• Home
  • Sobre
  • Portifólio
  • Contato
linkedin instagram facebook pinterest

Café: extra-forte


Hoje é um daqueles dias que escolhemos para homenagear alguém. Agora é a vez de nossos pais, co-responsáveis por nossa existência, com sorte por nossa educação, formação e o que mais for possível.

Eu fui muito feliz nesse quesito. Tenho um pai que não poderia amar mais, simplesmente porque não cabe. Como minha mãe, ele me deu educação, caráter, aqueles conceitos de bom e mal, certo e errado que vêm junto com a bagagem de vida dele(s), e que funcionaram bem comigo.

Meu pai teve a mim e a minha irmã, duas meninas e ainda assim, não nos mimou para sermos princesas, quiçá para esperar príncipes em carruagens. Ao contrário, nos criou como seres humanos, dotados de inteligência e curiosidade, responsabilidade, cuidado e respeito pelo outro, quem quer que seja. Colocamos a mão na massa para o que for necessário: na saúde e na doença, nas tristezas e alegrias. Somos um núcleo separado geograficamente, mas sólido como aqueles seres unicelulares da biologia. Sabemos lavar, passar e cozinhar, fazer mercado, pagar contas, ler, escrever e pensar. Graças a eles. Nossa bagagem cultural é diversa por formação, tamanha a diferença entre as famílias materna e paterna, mas é uma boa mistura – dá uma diluída nas realidades de cada contexto e nos deixa mais críticas e paradoxais. Como toda grande família, a nossa também é um caos.

Somos quatro partes de um todo, inseridos em círculos maiores, mas concentrados na velha unidade familiar. Tenho sorte de ter esse jovem ao meu lado, de contar piadas, de vê-lo contando outras não engraçadas e rir assim mesmo, porque é engraçado só de ouvir. É bom falar com ele sobre política, é interessante ouvir as opiniões sobre os filmes que eu gosto e que ele não vê o porquê e trocamos argumentos, é sempre um desafio gostoso indicar filmes e é maravilhoso quando acerto. É massa viajar e contar para ele como foi, ele esquecer tudo e meses mais tarde, depois de ver um documentário na tv, me indicar o lugar pra ir. É bom sair pra almoçar, quase esperando dar errado, pra ouvir ele falar ‘que nunca mais bota os pés ali’ e mais oitocentas histórias que valem contar mais tarde, pra uma turma bem menor do que essa, na verdade.

Meu pai é médico e quando eu era criança, era como ter um super-herói em casa. Ele era e é estressado com um monte de coisas, com o planeta, com o Brasil, com todas as injustiças e, como nós, está cansado dessa maluquice toda. Mas é porque ele tem um coração imenso – como minha mãe e minha irmã também, nossa família é toda coração – e sofremos juntos com as barbaridades. Mas ele, agora pensando, continua herói e pai não só meu, mas de muita gente e não das histórias em quadrinhos, mas da vida, é uma referência de pessoa que carrego sempre comigo e cujas lições procuro manter e seguir.

Meu pai odeia redes sociais. Por isso, para arrumar mais um motivo para colocá-lo em todos os lugares, trago junto um curtinha de 3 minutos, sobre o cara que deu origem a esse ômi, meu avô, Walter Ferreira. É de um festival de cinema de arquivo que teve aqui no Rio, o Recine, no ano que desembarquei, 2008. Fruto de um workshop de cinema de arquivo, o curtinha me rendeu, ainda que seja bem simples, o prêmio de melhor roteiro. É uma homenagem a um outro pai que ficou na minha memória infantil, cujos detalhes fui resgatando com a ajuda de minha avó, minha prima, meus pais. É uma brincadeira com o acervo do Arquivo Nacional brasileiro e algumas fotos de família.



Feliz dia dos pais, espero que gostem e é claro que estou com saudades.
Share
Tweet
Pin
Share
3 Comentários
Enquanto um texto novo não aparece por aqui, mas está em construção, sigo com a novidade. Acessem este link e vejam que, apesar de simples e singelo (agora tenho mais confiança em dizer), No tempo de meu avô..., tem potencial.

