• Home
  • Sobre
  • Portifólio
  • Contato
linkedin instagram facebook pinterest

Café: extra-forte

Faz tempo que não venho indicar filmes e séries para assistir. Talvez por ter esses conteúdos mais perto por conta do trabalho, a percepção é a de que há muito do mesmo, muito barulho por nada, muita massificação de conteúdo. E, para piorar, todos os streamings buscam basicamente os mesmos gêneros e formatos para novas produções. É difícil.


Mas sempre há, no meio do ruído, uma brecha, um som especial. E essa nota particular encontrei em Landscapers, exibida pela HBO Max. Deixando claro, estou no terceiro episódio, mas a série inglesa baseada em fatos reais e protagonizada por Olivia Colman e David Thewlis é brilhante.

O tranquilo, ingênuo e excêntrico casal Edwards é acusado de assassinar os pais abusivos de Susan, a esposa, mais de uma década atrás. O casal, agora na França, assume tê-los enterrado no próprio quintal, como uma forma de cuidado. A polícia inglesa os encontra após uma denúncia e eles retornam à Londres, se entregando para as diligências. Com um humor peculiar entre a inteligência dos gestos, a morbidez dos atos não assumidos e personagens milimetricamente construídos para o deleite do próprio elenco e do público, não há como não se encantar. É viciante.

Olivia Colman | Landscapers

O roteiro flerta com o teatro em cenários de luzes exageradas como se eles próprios fossem personagens, marcando flashbacks, fantasias e o tempo presente, também com projeções de vídeos e filmes ao fundo. A direção de arte e cena criam um clima tão curioso, que pensamos menos no crime e mais em como estão contando aquela história… ou qualquer história. O elenco é estelar; além do casal conhecido, temos Kate O’Flynn (Brexit, Wonderlust, Bridget Jones) e Samuel Anderson (Lady in the van, Loaded, Football Monologues) como detetives cobrindo o caso.

A HBO acertou em cheio ao trazer essa produção da Sky Atlantic para o mercado internacional. Novamente, se trata de um dos gêneros mais consumidos e produzidos no mundo, o de crime verdadeiro, que transita entre ficção e documentário nos dois formatos (filmes e séries), alimentando a curiosidade mórbida e ávida de seus espectadores. Todos os streamings têm produções do gênero aos montes, mas poucas são realmente interessantes. Aqui, a série ficcional traz ainda ao fim de cada episódio, reportagens da época cobrindo com verdade jornalística os atos criminosos de uma família disfuncional.

Samuel Anderson e Kate O'Flynn | Landscapers

Não espere encontrar uma série de crime comum com uma investigação padrão como as que conhecemos. As reconstituições são brilhantes e até as participações curtas do elenco de apoio são muito bem feitas. Também não espere gargalhadas, o humor entra na estranheza dos detalhes, nas interpretações impressionantes de Colman e Thewlis, principalmente, e nas ironias de olhares e diálogos. Tudo se equilibra bem, numa educação inglesa como as que vemos nos cinemas, da hipocrisia escancarada, da educação dos gestos discretos até, provavelmente, a explosão dos acontecimentos e possíveis surtos dos nossos heróis à medida que a trama agudiza.

Fico me perguntando se não está na hora das séries irem para a grande tela. A fotografia, a escolha dos planos, tudo aqui parece feito para os cinemas, inclusive a liberdade criativa na forma como contam a história, mesclando a fantasia que há em nossos protagonistas ao que seriam os fatos à luz do dia, o crime, os possíveis desfechos. É o retorno da ilusão que esperamos e precisamos encontrar quando entramos na sala escura, a experiência de viver aqueles minutos em suspensão e ter o deleite de conhecer uma história bem contada. Landscapers, tem tudo isso com a força de uma história verdadeira. Pra quem quer ver algo diferente, a série é, com certeza, uma boa aposta.

David Thewlis | Landscapers

***

O Café está em constante e parcimoniosa atualização. Em breve, volto com novidades. Para contribuir e deixar este lugar ainda mais aconchegante, dá uma passada no buy me a coffee. Por muito pouco, se faz muita diferença ;)

Share
Tweet
Pin
Share
1 Comentários
Na primeira crítica do ano, vamos com um assunto que parece batido e velho, mas que está todos os dias diante de nós: a humilhação pública. Conhecida como cultura do cancelamento, o tema do documentário 15 minutes of shame da HboMax, tem tudo a ver com o nosso cotidiano, com empatia, ignorância e respeito. Produzido por quem sabe muito sobre o assunto, Monica Lewinski.

