosso ritmo mudou?) Seguimos com nosso #artistadecinema, Wes Anderson, sempre festejado por onde passa.

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Wes Anderson
Por aqui já falamos um pouco sobre o diretor e sua relevância para o Cinema. Também indiquei cinco filmes para nos aprofundarmos em sua filmografia e agora estamos aguardando o mais novo, The French Dispatch estrear em algum streaming. Os cinemas ainda não abriram aqui no Brasil e mesmo se abrissem, não sei se estamos no melhor momento para investir neles, mesmo com toda a saudade batendo forte. Enquanto desenvolvem a vacina e ficamos na expectativa da redução de contaminados dessa pandemia, trouxe as críticas de dois filmes que assisti quando foram lançados para apurarmos nosso olhar sobre as produções de nosso artista de cinema do mês.

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Moonrise Kingom (2012)
Quero ser criança novamente!, gritou o meu coração. Quando somos jovens, ouvimos nossos pais e tios nos dizerem isso e quase não acreditamos. Eu sentia naquela época – porque tive uma infância muito legal, por sorte – que isso era verdade e que em algum momento eu ia querer um revival. Acabei de sair de Moonrise Kingdom e minha infância voltou com força total.

Sabe aqueles filmes fantásticos da Sessão da Tarde que nos marcaram para sempre? Pessoas da minha geração e de gerações próximas sabem do que estou falando: Conta Comigo, Goonies, História sem Fim, Labirinto, ET, Lagoa Azul. Lembram o filme lindo do ano passado Onde vivem os monstros? O filme desse ano traz a história de um escoteiro mirim e uma garota que se correspondem por carta e decidem fugir: o garoto do acampamento, a garota, de casa. Encontram-se no meio do caminho e partem para um pedaço da costa da pequena ilha em que vivem. E a partir daí, vivemos uma aventura deliciosa, inocente e um pouco sarcástica como só um filme de criança poderia ser. Continua aqui.

O Grande Hotel Budapeste (2014)
Numa aula de ética voltada para o trabalho, o professor falava que um certo filósofo entendia que só poderia considerar alguém ético, depois de sua morte. Aí faríamos um apanhado de sua vida, como um currículo pessoal, levantando seus dilemas e resoluções tomadas. Então, poderíamos qualificá-lo como qualquer coisa. Assim, passamos a vida acima de qualquer suspeita, sem sabermos como definir-nos, mas com isso, carregando uma ‘culpa’ de estar sempre tentando fazer o bem, para que no fim, ganhemos um atestado de boa conduta post-mortem. 

Falo disso, porque tenho uma dificuldade em estabelecer ídolos. Grandes músicos, políticos, homens e mulheres das artes e esportes perderam um pouco desse glamour, dessa aceitação pelo que produzem e eu mesma fico pensando se aqueles que acho incríveis são realmente assim. Não sei se podemos chamar isso de perda da inocência, da ingenuidade que é essa facilidade em acreditar no outro, mas hoje contamos nos dedos quem admiramos fortemente. Pensando no cinema e nos diretores vivos, um que me ganhou e que espero que produza na mesma frequência do atualmente execrado, mas diretor de grandes filmes Woody Allen é Wes Anderson. Continua aqui.

***

Semana que vem teremos nosso último encontro com Wes Anderson, nosso artista de cinema de agosto e fiquem ligados para saber quem vai brilhar por aqui em Setembro! Agora que chegamos por aqui, já conhece o Buy me a Coffee? :)
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Segunda terça-feira de agosto e sabe o que isso significa? Que nosso Artista de Cinema está de volta! Hoje trago cinco de seus grandes filmes, para conhecer a versatilidade de suas capacidades criativas.

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Wes Anderson
Para quem perdeu a introdução, este é Wes Anderson, um diretor que imprimiu uma marca específica no cinema norteamericano. Sua filmografia ainda não é extensa, provavelmente por precisar de um tempo de maturação das obras e de poder juntar seus colaboradores de sempre e da vida, como Owen Wilson, Roman Coppola e Jason Schwartzman. Vamos ver aqui cinco de seus incríveis e inusitados filmes. 

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Três é Demais - Rushmore (1998)
Max Fisher (Jason Schwartzman) é um aluno bolsista na escola preparatória Rushmore. Ele não vai bem nas matérias e talvez perca o ano, mas cumpre diversas atividades extracurriculares, o que lhe dá algum mérito. Neste meio tempo, ele conhece Herman Blume (Bill Murray) um magnata que atravessa uma depressão e Rosemary Cross (Olivia Williams), uma professora da escola. Além deles, há outro interessado em Rosemary, Dr. Peter Flynn (Luke Wilson). É nesse clima de disputa em uma escola que o filme se desenrola. Segundo longa de Anderson, com roteiro de Owen Wilson e do diretor, o filme ainda não tem aquela grandiosidade na direção de arte e figurino que marcará sua carreira, mas os diálogos e o desenvolvimento de personagens bastante particulares e interessantes se percebem aqui. O tom de comédia que marcará sua carreira também já se apresenta como algo estabelecido desde sempre, provavelmente um traço da personalidade do diretor e de seus amigos - dá vontade, inclusive, de fazer parte dessa turma. O filme está no Google Play e o trailer, aqui.

