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Café: extra-forte

A HBO Max chega ao Brasil com uma safra de produções de curadoria e produção características. A bola da vez, talvez não tão recente para quem tem acesso ao canal por assinatura, é Shrill, uma série de comédia dramática sobre Annie, uma colunista de vinte e tantos anos de uma publicação millennial digital, a revista The Weekly Thorn. Ela precisa mudar de vida, sem mudar de figura.

Shrill, HBOMax
Aidy Bryant como Annie Easton em Shrill

Annie Easton é gorda. Desde pequena, sua família enfrentou com ela uma cruzada em busca de um corpo mais magro, como sinônimo de saúde, beleza e sucesso em relacionamentos futuros. Nesta saga honesta de pais ansiosos e filhos sofridos, restam os traumas e, com sorte, seus momentos de superação. Superar o padrão de beleza, superar os preconceitos, superar os olhares, se defender sem criar barreiras, tudo é muito difícil, mas, queremos acreditar que as coisas estão melhorando. E estão mesmo, a resposta está nessa série.

Shrill é, em português, aquele som agudo, quase como um grito que rasga tudo quando chega ao nossos ouvidos, de tão estridente. A série promove esse grito, mas com uma suavidade e sofisticação sensacionais. Criada pela protagonista, a atriz e roteirista Aidy Bryant, por Alexandra Rushfield e pela autora do livro em que foi adaptada a história, Lindy West, ficamos hipnotizados por essa mulher de olhar tranquilo, que equilibra com perfeição a meiguice e a acidez, a simpatia e a inteligência. Difícil é não se apaixonar.

A série é sensível, engraçada de uma forma inteligente e com bons personagens. A curiosidade recai na transformação de Annie Easton, a colunista de uma revista da geração millennial que fala sobre consumo, estilo de vida e cultura. Aqui, encontraremos temas mais do que relevantes à sociedade, como o questionamento sobre o estabelecimento da associação entre beleza e magreza, a relação entre saúde e peso, relacionamentos amorosos, respeito a si próprio, autoestima, amizades e valorização de quem se é. É uma delícia de assistir e vale para todo o público adulto, com diversidade e entretenimento garantidos. É uma pérola no streaming.

A HBO Max chega em bom momento ao país, com preços competitivos especialmente nesta semana, em que a Netflix aumentou o valor de sua assinatura. É o momento de dividir a conta com os amigos ou alternar o cardápio do entretenimento. 

Agora, temos grande oferta de produções nesta linha de comportamento que valem ser vistas, guardando seu contexto de produção e momento, nos tirando das figurinhas repetidas de outros meios. Segue uma lista para quem gosta do assunto: 
  • Insecure;
  • Girls;
  • Love Life;
  • I may destroy you;
  • Sex and the city.
Pegue sua pipoca, se prepare e cuidado para não viciar. Com o alívio da pandemia entre nós, já dá pra começar a alternar a vida caseira com algumas voltas na rua. De máscara e mantendo o isolamento, claro. :)

***

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Narrativa e trajetória



“Não sei do que falar… Da morte ou do amor? Ou é a mesma coisa? Do quê?
Estávamos casados havia pouco tempo. Ainda andávamos na rua de mãos dadas, mesmo quando entrávamos nas lojas. Sempre juntos. Eu dizia a ele ‘eu te amo’. Mas ainda não sabia o quanto o amava. Nem imaginava… Vivíamos numa residência da unidade dos bombeiros, onde ele servia.”[1]


Assim começa o primeiro relato no livro de Svetlana Aleksiévitch, Vozes de Tchernóbil, sobre o acidente nuclear na usina de Chernobyl em abril de 1986. O livro é permeado de conversas, encontros que a autora teve com pessoas que viveram e/ou de alguma maneira se envolveram com o evento. Os relatos orais foram trazidos para a versão escrita em detalhes, sem suprimir dolorosos e descritivos momentos. Nossa imaginação, como se lêssemos qualquer outra obra, nos inunda de imagens, não apenas aquelas já conhecidas por revistas e jornais, mas também por outra que criamos a partir do que lemos.