Conquistei with a little help from my friends, o Melhor Roteiro do RECINE 2008!

Para rever o curtinha, acessem este Arquivo.
Share
Tweet
Pin
Share
2 Comentários

Pois é...

Ao mesmo tempo que o Curta cai no mundo virtual, será lançado em tela grande, para o meu desespero e agonia. Semana que vem, na noite de quinta-feira, aproximadamente às 20:30, será exibido no Arquivo Nacional, na mostra da Oficina do RECINE 2008 (confira programação). Já saímos em um caderno especial de O Globo de 10 de outubro de 2008.
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

Share
Tweet
Pin
Share
10 Comentários

Este ano participei da Oficina de Cinema de Arquivo do RECINE, um festival de Cinema de Arquivo que acontece todo ano no Rio de Janeiro. O filme que consegui construir com as imagens cedidas pelo Arquivo Nacional conta um pouco sobre meu avô, pai de meu pai. Minha busca é a construção de sua identidade, do que ele representou e representa para mim, com a ajuda de depoimentos da família.

Para montar No tempo de meu avô..., utilizamos as imagens do Arquivo e fotografias de família. Devido ao prazo curto e às limitações de produção, o filme careceu de um trato sonoro mais apurado. A oficina do Recine acontece todo ano, com duração de 40 horas com algum documentarista experimentado. Neste ano, Eduardo Escorel.
Share
Tweet
Pin
Share
No Comentários

Estou finalizando um curta sobre meu avô. No tempo de meu avô, ficou curto de verdade, não sei se chega aos cinco minutos e é uma brincadeira com imagens do Arquivo Nacional e fotos antigas da família.

Não saiu muito como eu queria, acho que ainda falta sentimento em minha voz, nas palavras, alguma direção nesse sentido. Mas, além de não ter outra pessoa e eu dirigir minha própria atuação, estamos condenados ao uso de imagens que não escolhemos e assim fica mais difícil. Queria ter mais seqüências que retratassem o que imagino de meu avô, mas isso quase não consegui.

Acho que ficou um produto interessante, mas pretendo depois, construir um maior e mais livre. Inventei um avô que me interessa muito. Inventei uma vontade, inventei uma idéia, inventei uma vida. Mas não inventei a saudade.

É uma saudade engraçada, porque eu era criança e só sei dele criança. Minhas imagens dele são muito carregadas de silêncio e silêncio que eu via nele, como uma aura. Da varanda da casa de minha avó em Brotas (Salvador), da cadeira de balanço. E até da minha primeira casa, quando aconteciam os almoços e aniversários. Eu sempre achava que uma hora ele ia gritar com alguém. Mas nunca conseguia falar direito com ele. Eu também era uma pessoa de silêncio, pequena e criança, mas era.

As fotos que conseguimos selecionar representam a família muito bem. Ainda que sejam de um tempo muito anterior a esta fase de nossas vidas, traduz uma imagem bem sincera de como somos. Uma família simples e divertida, cheia de neuras, carinhos e piadas. Um pouco como toda família. Fotos antigas são as coisas mais bonitas que podem existir. Elas te resgatam sentimentos, momentos, pessoas, abraços. Fotos sempre renovam sentimentos. É um passado com sentimentos de presente.

A mais surpreendente de todas as coisas que vi nesses tempos é a foto dele sorrindo. E o depoimento de minha avó, Dona Lita. A foto dele sorrindo é a coisa mais fantástica do mundo. Porque não é simplesmente um sorriso, é como se ele estivesse rindo e querendo gargalhar, como se estivesse prendendo o riso e não conseguiu segurar direito, escapou um sor-riso tímido e vermelho. É linda.