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Viagem a Darjeeling (2007)
Um dos meus filmes preferidos, ele junta tudo o que é legal: é um filme de estrada (de trem, mas é), tem o roteiro e tudo de ótimo que nosso artista de cinema faz e junta esse trio maravilhoso, Adrien Brody, Owen Wilson e Jason Schwartzman. Aqui, eles são três irmãos que vão a Darjeeling, na Índia em uma viagem proposta por Francis (Wilson) para que voltem a ser também amigos, ao invés de irmãos afastados. Inteligente, mais uma vez com grande roteiro e personagens deliciosos, o filme é uma delícia de assistir, e nos deixa com o coração aquecido. Viagem a Darjeeling está no Google Play. Confira o trailer aqui. Há um bônus para quem vai assistir Darjeeling, o curta Hotel Chevalier conta um pouco a 'pré-história' de um dos personagens até o reencontro dos irmãos. Vem ver!

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Fantástico Sr. Raposo (2009)
O Fantástico Sr. Raposo é a primeira animação a que Wes Anderson se propõe a fazer. Adaptação literária do livro homônimo de Roald Dahl, conta a história de uma família de raposas em que o pai (George Clooney), antes um orgulhoso ladrão de galinhas, se vê responsável e por pressão da esposa (Meryl Streep), larga o ofício e vira um bom jornalista que quase ninguém lê. Buscando melhorar de vida, retoma o velho hábito e coloca a família e um grupo de roedores em apuros. Mais uma vez, Jason Schwartzmann e Bill Murray retornam ao elenco junto com os já citados, somando-se ainda o próprio diretor e Willem Dafoe. Para quem já está familiarizado com o estilo do autor, é uma novidade gostosa ver a animação que se abre também para o público infantil. Uma grande obra sobre a natureza que nos compõe, companheirismo, família e senso de comunidade. O filme está no amazon prime e o trailer, aqui.

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Moonrise Kingdom (2012)
Aqui, em termos de direção de arte e figurino, é uma imensa obra do diretor. Com elenco espetacular (Bill Murray, Jason Schwartzmann - risos - Bruce Willis, Frances McDormand, Tilda Swinton, Edward Norton e os jovens, Jared Gilman e Kara Hayward), em Moonrise Kingdom tudo acontece em um acampamento quando Sam (Gilman) se corresponde por carta com Suzy (Hayward) e decidem fugir juntos do local. O acampamento então se une para a busca e resgate dos dois. Um retorno à infância, aos filmes de ingenuidade e que vale para todas as idades. É realmente delicioso de assistir, com muitas peculiaridades e a fantasia de uma idade terna onde tudo é possível. Vale cada minuto. O filme está no amazon prime. O trailer, aqui e minha crítica também.

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Grande Hotel Budapeste (2014)
Outra grande obra do nosso já mais do que consagrado artista de cinema é Grande Hotel Budapeste. Com uma narrativa brilhante e novamente a marca registrada da direção de arte e figurino bastante particulares e caras a Wes Anderson, junte se a isso, o elenco (Jude Law, Tom Revolori, Edward Norton, Jason Schwartzman, Harvey Keitel, Bill Murray, Saoirse Ronan, Ralph Fiennes, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Defoe, Jeff Goldblum, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Lea Seydoux e mais) e o desenvolvimento de personagens. É impressionante como seus filmes são sempre ascendentes em qualidade e, mesmo os primeiros, já são muito bons. Zero (Revolori) era o 'lobby boy' do hotel em seus tempos áureos. Anos depois e hoje gerente do hotel decadente, ele encontra-se com um escritor (Wilkinson) e conta a sua história quando um grande concierge (Fiennes) era seu chefe. Não falo muito, deixo a crítica para decidirem. O filme está no telecine play, o trailer, como de costume, aqui.

Em 2018, Anderson lançou Ilha dos Cachorros, outra animação em stop motion e este ano sai The French Dispatch, para nosso deleite. Aproveita essa temporada e investe no diretor, porque vale muito a pena. Acompanhe nossos artistas de cinema todo mês. Doses de cafeína turbinadas com um pouquinho dos melhores nomes do cinema mundial.

E em tempo, me paga um cafezinho? =)
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Demorei, mas cheguei! Agosto veio com tudo aqui em Salvador, aquele mês longuíssimo, mas que entrou corrido na minha semana. Muitas mudanças que contarei depois, mas, antes de mais nada, é hora de apresentar o Artista de Cinema do mês!