Este ano, a HBO lançou Chernobyl, uma série em cinco episódios sobre o mesmo assunto. A produção, em pouquíssimo tempo, alcançou as melhores e mais amplas observações de críticos e espectadores. É hoje, a série mais bem avaliada de todos os tempos e há mais do que um motivo para isso. A qualidade da produção é inquestionável. Como no livro da autora bielorrussa e prêmio Nobel, os episódios da versão televisiva são permeados de grandes personagens e, mesmo tendo um protagonista, há um peso e dramaticidade em outros para entender o contexto e alcance da tragédia.

Liudmila Ignátienko é a voz que conta a história do primeiro parágrafo deste texto. Junto com seu marido, eles também são parte da trama ficcional da HBO. Seu marido, bombeiro, foi chamado à noite para extinguir um incêndio na usina. Sem mais informações, segue para o local com as roupas para atacar um evento comum e lá se depara com algo inominável do qual tinha poucas informações. É o primeiro e mais sofrido relato do livro. Na versão audiovisual, os personagens aparecem em casa, juntos, à noite. O telefone toca, ele atende e é chamado. A esposa lhe pede que não vá, ele precisa ir. Ela olha pela janela, uma fumaça ao longe na direção da usina, de cor azulada. Estranha aquele brilho bonito e diferente — não pode ser um incêndio comum. Ali era o início do fim daquela família.


“Sete horas… às sete horas me avisaram que ele estava no hospital. Corri até lá, mas havia um cordão de policiais em torno do prédio, ninguém passava. As ambulâncias chegavam e partiam. Os policiais gritavam: ‘os carros estão com radiação, não se aproximem’.” [2]


No livro e na série, Liudmila segue uma via crucis para ver e ficar com seu marido, altamente contaminado. Nós, espectadores e leitores estamos presos à essa história única, de um casal vítima de um acidente imenso. Mas há outros personagens.

Liudmila e Liudmila (Jessie Buckley)

A série abre com uma cena triste, de preparação de um suicídio. Um homem, Valery Legasov (Jared Harris), físico nuclear, está prestes a acabar com sua vida. Ele é chamado para atender, em um flashback, a uma conversa com dirigentes do governo e, então, ao longo da narrativa, se torna um consultor-arquiteto da solução para estancar a emissão de radiação que logo alcançará outros países da Europa. A série avança com marcações de tempo tomando como referência o acidente, e conhecemos Ulana Khomiuk (Emily Watson), a única personagem totalmente ficcional da obra. Ela é uma física nuclear em Moscou e representa todos os outros físicos e químicos da vida real que colaboraram com Legasov na busca pela redução de danos da tragédia. Junto a eles, vemos a história da equipe responsável por executar animais que ficaram soltos à míngua quando Prypiat é evacuada. Como uma imensa tragédia, não há nada feliz e esse peso carregamos até depois do final da série.

Em cada episódio há um foco narrativo; o acidente e o reflexo no povo, a história do bombeiro e a política internacional em finais de Guerra Fria, os executores de animais, a solução encontrada para o acidente, o que motivou o acidente.


“(…)é também questão de desejo e, portanto, de posição simbólica. Nos termos de Émile Benveniste, o filme tradicional é proposto como história e não como discurso. Contudo, ele é um discurso se nos referirmos às intenções do cineasta, às influências que exerce sobre o público e etc.; mas o específico deste discurso, e o próprio princípio de sua eficácia como discurso, é justamente cancelar as marcas de enunciação e de mascarar-se como estória. (Metz, 1977, 133.)”[3]


Antonio Costa cita Metz nos informando sobre discurso, narrativa e objetivo, indução. Em um projeto audiovisual, é preciso ‘iludir’ o espectador, oferecendo uma narrativa que, quando bem proposta, mascara o discurso, que vem como se estivesse por trás de uma névoa, do entretenimento. O conteúdo da mensagem que o cineasta deseja transmitir, o discurso, se insere em nós, espectadores, de forma sutil e sua eficácia está em como promove isso.