O depoimento de minha avó. Tirando os problemas com o som e com minha entrevistadora agoniada demais, conseguimos grandes frases. Os sorrisos de minha avó a denunciam. Foram anos de convivência relembrados em pequenos instantes. Foi a História do Mundo e a História Deles, ainda maior, mais importante, mais bonita, é o surgimento de uma família. Foram as alegrias e as agonias... e agora ficou a saudade dela, o carinho e todas as suas lembranças. E deu pra ver. Minha avó é uma fortaleza, mas cheia de emoções... em também sorrisos, muito mais fáceis de conseguir.

O que ganho com esse projeto é meu avô, minha avó, meu pai, minha família. São recordações e revelações tão bonitas quanto surpreendentes. Acho que assim vou amenizando a saudade, retomando a vida do lado de cá e construindo novas idéias.
Share
Tweet
Pin
Share
5 Comentários
Estou vivendo sob um grande risco. Estou construindo meu avô através da minha memória e dos meus familiares. Ele morreu quando eu tinha 12 anos, mas a pouca convivência e nosso jeito de ser não permitiram que fôssemos mais próximos.

Acho que eu tinha receio de meu avô. Como ele sempre foi muito calado, achava que um dia ele ia falar alto e sério com alguém... ele ria pouco... tão pouco que não me lembro. Estou recolhendo fotografias dele de todos os tempos que posso e estou observando a vida de outra pessoa em momentos que eu nem mesmo vivi. É um pouco como a praia que fui hoje. Levei a máquina a tiracolo na intenção de encontrar alguma coisa interessante pra ver, como sempre tem. Observei a vida dos outros e fotografei algumas pessoas... vim pra cá e fico com as pessoas olhando a vida e nunca sei o que elas pensam.

Nas fotografias, acabo vendo mais meu avô do que pelo relato de meus parentes. É que a foto registrou um momento que hoje não passa por interpretações e rasgos das memórias. A fotografia não vem com explicação de personalidade; vemos a imagem, as expressões e o momento. Nada mais.

E nesses momentos vem sempre a nostalgia e o sentimento de estar conhecendo mais, a vontade de ter convivido mais, sabido mais, conversado mais, mesmo sendo pequena. E a imagem que eu tinha antes, a idéia deste avô vai se completanto com novas versões, personagens e características de atitudes que vamos ganhando ao ouvir os outros.

Cada um carrega consigo esse conjunto de idéias sobre as pessoas e ao somá-las conseguimos um padrão razoável, mas jamais um perfil fiel. Agora com as novas histórias sobre esse fantástico personagem, percebo que temos muito mais em comum do que minha infância previa, mas esse é também o grande risco: criar a nova imagem como uma ilusão da vida de alguém que já se foi e que não temos como verificar. E os desejos de pertencimento que construimos podem não corresponder à realidade, caso ele estivesse vivo. Jamais saberei.

Sei que ele era quieto, observador, estudioso, inteligente e sorridente em algumas fotos. Mas sempre parecia à parte, como se estivesse esperando por alguma coisa que nunca acontecia. Mas, ainda estou pesquisando, observando, escrevendo e esperando, para também aprender mais.
Share
Tweet
Pin
Share
3 Comentários
Posts mais antigos

Sobre mim

a


Tati Reuter Ferreira

Baiana, curadora de projetos audiovisuais, escritora e crítica de cinema. Vivo de café, livros, cinema, viagens e praia. E Pituca.


Social Media

  • pinterest
  • instagram
  • facebook
  • linkedin

Mais recentes

PARA INSPIRAR

"Amadores se sentam e esperam por uma inspiração. O resto de nós apenas se levanta e vai trabalhar."

Stephen King

Tópicos

Cinema Contos e Crônicas streaming Documentário Livros Viagem comportamento lifestyle

Mais lidos

  • Querida, vou comprar cigarros e volto
    Querida, vou comprar cigarros e volto
  • Crítica: Love 3D, Gaspar Noé
    Crítica: Love 3D, Gaspar Noé
  • Cinema em Casa | Robert Downey Sr.
    Cinema em Casa | Robert Downey Sr.
  • Jia Zhangke - Um homem de Fenyang
    Jia Zhangke - Um homem de Fenyang

Free Blogger Templates Created with by ThemeXpose