Wes Anderson
Este rapaz com cara de francês é o texano de Houston, Wes Anderson. O diretor e roteirista é responsável por trazer um cinema americano específico em estilo e narrativa, o tornando um 'autor' dos tempos modernos. Seus filmes são sempre de comédia, com um humor peculiar em texto e performances de quase sempre os mesmos atores. A importância do diretor recai em seu talento, ao nos carregar para vivermos histórias inusitadas e divertidas.

Curiosamente e de acordo com o imdb, seu filme favorito é O bebê de Rosemary (1975), de Roman Polanski. Aqui entram algumas questões que mencionarei brevemente, porque não são o foco. Um é nomear um filme de um diretor 'maldito' como o melhor da vida. Não precisa ser polêmico, mas precisamos discutir as obras destes diretores, que talvez infelizmente, fazem grandes filmes. Digo isso, porque, como pessoa que gosta/estuda/vive de cinema é um sofrimento mesmo lidar com filmes maravilhosos e diretores com histórias de vida bizarras, para dizer o mínimo. Em segundo, e agora cito outro diretor complicado, há uma semelhança em gosto entre Anderson e Allen, dois autores de comédias - completamente diferentes em estilo e forma - que se inspiram em dramas e os têm como referência. Enquanto nosso Artista de Cinema elegeu um dos maiores filmes de Polanski, Woody Allen sempre quis e ensaiou se aproximar de Ingmar Bergman, seu grande ídolo de todos os tempos. Depois de muito tentar, ficou a certeza de que seu caminho é outro. 

Depois deste imenso e talvez desnecessário parêntese, Wes Anderson traz um pouco de suas histórias pessoais e amigos para seus filmes. Três é demais (1998) reaproveita os nomes dos colegas de escola, Owen Wilson é seu amigo desta época e junto com Luke Wilson, o irmão, participam em alguns de seus filmes. Há quase sempre o mesmo elenco, com Jason Schwartzmann, os Wilson, o sempre incrível Bill Murray, Tilda Swinton, Adrien Brody e por aí vai. Essa familiaridade, quando passamos a acompanhar a filmografia do diretor, gera um conforto e a expectativa de que reencontraremos velhos amigos para viver uma nova história. 

Dos filmes do diretor, gosto muito de Três é Demais (1998), Viagem a Darjeeling (2007), Moonrise Kingdom (2012) e Grande Hotel Budapeste (2014). Além desses, há outros ótimos e vamos falar deles em breve, inclusive do aguardado The French Dispatch. Aproveitemos este agosto para conhecer as produções do diretor, que sempre traz uma forma inusitada, um clima diferente, ao contar suas histórias, com grande investimento em direção de arte e figurino. Este artista de cinema é, realmente, especial. Vou até colocar o poster do novo filme, só para ficarmos na vontade.
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The French Dispatch (2020)
***

Para conhecer os artistas de cinema de maio, junho e julho, é só clicar nos meses e aproveitar!
Semana que vem, volto com mais informações, dicas e curiosidades sobre nosso novo 'convidado'. :)
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Hoje é dia de artista de cinema e a essa altura, já sabemos que Céline Sciamma é a escolhida de julho. Nesta terça, é dia de criticar um filme da diretora e como temos duas grandes obras já esquadrinhadas, aproveito para alimentar a nossa cinefilia com a indicação delas aqui.

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Retrato de uma jovem em chamas (2019)
Do ano passado e com a brilhante Adele Haenel, o filme é uma obra-prima por tudo o que se compreende como o bom cinema. Roteiro enxuto, grandes atuações, uma fotografia que se comunica com a ideia de pintura e retoma os conceitos de arte, a construção das personagens, absolutamente tudo funciona. A crítica está nesse link, passa aqui. 

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Tomboy (2011)
Nove anos antes do lançamento deste inflamado Retrato..., Céline Sciamma já causava alvoroço com seu Tomboy, a história de uma garota que, ao mudar de endereço com a família, passa a se apresentar para a nova vizinhança como um garoto. Toda a discussão de gênero acontece aqui de forma sutil e inteligente, sem se perder no ar ou provocar julgamentos superficiais. O filme é uma lindeza sobre a infância e suas descobertas. A crítica está aqui.  

***

Para acompanhar as postagens de julho de Céline Sciamma, é só clicar!
E para conhecer um pouco mais sobre Alfred Hitchcock, o artista de cinema de maio e Fernanda Montenegro, a de junho, basta ir nos links em rosa. :)
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Terça-feira é dia de cinema por aqui e, como não poderia faltar, trouxe a nossa Artista de Cinema de julho, Céline Sciamma, com cinco de seus grandes filmes para comentarmos um pouquinho. 