“Perguntei:
‘Vássienka, o que é que eu faço?’
‘Vá embora daqui! Vá embora! Você vai ter um filho.’
Eu estava grávida. Mas como deixá-lo? Ele suplicava:
‘Vá embora! Salve a criança!’
‘Primeiro eu vou te trazer leite, depois decidimos’.”[4]


No trecho acima, de Svetlana, Liudmila descreve o diálogo que teve com seu marido quando se encontraram horas depois do acidente. Já doente grave no hospital e ainda lúcido, ele lhe pede que vá embora, que ela está grávida. Ela, mulher jovem, aguardando o primeiro filho do homem que ama mais do que tudo na vida, não consegue se ver sem ele e trata de tentar remediar seu sofrimento, sem prever as consequências disso. Esse trecho está no início do relato, no livro. É o início de sua tragédia pessoal, que nos prende até o fim. Já sabemos que ela está grávida, se contaminando.

Svetlana Aleksiévitch

Por ser parte de relato oral, fica subentendido que a autora não alterou e nem poderia, a ordem dos acontecimentos que estão sendo contados. É o alavancar da tragédia, mais um ponto de tensão em uma história difícil. Caso o livro se pretendesse, como na série, como uma obra ficcional, um retrato criado de um evento real, a fim de intensificar a emoção, postergaria a informação da gravidez.

De volta à série, saberemos no terceiro ou quarto episódio que ela está grávida — após percorrer e passar dias no hospital ao lado do marido. Tendo lido o livro antes de ver a série, o impacto é menor e a estratégia do diretor em manter a tensão narrativa se vê mais explicitamente, ainda que bem executada. Para um espectador sem conhecimento da história de Liudmila, é um sofrimento sem fim e descoberto depois, intensifica o drama. Cinema é manipulação, construção de tensão e emoção no espectador. O corpo do texto de Liudmila e Svetlana estão ali, o conteúdo permaneceu, a ordem foi alterada, adaptada para aprimorar em roteiro, texto fílmico a ser exposto enquanto imagem editada para a tela. É parte da jornada do herói, como um percalço em sua trajetória a fim de promover sua transformação final.

Em uma adaptação do literário para o audiovisual é preciso contrair parte da trama e adaptar a linguagem, em benefício da narrativa. Em uma série, é fundamental reter a atenção do espectador por semanas, é imprescindível criar gatilhos nas múltiplas histórias, desenvolvendo tanto uma empatia pelos personagens, quanto a curiosidade suspensa sobre suas trajetórias.


Objetivos


Todo produto artístico é imbuído de ideologia. Em polos opostos do globo, temos estas duas peças, de linguagens diferentes, tratando do mesmo tema — também com distintas abordagens e em diferentes décadas. O objetivo aqui, não é mera comparação. Chernobyl da HBO, usou como referência, personagens e histórias que Svetlana trouxe em seu livro lançado em 1997.

A estrutura narrativa de seus livros parte sempre de uma busca de informações por quem viveu determinado período ou evento histórico em torno do que foi a União Soviética. Vozes de Tchernóbil foi seu terceiro livro, o primeiro focando no acidente. Tratado a partir de entrevistas com pessoas envolvidas no evento, quase deixa passar uma ideia de intenção com aquele produto, além da exposição dos relatos sobre o tema, como uma alternativa de se fazer saber a história sem buscar o ‘relato oficial’ de livros didáticos. O relato aqui é quase íntimo, certamente pessoal e isso, paradoxalmente, o torna ‘mais oficial’, sem hastear gratuitamente uma bandeira, focando na descrição dos fatos pelas pessoas que viveram o que contam.

