Quanto tempo o tempo tem?
O que mais escutamos hoje em
qualquer roda de amigos, em qualquer conversa é uma queixa constante de nossa
falta de tempo. Tudo passa muito rápido, não damos conta das notícias, dos
e-mails, de atender aos amigos, amores e familiares em todos os meios de comunicação
possíveis e ainda precisamos dar conta da vida, essa particular, individual e
única que requer justamente duração, espaço e silêncio para absorver. Levando
isso em conta, Adriana L. Dutra e Walter Carvalho nos mostram em seu Quanto tempo o tempo tem uma pesquisa
ampla e filosófica sobre o assunto que tanto nos tira o sono.
O filme vale por seus convidados.
Um elenco de peso: o sociólogo italiano Domenico de Masi, o físico Marcelo
Gleiser, a monja Coen Sensei, os filósofos franceses Thierry Paquot e André
Comte-Sponville, a escritora Nélida Piñon, o rabino Nilton Bonder, o cineasta
Arnaldo Jabor e outras personalidades se unem aqui para nos dar um panorama que
trata da unicidade do presente – quando entendemos que não existe passado ou
futuro, mas apenas o agora (um conceito que eu acredito e tento viver, mas que
não exclui a ideia de projeção e planejamento), da evolução tecnológica cuja
própria velocidade não nos permite muita divagação, da nossa relação com o
tempo que finda quando morrermos, da possibilidade oposta, de não morrermos e
nos transformarmos em transumanos ou superhumanos, dos significados de tempo
através das Idades históricas e outros grandes conceitos.
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| Monja Coen Sensei |
Outro ponto de dissonância é a narração.
Aqui há algo que incomoda e talvez seja a própria forma do texto condutor que
se propõe íntimo, mas que busca falar do todo. É uma questão que não desmerece
o filme, mas o torna um tanto cansativo, em um ritmo que oscila grandes questões
com estes intervalos de voz off sob
imagens de velocidade em planos abertos de metrópoles. O tempo é um conceito
abstrato, sendo difícil se tornar imagético sem cair nos clichês que o
significam, mas ainda assim, talvez e ironicamente com mais tempo para seu
desenvolvimento se encontrassem alternativas mais ricas.
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| André Comte-Sponville |




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