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Céline Sciamma
Céline Sciamma hoje é uma das cineastas mais conhecidas da França, especialmente depois do filme lançado ano passado, Retrato de uma jovem em chamas. Quase que instantaneamente, a obra passou a figurar nas listas de melhores filmes do país. A diretora e roteirista, entretanto, tem uma carreira sucinta e de apenas grandes sucessos, a ver pelo que segue listado aqui. Então, de cara, fica fácil conhecer sua obra inteira e esperar ansiosamente - e respeitosamente, para dar o tempo de maturidade de algo ainda maior que os anteriores - pelo próximo projeto.

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Retrato de uma jovem em chamas (2019)
Um dos melhores filmes dos últimos tempos, já foi criticado aqui e também serviu como dica no instagram antes da pandemia. A obra conta a história de Marianne (Noémie Merlant), uma pintora que fará o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), uma mulher que vive isolada em uma ilha na Bretanha. A ideia é que este retrato sirva como uma 'promessa de compra' ao futuro potencial marido. No século XVIII, era através destes registros que as uniões eram provocadas e prometidas, então a qualidade e honestidade da obra era algo a se respeitar. As duas estabelecem uma relação de cumplicidade e algo mais que se torna imperativo e urgente. Surge um amor firme que se estende e aperfeiçoa com o tempo que estas mulheres passam juntas e essa troca nós acompanhamos através também da construção fílmica: nos enquadramentos, figurinos, através dos diálogos, da fotografia. O filme é um emblema para o Cinema com letra maiúscula, é uma impressão firme de arte de tal forma, que ficamos com medo de piscar e perder alguma coisa. Para saber mais, clica aqui. E para assistir, encontrei no telecine play.

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Garotas (2014)
Uma garota da periferia de Paris lida com o dia a dia de uma mãe que trabalha muitas horas para sustentar a todos, um irmão agressivo e ainda duas irmãs mais novas. Em plena adolescência, Marieme/Vic (Karidja Touré) precisa decidir que caminho seguir e seus rumos e descobertas são tratados aqui com um sensibilidade e maestria que quase nunca vemos em obras de formação. Um filme sobre juventude e adolescência, uma lindeza em todos os tons. Nesta época, eu conhecia Céline Sciamma por Tomboy e já me parecia importante. Ao ver este, percebi o potencial, cuidado e entrega de uma diretora. Está disponível no now, google play, youtube e apple tv.

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Tomboy (2011)
Um filme incrível. Laure (Zoé Haren) tem 10 anos e acaba de se mudar com a família para uma nova cidade. Uma tarde, decide sair para conhecer os vizinhos e ao se apresentar, assume o nome de Mikael. A apresentação do filme é seu grande trunfo: as consequências e os comportamentos de Laure na rua e em casa são tão improvisados quanto essa nova identidade que concebeu para si. Uma obra que não pretende nada além de mostrar a infância e suas descobertas: uma garota que se apresenta como garoto e o que isso significa? Será que significa ou tem que significar alguma coisa? Inteligente, leve e com uma abordagem honesta e brilhante, nos faz ficar sem fôlego com o dia a dia de uma garota, sua família e seus amigos. Na apple tv e a crítica segue aqui!


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Pauline (2010)
Da coleção 5 filmes contra a homofobia, esse curtinha de quase oito minutos com talvez três planos nos prende como se estivéssemos ouvindo uma amiga contando uma história. Pauline (Anaïs Demoustier), essa mocinha da foto, conta como foi sua adolescência e descoberta sexual, entre a ridicularização da família e amigos e a decisão de seguir em frente. A forma como Pauline narra, provoca em nós essa dimensão de escuta e de forma delicada, participamos e entendemos prontamente os preconceitos, as relações familiares, as dificuldades de todo os lados. É apenas o segundo filme de Sciamma, que estreou com um longa - Lírios d'água (2007) - nos cinemas. Está no youtube, grátis e com legendas em inglês.

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Lírios d'água (2007)
Encerrando com chave de ouro, o filme de estreia de nossa artista de cinema é Lírios d'água, um drama que gira em torno de três garotas e suas descobertas amorosas. Marie (Pauline Acquart) é apaixonada por Floriane (Adèle Haenel, sempre com Sciamma), que sabe do furor que causa e gosta de François (Warren Jacquin), por quem Anne (Louise Blachère) é apaixonada. Neste quarteto, a adolescência chega com toda a força e ternura dos primeiros amores, beijos e experiências. Uma obra novamente sensível, já com a carga e o poder dos ideais feministas e da força das grandes amizades entre mulheres. A última cena, inclusive é referência e referenciada em outros filmes do 'gênero'. Uma grande forma de começar a carreira. 

*Para saber mais sobre Céline Sciamma, nossa Artista de Cinema de julho, clica aqui!
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Com poucos e imensos filmes na carreira, Céline Sciamma é hoje o grande nome da arte na França. De tudo o que eu vi da autora, gosto de tudo - assim mesmo, radical e redundantemente. Não é à toa e vou me justificar, que elegi a moça, a Artista de Cinema deste nosso julho de isolamento social (importante marcar a duração deste período). Vamos?