Acompanhando a trajetória literária da autora, contudo, há uma pesquisa, uma insistência no tema que não é gratuita. Tratar da questão soviética pode ser sua busca por resgatar as histórias da História. É conhecer pelas pessoas, suas vidas e a vida de todos enquanto povo, nação ou nações, o regime que tentou ser a forma perfeita de viver em sociedade e omitia para os seus e para o mundo o que carecia de sentido e eficiência. O fracasso da União Soviética é mais complexo e há um sem fim de explicações para tanto. Com obras como as da autora, há uma aproximação com as diferentes pessoas — homens, mulheres, crianças — que viveram o período, como o perceberam e sentiram. Sem obras assim, não teremos testemunhos, apenas dados.


“Destino é a vida de um homem, história é a vida de todos nós. Eu quero narrar a história de forma a não perder de vista o destino de nenhum homem.
Antes de tudo, em Tchernóbil se recorda a vida ‘depois de tudo’: objetos sem o homem, paisagem sem o homem. Estradas para lugar nenhum, cabos para parte alguma. Você se pergunta o que é isso: passado ou futuro?
Algumas vezes, parece que estou escrevendo o futuro…”[5]

locação da série de Chernobyl, HBO
A série. Produção americana. Estadunidense. Grande, atores de renome. Ainda assim, ao assistir essa imensa obra, nos atemos às minúcias da tragédia, a ver se o diretor, roteirista, equipe de produção, diretor de arte, editores de som e imagem, conseguiram construir uma obra que nos parece real, fiel ao acontecido. Como ser fidedigno a um desastre ocorrido trinta e três anos atrás do outro lado do mundo, mal divulgado, deturpado e em fins de Guerra Fria?

Em artigos de notícias, não faltam informações sobre como a série foi imprecisa, exagerada e falha em pesquisa científica[6] para confirmar as informações aterrorizantes ali expostas. De jornalista russo[7] a uma hipótese daquela nação realizar uma série em resposta à versão americana[8], há quem julgue até o livro de Svetlana como insuficiente ou incorreto. O fato é que, enquanto produto de entretenimento, a produção da HBO funciona muito bem e isso talvez não seja um problema.

O que se vê na série é esse suposto retrato ficcional, se se pode usar essa combinação, clássico como uma jornada do herói, fiel às estruturas de roteiro preconizadas pela indústria. Bons atores, boa trama, excelente produção. O que se diz em oposição, e aí é que está a questão, é a suposta ausência de pesquisa científica sobre o acidente, os efeitos da radiação, os números de vítimas e alcance da tragédia — como se tudo o que foi exposto ali fosse um grande exagero. Como boa parte da produção audiovisual americana, se criou um universo de tensão e pânico em torno de um dos maiores medos da humanidade de todos os tempos: um desastre nuclear. Historicamente, já passamos por alguns e a marca é indelével.

A ideologia está também aqui. Mais presente, mais forte do que no livro de nossa heroína bielorrussa, está a construção do medo, do escancaramento de um sistema supostamente falho em todas as hierarquias, do velho pânico da KGB. Ao ver a série, estamos tão concentrados na desgraça e em como as vidas serão salvas e perdidas, que talvez isso nos distraia daquela marca já descascada das paredes da memória, a quase jocosa ideologia binária que sempre pôs e opôs na mesma sentença termos como Rússia (e/ou União Soviética)e Estados Unidos.

Para além do contraste ideológico histórico entre as nações, hoje um tanto mais diluído e menos polarizado do que antes, o que interessa aqui é vislumbrar no discurso fílmico, entender qual é o objetivo por trás de uma imensa empresa de comunicação e entretenimento, como a HBO, se permitir ‘erros de cálculo’, em prol da emoção do entretenimento. Qual é o objetivo? Ele já não foi alcançado?
Svetlana quer escrever para se entender enquanto parte do que foi um país imenso, de como ele se reflete no povo hoje, distribuído em não sei quantas nações e embates nacionalistas. Seus livros tratam do passado e, como ela mesma diz, não seriam também um cintilar de luzes do futuro? Einstein já diria que o tempo é uma ilusão.