15 minutes of shame, hbo max
O diretor Max Joseph e sua produtora, Monica Lewinski

Quando vivemos um período de crise, de forma geral, somos tomados por emoções e acabamos tomando decisões precipitadas. Parte delas são julgamentos sobre pessoas e fatos com base nas informações que recebemos em qualquer meio: julgamos por uma decisão errada, uma frase equivocada, uma ação precipitada, uma foto – como as que nós mesmos podemos tomar ou produzir a qualquer momento. O que nos diferencia de quem comete o erro? A fama, o dinheiro? Às vezes, quase nada, apenas a sorte de não estarmos sob os holofotes.

O documentário traz uma premissa que vale o filme inteiro: a ideia de que não sabemos a história de cada um e julgamos pelo que achamos ser verdade, baseado em nossos parâmetros subjetivos e no que a mídia diz, o que quase nunca significa a mesma coisa.

Além disso, o filme traz um panorama histórico e explicativo sobre a cultura do cancelamento com exemplos em todo o mundo. Comprovamos que o que vivemos é a repetição de um comportamento social antigo e, nem por isso, correto. Os ditames morais de cada período reforçam a prática e, em 2022, os apedrejamentos e banimentos continuam como os de séculos atrás, literal, metafórica e virtualmente. A evolução do desfile da vergonha em praça pública se tornou a fofoca de tabloides com os papparazzis atrás de novidades perniciosas sobre famosos décadas atrás. Hoje, com as tecnologias disponíveis, estes famosos são qualquer um: influencers, tiktokers, instagrammers, youtubers, subcelebridades, BBBs, podcasters, quando não um cidadão comum flagrado em uma situação delicada.

15 minutes of shame, hbo max
Na tradução: 15 minutos de vergonha

Fico me perguntando se o sucesso dos reality shows também não se trata disso, do nosso desejo em julgar o outro e ter ali um programa de TV “realista” que oferece esta possibilidade com pessoas interpretando a si mesmas. Lembremos dos atores de novelas que personificavam heróis e vilões e eram abordados na vida real, recebendo elogios e degradações públicas por uma obra ficcional. Hoje, a ficção não é suficiente. Os realities substituíram a fantasia se fantasiando, eles mesmos, de verdade. Sentados nos sofás das nossas salas de estar, somos os juízes detentores da moral e bons costumes do mundo e distinguimos os dignos de nosso apreço dos que merecem a execração pública. O que não podemos esquecer é: tudo isso é planejado. A humilhação e o banimento dos séculos XX e XXI são uma forma de fazer dinheiro pautada na opinião pública, conduzida através da apresentação de seus personagens e histórias na TV e nos algoritmos online. Nada é por acaso.

No filme, escutamos os especialistas de diversas áreas que trazem reflexões e aprofundam o tema, como a neurocientista que conta como nosso cérebro percebe um indivíduo, indicando que para isso, não basta ter conhecimento sobre ele, é preciso perceber suas emoções e ver seu rosto, conhecer suas expressões. Em tempos de internet, isso se torna supérfluo, especialmente no twitter, o que dá mais poder e menos inteligência às nossas verborragias sobre alguém que, em nosso subconsciente, sequer é entendido como humano. Outra pesquisadora traz a informação de que nosso cérebro libera dopamina ao descobrirmos que um malfeitor foi condenado por seus atos. Partindo disso, fica fácil relembrar tanto a força justa dos movimentos sociais que explodiram na internet da última década em busca de justiça, quanto quando achamos que um indivíduo fez algo errado e foi condenado em nossa praça pública virtual. É a mesma satisfação, mas não pelas mesmas razões. É Tiffany Watt Smith quem estuda o assunto e vai além, falando sobre o prazer que sentimos sobre, com o perdão da palavra, a desgraça alheia.

O filme é interessante e, mesmo tentando abarcar todas as possibilidades de vergonha pública sem necessidade, segue bem, nos fazendo pensar em nossos comportamentos, reações online e no mundo real, e em como somos manipulados todos os dias. É um filme que conversa bastante com O Dilema das Redes e Cidadão Quatro. Produções importantes para pensarmos no conteúdo que produzimos, na atenção que damos ao que nos chega online, em como somos vigiados, no que consumimos virtualmente e como isso nos afeta, nos faz construir linhas de pensamento que se retroalimentam, muitas vezes, alheios à nossa consciência. Somos inundados por uma gama de informações programadas com o objetivo de consolidar opiniões e promover engajamento, gerando lucro para quem as produz. Neste jogo, só nos resta sangue frio e um olhar mais atento ao que nos chega, com o cuidado de promover um engajamento pautado no cuidado e respeito ao outro além, claro, da veracidade do que absorvemos e propagamos. Saímos do documentário com uma reflexão sobre quem somos nestes tempos de manipulação cibernética de forma leve, atenta e com exemplos claros de pessoas que, possivelmente, nós também julgamos quando suas histórias foram à público. Estes são os pouco mais de 15 minutos de vergonha que valem o ingresso.