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Céline Sciamma
Quando assisti Girlhood (2014), já conhecia Céline Sciamma por Tomboy (2011), um filme lindo e único sobre uma garota que se veste de garoto. O que eu não havia atentado até hoje - sim, esse texto é bem fresco -  é que em Girlhood, temos uma diretora e roteirista branca falando sobre a adolescência de meninas negras na França. Sem tecer qualquer julgamento acerca do que que acabei de soltar, imagino que ela deve ter ouvido algumas sobre a temática e o lugar de fala. Ao mesmo tempo, o filme é tão sensível e delicado, que - a meu ver - não toca na questão de fala como apropriação, mas sobre a história de um grupo de meninas vivendo a adolescência. Independentemente de qualquer coisa, Sciamma tem muito a dizer e é por isso que hoje é uma das diretoras mais importantes que temos e nossa Artista de Cinema de julho.

Nascida em uma cidade próxima a Paris, Céline Sciamma estudou literatura e depois enveredou para o cinema, se graduando na respeitada La Fémis, em 2005. De lá pra cá, estreou já com um longa metragem, Lírios d'água (2007), com Adéle Haenel, sua parceira de vida por muito tempo e em muitos projetos. Desde sempre, o foco da diretora e roteirista sempre foi ter a mulher como protagonista e tema em suas produções. O tratamento de gênero, maturidade e comportamento são os motes para construir imagens de mulheres reais, em situações possíveis em que não reafirmam um olhar masculino de segundo plano e objetificação. Essa reconstrução da percepção feminina é a marca de seu cinema e nosso imenso ganho em tê-la produzindo. Dá para ter um gostinho da produção dela no curta Pauline (2010), parte de uma série de filmes contra a homofobia, legendado em inglês e grátis no Youtube.

Sciamma se tornou ainda mais célebre ano passado por força de duas situações que se comunicam: o lançamento de Retrato de uma mulher em chamas, certamente um dos melhores filmes de muitos anos (para não ficar apenas em 2019) e sua recusa em aceitar ver Roman Polanski recebendo o César de melhor diretor e roteiro por O Oficial e o Espião (2019). Ela, Adéle Haenel e muitas outras atrizes deixaram o evento. Segundo a diretora, há duas questões aí: é preciso que a França acorde para parar de premiar pessoas com o histórico criminoso do diretor e, por outro lado, encarar a percepção de que no país, como em tantos outros, ainda há uma noção tardia e cruel de aceitação e celebração destas figuras. O que ela pode fazer com relação a isso é seguir produzindo obras contundentes, críticas e renascedoras com espírito e força feministas.

Batalhei para escolher Sciamma como a Artista de Cinema, apenas porque seus filmes não estão nos streamings de maior acesso, mas, ainda assim, dá para encontrá-los facilmente. Artistas como ela são imprescindíveis na trajetória da arte em si, como também para o incremento do nosso acervo cultural e intelectual enquanto indivíduos. Retrato de uma jovem em chamas foi seu filme de maior alcance até hoje e ainda consigo sentir na pele as emoções quando o assisti no cinema. É uma obra sensível, brutalmente inteligente e delicada, que em pouco menos de duas horas, traz um panorama histórico de gênero, comportamento, tradição e cultura de séculos passados e que persiste ainda hoje, de alguma maneira. Ao mesmo tempo, é uma história de amor entre duas mulheres, cuja paixão inicial vai se transformando e até sua manifestação. A forma como o tema do amor é abordado é transformadora e revolucionária. Especialmente se tratando de um romance entre mulheres - indo na contramão do que a indústria cultural e de massa costuma exibir com o tema, como Azul é a cor mais quente (2013), por exemplo.

Céline é mestra em seu trabalho e sua vida e obra se entrelaçam, trazendo suas questões para a nossa discussão, com sensibilidade e reflexão. Na próxima semana, nossa Artista de Cinema volta com uma breve análise sobre seus filmes e a importância deles em nossas vidas. Te espero aqui.  

*Para conhecer nossos outros Artistas de Cinema, clica aqui, em maio e junho.
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Chegamos na última semana do mês e para encerrar com chave de ouro os assuntos sobre nosso #artistadecinema de junho, vamos com uma coisa muito especial. Chega mais!
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Biblioteca de Sift Admont
Como já sabemos, Artista de Cinema é nossa postagem semanal sobre uma personalidade importante para a sétima arte no mundo. Suas contribuições são relevantes não apenas para o fomento cultural, como servem de referência para futuras gerações. Em Junho, nossa convidada especial foi ninguém menos do que Fernanda Montenegro, esta entidade da nossa cultura brasileira. Hoje, para encerrar o mês, fechamos com sua autobiografia lançada ano passado, Prólogo, Ato e Epílogo. 