Para o criador da série Craig Mazin e sua equipe, nunca uma obra reteve tanto a audiência e alcançou o Olimpo de aceitação entre a crítica e o espectador. As repercussões negativas e as polêmicas trouxeram à tona assuntos como a energia nuclear, segurança e política internacional para o debate público, primeiro como curiosidade, depois como um mobilizador internacional de governos, mídia e comunidade científica. As discussões atentaram tanto sobre o produto fílmico, quanto com relação ao conteúdo, reacendendo questões sérias que permeiam a política internacional, a pesquisa e o desenvolvimento científico, energias renováveis e limpas e a polarização entre as nações. No fim das contas e em tempos de fake news, com redução dos investimentos em educação, ciência e cultura por um lado e a insistente e necessária checagem de fatos, persistência e teimosia da comunidade científica do outro, a ideologia que habita o universo hollywoodiano e que se repete aqui é tão óbvia — e ainda, correndo o risco de parecer ingênua na assertiva — que dificilmente se torna algo a ser levado a sério ou como uma grande e indigesta novidade. Aguardemos o retorno dos russos.

Segundo sarcófago que isola o reator 4 instalado este ano e memorial em homenagem aos liquidadores.

***


[1] ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. Companhia das Letras. São Paulo, 2015.
[2] ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. Companhia das Letras. São Paulo, 2015.
[3] COSTA, Antonio. Compreender o Cinema. Editora Globo. São Paulo, 1989.
[4] ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. Companhia das Letras. São Paulo, 2015.
[5] ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. Companhia das Letras. São Paulo, 2015.
[6] https://www.forbes.com/sites/jamesconca/2019/06/27/how-hbo-got-it-wrong-on-chernobyl/#7e1b47549ce8 Acessado em 21/07/2019.
[7] https://revistaopera.com.br/2019/07/04/minha-chernobyl-e-a-versao-da-hbo/ Acessado em 21/07/2019.
[8] https://www.theguardian.com/world/2019/jun/07/chernobyl-hbo-russian-tv-remake Acessado em 21/07/2019.
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Nos domingos de frio e chuva não há muito o que fazer. Por mais que tentemos, a preguiça toma conta e fica difícil pensar em atividades que exijam sair de casa ou locomover-se de forma geral. Apesar dos exageros, uma verdade permanece: a tv fechada vence a batalha e algumas vezes passamos muito tempo na mesma posição no sofá. Hoje não foi diferente, fui tomada pela preguiça dominical e os 19 graus da rua me impediram de sair de casa. Uma nova série, em que eu já tinha visto anúncios e um episódio, me chamou atenção nesta noite de frio. Além de House, Sex and the City, Seinfeld ou Friends, já consagradas e com anos de sucesso, Seis Graus de Separação surge para fazer diferença nos dramas televisivos.

A teoria é a de que duas pessoas estão ligadas por, no máximo, seis laços de amizades, como se entre eu e o George Clooney houvessem seis pessoas que se conheceriam por conexão, nos unindo, por fim. Essa é a graça dos sites de comunidades virtuais, conhecer quem nos conhece. Os criadores partiram deste princípio e criaram esta série cujas conexões vão se construindo a partir de relacionamentos de amizade, família, amor. Histórias entrelaçadas com personagens de histórias de vida distintas em encontros casuais.

A série é exibida na tv fechada e conta com atores que encontramos em outros seriados e alguns que já são familiares na grande tela, como Campbell Scott ou Jay Hernandez. A série é de 2006 e está na primeira temporada no Brasil.

Não há muito o que dizer. É uma produção sensível e, como a maioria dos seriados, descrever a trama não diz muito, quando se trata de um programa sem grandes eventos. A graça está justamente nisso: na construção de pequenas histórias que se entrelaçam, nos sentimentos que nos são permitidos a partir de nossa participação. Ao mesmo tempo, por contar com doses de drama, não parece ser um sitcom que nos permite ver e rever eternamente sem cansar. É um enredo muito mais de acompanhar seu desenvolvimento, do que assistir interminavelmente, como os já citados (à exceção de House, que passa pela mesma situação deste).