***

Que tal contribuir para a manutenção do Café? 
No buy me a coffee, com o valor de um expresso, você pode fazer isso!
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários
A HBO Max chega ao Brasil com uma safra de produções de curadoria e produção características. A bola da vez, talvez não tão recente para quem tem acesso ao canal por assinatura, é Shrill, uma série de comédia dramática sobre Annie, uma colunista de vinte e tantos anos de uma publicação millennial digital, a revista The Weekly Thorn. Ela precisa mudar de vida, sem mudar de figura.

Shrill, HBOMax
Aidy Bryant como Annie Easton em Shrill

Annie Easton é gorda. Desde pequena, sua família enfrentou com ela uma cruzada em busca de um corpo mais magro, como sinônimo de saúde, beleza e sucesso em relacionamentos futuros. Nesta saga honesta de pais ansiosos e filhos sofridos, restam os traumas e, com sorte, seus momentos de superação. Superar o padrão de beleza, superar os preconceitos, superar os olhares, se defender sem criar barreiras, tudo é muito difícil, mas, queremos acreditar que as coisas estão melhorando. E estão mesmo, a resposta está nessa série.

Shrill é, em português, aquele som agudo, quase como um grito que rasga tudo quando chega ao nossos ouvidos, de tão estridente. A série promove esse grito, mas com uma suavidade e sofisticação sensacionais. Criada pela protagonista, a atriz e roteirista Aidy Bryant, por Alexandra Rushfield e pela autora do livro em que foi adaptada a história, Lindy West, ficamos hipnotizados por essa mulher de olhar tranquilo, que equilibra com perfeição a meiguice e a acidez, a simpatia e a inteligência. Difícil é não se apaixonar.

A série é sensível, engraçada de uma forma inteligente e com bons personagens. A curiosidade recai na transformação de Annie Easton, a colunista de uma revista da geração millennial que fala sobre consumo, estilo de vida e cultura. Aqui, encontraremos temas mais do que relevantes à sociedade, como o questionamento sobre o estabelecimento da associação entre beleza e magreza, a relação entre saúde e peso, relacionamentos amorosos, respeito a si próprio, autoestima, amizades e valorização de quem se é. É uma delícia de assistir e vale para todo o público adulto, com diversidade e entretenimento garantidos. É uma pérola no streaming.

A HBO Max chega em bom momento ao país, com preços competitivos especialmente nesta semana, em que a Netflix aumentou o valor de sua assinatura. É o momento de dividir a conta com os amigos ou alternar o cardápio do entretenimento. 

Agora, temos grande oferta de produções nesta linha de comportamento que valem ser vistas, guardando seu contexto de produção e momento, nos tirando das figurinhas repetidas de outros meios. Segue uma lista para quem gosta do assunto: 
  • Insecure;
  • Girls;
  • Love Life;
  • I may destroy you;
  • Sex and the city.
Pegue sua pipoca, se prepare e cuidado para não viciar. Com o alívio da pandemia entre nós, já dá pra começar a alternar a vida caseira com algumas voltas na rua. De máscara e mantendo o isolamento, claro. :)

***

Para me ajudar a manter este espaço sempre vibrante, me paga um cafezinho? É só clicar no buy me a coffee e eu te levo lá! Obrigada!
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários
Posts mais antigos

Sobre mim

a


Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


Social Media

  • pinterest
  • instagram
  • facebook
  • linkedin

Mais recentes

PARA INSPIRAR

"Amadores se sentam e esperam por uma inspiração. O resto de nós apenas se levanta e vai trabalhar."

Stephen King

Tópicos

Cinema Contos e Crônicas streaming Documentário Livros Viagem comportamento lifestyle

Mais lidos

  • Sou apaixonada por você, Naila Agostinho
    Sou apaixonada por você, Naila Agostinho
  • Livros: uma missão quase impossível ou como voltar a ler agora em 2020
    Livros: uma missão quase impossível ou como voltar a ler agora em 2020
  • Livro da Semana: Cem anos de solidão
    Livro da Semana: Cem anos de solidão
  • Cinema em Casa | 1899
    Cinema em Casa | 1899

Free Blogger Templates Created with by ThemeXpose