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Prólogo, ato, epílogo, Fernanda Montenegro
Elaborado a partir de uma série de conversas e entrevistas com a colaboração de Marta Góes, Fernanda Montenegro constrói um linha de tempo sobre sua vida, que nos permite partir do que ela considera o princípio - a chegada de seus antepassados, imigrantes italianos e portugueses no Brasil. Esta seleção não é arbitrária, nossa artista de cinema parece querer marcar sua origem como aquela ao país que pertence e do qual nunca quis se afastar - o Brasil como residência e herança.

Assim seguem suas memórias de quase cem anos, sempre entrelaçadas com nossa história política e cultural - o início de sua formação de rádio e teatro, o posterior ingresso na tv, os filmes com os grandes nomes do nosso cinema. Fernanda Montenegro é em si um patrimônio e talvez o maior nome de nossa dramaturgia contemporânea - alegria e honra de qualquer diretor e produtor cultural trabalhar com ela.

O livro cruza momentos difíceis de nossa História por quem os viveu muito de perto, produzindo cultura: os anos de chumbo da ditadura militar. Fernanda Montenegro viu seus amigos serem presos, torturados, desaparecidos. Viu as peças de teatro serem escandalosamente censuradas parcial e integralmente e resistiu, esperou por dias melhores enquanto driblava a dor de perder a arte livre e o medo de um cotidiano sombrio. Ao mesmo tempo, acompanhamos o dia a dia íntimo, a família, os filhos crescendo, os pais se envolvendo na educação e apoio aos artistas. 

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Olá! Voltamos com as terças de #artistadecinema e neste junho, com a dama da dramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro. Ela tem nos acompanhado o mês inteiro, com crítica de filme, biografia e muito mais. Hoje é dia de ver um pouco mais dessa mulher incrível e o que circula sobre ela por aí. Fique em casa, pegue um café e vem comigo!

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Fernanda Montenegro
A vida não segue fácil já há um bom tempo e sabemos disso. As últimas notícias, entretanto, nos entristecem um pouco, quando vemos nossos conterrâneos saindo de suas casas e se aglomerando nas ruas, como se a validade do isolamento social estivesse acabado ou a pandemia desaparecido. É difícil ficar tanto tempo em casa, não está fácil para ninguém, mas sair agora só alongará esse tormento. Façam como Fernanda e fiquem em casa, seguiremos juntos, produzindo conteúdo bacana para te distrair nestes momentos delicados desde longo 2020. Hoje, o desafio é a seleção de coisas bacanas sobre a atriz que já nasceu multimídia, com uma carreira tão diversa quanto extensa em muitos meios artísticos. Mas vale a tentativa, né?

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Francisco Cuoco e Fernanda Montenegro em 1961
Começando daquele jeito, com um arquivo especialíssimo da Funarte: uma entrevista em áudio em que Fernanda Montenegro sabatina ninguém menos que Nelson Rodrigues em 1974. A foto acima é de uma montagem de Beijo no Asfalto em 1961, do autor. Fernanda encomendou a peça para Nelson que foi um sucesso estrondoso e a parceria dos dois não terminou aí. A atriz ainda filmou A Falecida, a novela A morta sem espelho e Vestido de Noiva. O áudio você encontra aqui no site da Funarte e é incrível.

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Sangue Latino
Em uma edição de Sangue Latino, programa do Canal Brasil, de dois anos atrás, com Fernanda Montenegro, ela fala um pouco sobre o ofício do ator, entre outras coisas. O episódio você encontra na íntegra (para assinantes) no Canal Brasil e no Globosat Play, mas o trecho do ofício do ator é tão brilhante e da forma como foi posto por ela, se tornou único. Está disponível no youtube. Dá quase um orgulho nacionalista saber que uma mente como esta é nascida e criada no mesmo país sofrido que o nosso, cuja educação e arte seguem na carência dos desgovernos. Como se não bastasse, ainda há no Espelho, programa com Lázaro Ramos do ano passado, a entrevista completa e gratuita aqui. 

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Central do Brasil (1998)
Em 1999, Fernanda Montenegro realizava um feito inédito para o Brasil: concorria a Oscar de melhor atriz por Central do Brasil. Além dela, a obra também estava competindo como Melhor Filme Estrangeiro e todos sabemos bem porquê, é realmente muito bom. A notoriedade brasileira ela já havia conquistado há muitas décadas, mas passou a de fato se tornar relevante fora do país nessa época. Dentre as várias entrevistas que deu, uma ficou marcada por ser um programa relevante nos Estados Unidos, o de David Letterman, uma espécie de Jô Soares gringo. O trecho legendado de Fernanda Montenegro é ótimo e você encontra ele aqui. Vale a visita.