Depois de uma breve pesquisa, tive a infeliz informação de que o seriado foi cancelado ao fim da primeiríssima temporada. Certamente não atingiu o público esperado, talvez por ser uma série séria, um drama, uma situação que foge dos padrões blockbuster ou sitcom que a turma estadunidense está acostumada. Uma pena. E uma questão se levante: por que um canal passaria seriados já cancelados na televisão? Será que eles são mais baratos e servem para fechar lacunas de programação? Em todo caso, ainda vale assistir para perceber as atuações de primeira e o roteiro criativo e bem estruturado.
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Finalmente fui ver o filme das garotas de NY. Sempre gostei da série, que nos liberta para um ideal de vida fútil e divertida. Não dá pra ser cérebro e arte o tempo todo. Acho que a série funciona à medida que nos relembra das coisas que gostamos, das grandes amizades e, é claro, dos relacionamentos deliciosamente comentados como se fossem os nossos próprios.

Como me mudei recentemente, estou criando junto com outros também expatriados, um novo grupo de amigos. Surpreendentemente, todos são agradáveis e muito diferentes entre si. Cada um de nós combina particularidades que, se estivéssemos em nosso habitat primeiro, possivelmente acabaríamos naturalmente em grupos distintos. Fazemos concessões e vamos criando uma intimidade aos poucos, nos abrindo vagarosamente, como toda cautela do individualismo prega, não sei se tão racionalmente como pareceu aqui descrito. O que significa isso tudo é que ainda há uma diferença entre novos amigos e amigos já estabelecidos.

Todo relacionamento novo é sempre mais complicado, mais “cheio de dedos”. Vamos mostrando o que há de melhor em nós, vamos permitindo o outro em nossa vida e entrando até onde é permitido na dele. Vamos construindo nossos pequenos alicerces em momentos agradáveis e de muita conversa. As diferenças, entretanto, continuam marcantes.

Sex and the City é um filme de mulher. Não tem pra onde correr: são sapatos perfeitos, a moda das grandes grifes em roupas muitas vezes estranhas, cafés, noitadas e um grupo de amigas de longa data. Relacionamentos e a discussão deles daquele jeito que só é possível e suportável entre mulheres ou meninas. É a extensão da série anos depois, é apenas o último episódio de pouco mais de duas horas.

Fui ver o filme com aquela ansiedade que temos em rever uma grande amiga. Fui com uma nova amiga, dessas agregadas expatriadas e amiga de longa data de minha prima. Fomos como novas amigas com este e mais alguns interesses em comum. Fomos juntas e na mesma ansiedade, mas entendendo que precisaríamos de nossas amigas antigas nesses momentos. Foi ótimo ver o filme com ela, mas fiquei pensando bastante nas minhas amigas antigas e eternas que nunca mais vi. Morri de vontade de tomar um café depois e falar as abobrinhas típicas que resultam de um filme de mulher. Minha companheira de sessão teve que sair mais cedo. Fui pra um café, comi sozinha e depois segui para a aula que, claro, não me concentrei nem um pouco. Cheguei atrasada e um filme acabava de ser exibido e estava em discussão. Eu estava no pós-Sex and the City-último episódio da saga Mr.Big-Carrie.

O filme é divertido em todas as suas idas e vindas. O reencontro das amigas de Manhattan e o vai-e-vém de seus relacionamentos. As crises que nós passamos e passaremos. Tudo pede uma conversa de fofoca, papo de amiga, abobrinha que nem toda menina (inclusive) tem saco para participar. Apesar de se estender em alguns momentos e mostrar muito figurino inusitado, o conto de fadas moderno chega ao fim e me deixa com alguns questionamentos. Tenho uma opinião sobre a conclusão do filme, que me incomodou um pouco, mas não vou estragar a surpresa. Vou esperar minha visita às amigas e discutir com elas, que me disseram que também já viram este último episódio, com o mesmo sentimento de que está faltando alguma coisa, ou melhor, alguém na poltrona ao lado.
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Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


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