A semana vai
ser longa e agora as famílias precisam se virar em quem pode trabalhar de casa
e ainda cuidar das crianças. Será um desafio para nós todos, para uns muito
mais difícil que para outros como eu, que vivem sozinhos. Em todo caso, o
momento pede que sejamos conscientes e solidários – sejamos socialmente responsáveis,
olhemos para o outro, cuidemos do outro como se pertencesse à nossa família.
Lembrei agora
da exposição que fui em Luxemburgo, fui para lá ano passado para rever uma das
melhores amigas e de presente, ela me levou a uma exposição incrível de Edward Steichen, chamada The Family of Man. Cliquem no link, para nos vermos um pouco como coletivo, como
humanidade. Em todo caso,
seguem as dicas para acalentar nossos corações e fazer o tempo passar mais
rápido!
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Assunto de Família (2018) |
Talvez
com o sucesso repentino de Parasita (2019),
passemos a ter mais atenção e carinho com as produções do leste asiático.
Alguns filmes e diretores são impressionantes e suas formas de contar histórias
não perdem em nada para os maiores diretores do ocidente. Assunto de
Família, de Hirokazy Koreeda, é um desses filmes que vão te
pegando aos poucos, pelas beiradas, que parece tudo simples e quase monótono,
mas seus sentidos e significados vão entranhando em sua pele gradativamente,
até te tomarem por inteiro. Eu assisti no cinema quando foi lançado e saí
calada e impressionada com aquilo tudo. Não à toa o filme levou Cannes, César e
Bafta e foi indicado a filme estrangeiro no Globo de Ouro, Oscar e mais não sei
quantos festivais.
A história é sobre uma família japonesa que vive da forma que
pode, como quando se vive à margem da sociedade. Neste ponto, dá para encontrar
similaridades com Parasita (2019),
mas há mais para ver e as semelhanças são sempre ganhos neste caso. O
impressionante do filme é a sensação de intimidade, de naturalidade destes
atores que, de fato, parecem constituir uma família, ao que tudo se desregra
por razões que não comentarei. Não espere um filme corrido; como no
sul-coreano, a tensão se constrói aos poucos e podemos aproveitar o momento
para ver um filme com um 'tempo' diferente do nosso dia a dia. Com
certeza, um dos melhores da Netflix do momento.
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Klaus (2019) |
O Natal já
passou faz um tempinho, mas este desenho foge à regra de ‘filme besta’ e
merece atenção. Também, em virtude das crianças e pais em casa, não custa
indicar algo para ocupar o tempo desta turminha com um filme para toda a
família.
Klaus
conta a história de um jovem mimado que precisa aprender uma lição e é levado
para o fim do mundo. Como os grandes filmes infantis, esse também tem aquele
aprendizado, mas sem ser muito piegas. Então o jovem-que-virou-carteiro tem um
enorme desafio que é conseguir fazer acontecer um tráfego de correspondências
em uma cidade sem escolas, onde boa parte da população se odeia sem saber por
que e não sabe escrever. A desinformação e a repetição irracional de
comportamentos são temas importantes para as nossas vidas e aqui são
trabalhados de forma brilhante. É, de fato ‘um filme para toda a família’, além
de ser muito bem feito, lindo e engraçadinho. Vai ter o momento ‘Natal’ no
filme, mas as ideias que ele traz, a construção dos personagens e desta vila no
meio do nada, fazem valer a pena.
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Peaky Blinders (2013) |
Se tem uma
coisa que eu adoro nessa vida, é a BBC. Como os grandes
conglomerados de comunicação no mundo, ela deve ter mil defeitos, mas suas
produções seriadas são impressionantes. Peaky Blinders é uma das minhas séries
preferidas de muito tempo. Não é uma sitcom dessas de rever para sempre sem
importar a ordem, mas uma produção de um drama como um imenso e maravilhoso filme.
Os Peaky
Blinders são uma gangue-empresa familiar em Birmingham, na Inglaterra de 1919.
Eles têm uma empresa de carvão mineral e fazem dinheiro às custas de violência
e justiça social daquele jeito dos mafiosos. Cillian Murphy é Thomas Shelby, um
ex-soldado da Primeira Guerra Mundial, sério e cheio de traumas. É o dono da
empresa e chefe da família de ex-ciganos sem classe que a aristocracia inglesa
tenta rejeitar. Além dele, há outros grandes nomes da dramaturgia inglesa e dá
para perder umas boas horas nesta série de cinco temporadas sem nem se
dar conta. A sexta estava em gravação, mas, como toda a produção audiovisual
de quase todo o mundo, foi interrompida por conta da pandemia maldita. Aguardemos os próximos episódios.
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What did Jack do? (2017) |
What did
Jack do? é um bônus na listinha de hoje. Zapeando o streaming, passei
novamente por esse curta de David Lynch e lembrei o quanto achei divertido e estranho,
como quase todas as coisas que o diretor faz. David Lynch é o mestre deste tipo
de narrativa, ele tem diversos estudos sobre meditação transcendental e sonhos
e grande parte de sua filmografia transita por esses caminhos.
Seus temas não
são esses, diretamente, em suas histórias, mas o ambiente que ele cria, nos
transporta para isso, algo entre o absurdo e uma sensação de estranhamento, que
não é simplesmente surrealista, mas entra em nós como um sentimento de algo
quase macabro que não se conclui nem se define tão claramente. E isso vale para
muita coisa que ele fez, como as primeiras temporadas de Twin Peaks
(1990, uma das melhores séries de todos os tempos) e os filmes Veludo Azul (1986),
Coração Selvagem (1990), Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos
(2006, esse é complicado). Eu sempre fico esperando o próximo longa dele,
para assistir, absorver qualquer coisa, rir de umas ‘maluquices’ e tentar
entender – e se não entender, tudo bem também.
David Lynch é profícuo
na produção de curtas de ficção e documentário e este é um dos que a Netflix
trouxe este ano para nós. É uma brincadeira com filmes de polícia – toda a
história se passa em uma sala em uma delegacia e o próprio David Lynch faz
perguntas a Jack, um macaquinho suspeito de ter cometido um crime. É um bônus, o
filme é divertido e inusitado, que não quer ser nada além do que está ali. 17
minutinhos.
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