Fernanda Montenegro e o teatro
Com mais de 70 anos de carreira, era de se esperar que a maior atriz do nosso teatro, cinema e tv fosse convidada para ministrar aulas e palestras por todo o país. Em uma conversa animada com estudantes de teatro no Teatro Bom Jesus, em Curitiba, Fernanda Montenegro fala sobre a própria carreira, responde perguntas, fala sobre o ofício do ator em uma aula magistral e imperdível que também foi disponibilizada gratuitamente para seu ávido público. Tudo aqui, neste link. 

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Prólogo, ato, epílogo - Fernanda Montenegro
Saiu ano passado pela Companhia das Letras, o livro de memórias de Fernanda Montenegro. Incrível, conta toda a sua vasta jornada pelo universo das artes e trajetória de vida, família, educação, amigos. Uma aula de cultura brasileira. O livro pode ser encontrado em quase qualquer livraria do país e é uma grande aquisição para aqueles interessados em nossa cultura. 
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Do livro de Martha Batalha para o cinema de Karim Ainouz, A vida invisível de Eurídice Gusmão alcançou dois grandes marcos da cultura brasileira: o livro já era um sucesso antes de chegar ao Brasil - sendo brasileiro - e o filme é aplaudido largamente por onde passa. Hoje é o dia de falar do filme, aproveitando a participação de Fernanda Montenegro nele, nossa Artista de Cinema de junho.

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A vida invisível (2019)
Adaptação do livro de Martha Batalha, A vida invisível  é dirigido por Karim Ainouz e não é exagero dizer que, desta vez, o filme supera o texto. O drama conta a história de duas irmãs, Guida (Júlia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte), que tomam caminhos diferentes, quando uma decide fugir para a Grécia para viver um grande amor e a outra permanece e se casa, com a ambição de seguir para Viena tempos depois. Ambientado nos anos 50 no Rio de Janeiro, acompanhamos em paralelo os desencontros das duas, que acabam vivendo na mesma cidade sem saber e passam a vida buscando uma a outra.

A sensibilidade experiente de Karim Ainouz vem com toda a força neste drama de amor familiar e força feminina. As personagens parecem sempre estar pela metade, com se seus complementos andassem invisíveis ali perto, mas nunca à vista. Em Guida há uma rotina à parte, longe do berço, fazendo a vida pobre se tornar algo. Eurídice se manteve em família, com seus desejos e ambições sempre empurrados pra frente, em um pai que lhe queria casada, em Antenor (Gregório Duvivier), um esposo caricato que lhe quer em casa. A performance do ator incomoda, talvez pela proposta do exagero - que quem sabe não parece real demais naqueles anos 50 e em muitas casas dos nossos 2020. O que vale aqui é o olhar delas em grandes performances que sustentam a trama até o desfecho, quando então, Fernanda Montenegro (Eurídice), em poucos gestos e palavras, domina a tela.

Enquanto o texto não me provocou o desejo que fez Karim abraçar a ideia, seu filme vale ouro. É impressionante como ele imprime uma verdade na narrativa, como torna suas histórias - Madame Satã (2002), O Céu de Suely (2006), Abismo Prateado (2011) e Praia do Futuro (2014) - dotadas de uma sensibilidade, um olhar de observador experiente, como se, em até nos protagonistas mais imponentes, coubesse uma introspecção que promove uma identificação imediata com o que está sendo contado. E isso acontece com qualquer uma de suas histórias, com todas. É um dos grandes nomes de nosso cinema e vale acompanhá-lo de perto. 

Em Cannes ano passado, A Vida Invisível levou o prêmio Um Certo Olhar. Além dele, outros 15 prêmios e 17 indicações entre direção de arte, melhor atriz, coadjuvante, diretor, fotografia e melhor filme espalharam a obra pelo mundo. Não que isso sirva para o grande público, mas é, ao menos, um atestado de que há um olhar critico e um cuidado estético, um apuro na produção. É um bom momento, por fim, para se reconectar com nosso Brasil através de nosso cinema, se enxergando ali, vivendo e reverenciando a nossa cultura. 
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A Artista de Cinema de junho é ninguém menos que Fernanda Montenegro. Já vimos uma rápida biografia e agora vamos partir para algumas de suas produções. A seleção foi difícil e voltada para nosso cinema brasileiro. 

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Fernanda Montenegro
Fernanda Montenegro é um de nossos ícones culturais. Por mais que ela se considere uma reles mortal, mesmo sem querer, ela é uma referência de Brasil, como dizem, do Brasil que deu certo, que nos traz orgulho, que não nos faz passar vergonha. Com uma carreira diversa e extensa em rádio, tv, cinema e teatro, é possível encontrá-la em muitas produções. Como Artista de Cinema de junho, eis cinco filmes de destaque, para conhecermos um pouco mais sobre a atriz.

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A vida invisível (2019)
Adaptação do livro de Martha Batalha, A vida invisível de Eurídice Gusmão e dirigido por Karim Ainouz, não é exagero dizer que, desta vez, o filme supera o texto. O drama conta a história de duas irmãs que se separam quando uma decide viver um grande amor fora do país e a outra permanece e se casa, com a ambição de seguir para Viena tempos depois. Nestes desencontros, as duas acabam vivendo no Rio de Janeiro sem uma saber da outra, por anos a fio. No filme, acompanhamos as duas estórias em paralelo e vemos o crescente da trama com a sensibilidade que só o diretor de O Céu de Suely (2006) consegue imprimir junto a seu elenco, com Julia Stockler, Carol Duarte e Gregório Duvivier. Fernanda Montenegro faz uma participação definitiva e impressionante, com poucos gestos e transmitindo, quase sem palavras, tudo o que precisamos saber e sentir. Levou o prêmio Um Certo Olhar, do Festival de Cannes 2019.

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O auto da Compadecida (1999)
O texto é do magnânimo escritor Ariano Suassuna e esse filme, que também é uma minissérie, é uma produção da Globo, com direção de Guel Arraes. Conhecido do público e o filme brasileiro preferido de muita gente - de meu pai, inclusive - é uma comédia sobre céu, inferno, religião, ambição e humanidade. O texto é uma delícia, os atores estão em sintonia e são nomes de peso em nosso audiovisual e Fernanda Montenegro, nossa Artista de Cinema, chega com tudo, como a mãe de Jesus, Maria. É ela que guia e sela o destino destes rapazes, nessa trama nordestina e carregada de sotaques, crítica social e ingenuidade. Vale muito a pena. Você pode comprar esta maravilha aqui.

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Gêmeas (1999)
No mesmo ano e seguindo outro caminho, vemos outra adaptação literária de um grande nome, Nelson Rodrigues e dirigida por Andrucha Waddington. Aqui, o suspense gira em torno de duas irmãs gêmeas, Iara e Marilene, interpretadas por Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro, que faz uma participação. Na trama, ao nascer, não esperavam gêmeas e chegam ao mundo como prenúncio de uma tragédia, como o próprio pai (Francisco Cuoco) explica ao noivo de uma delas. Com toda a carga que só Nelson Rodrigues consegue trazer ao texto, há uma morbidez inteligente que nos deixa instigados a participar do jogo de sedução e briga de poder entre as irmãs. Veja o trailer.

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Central do Brasil (1998)
Um dos filmes mais famosos e bem criticados do país, Central do Brasil é uma marca histórica do nosso cinema. Dirigido por Walter Salles, o mesmo de Jia Zhangke - um homem de Fenyang (2015) e Na estrada (2012), baseado no livro clássico de Jack Kerouac. Dora escreve cartas para pessoas analfabetas na Central do Brasil, uma estação de trens de passageiros da cidade do Rio de Janeiro. Ela conhece Josué, uma criança que vive com os irmãos, perdeu a mãe e está em busca do pai, que ainda não conhece. Juntos, Dora e ele embarcarão nesta saga que os levará a lugares menos turísticos do país, trazendo parte do Brasil real para as telas. Lindo, emocionante, nos faz reconhecer nossa diversidade cultural de uma forma sensível e arrebatadora. Fernanda concorreu ao Oscar de Melhor Atriz e é, ainda hoje, a única brasileira a chegar até lá.

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Eles não usam black tie (1981)
Adaptação da peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri e tendo ele como um dos atores principais, este é uma obra prima de nosso cinema. Leon Hirszman. Um dos diretores de Cinco Vezes Favela (1962), um dos filmes mais importantes de nossa história cinematográfica, de A Falecida (1965), também com Fernanda Montenegro e de ABC da Greve (1990), traz uma história nos anos finais da ditadura e sobre a ditadura. Todos já sabiam o que se passava nas salas do DOPS e promover uma greve geral em uma indústria era tido como um ato subversivo, ainda que fosse um direito do trabalhador. Fernanda Montenegro é Romana, a esposa de Otávio (Guarnieri), que é envolvido politicamente no processo. Em sua família, há o filho mais velho que também trabalha lá e tem uma visão diferente do pai. Ele acha que é melhor não se envolver e garantir o seu, em vez de lutar por um bem comum. Impressionante, a atriz domina absolutamente todas as cenas em que aparece, especialmente aquelas que envolvem os atores mais jovens, com uma sensibilidade e simpatia, como se sua personagem fosse uma de nós. Esse filme está completo no Youtube e grátis, numa qualidade razoável, mas que dá para ver. Deu saudade das aulas de cinema da graduação, de discutir a imagem do Brasil e do brasileiro nas telas e em filmes 'de verdade'.

Para saber mais sobre a vida de Fernanda Montenegro, comece aqui e para descobrir nosso Artista de Cinema de Maio, coisa que aconselho fortemente a fazer, clique neste link! =)
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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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