Heartstone
Heartstone
ou Peixe-pedra é o início e nome desse filme, que funciona como metáfora do
ciclo que percorreremos com o diretor. Em busca de peixes ‘melhores’, os amigos
que pescam em um pequeno atracadouro na costa da Islândia duelam entre
crueldade e clemência no início da história, já definindo as personalidades
distintas dos heróis, os enfrentamentos, a juventude. Isso tudo em uma
sequência.
História comum de dois melhores amigos que vivem a
adolescência de descobertas e transformações – no corpo, em seus relacionamentos,
em suas personalidades: uma sinopse não traduz o filme em grande atrativo para
o público. O que o diretor e roteirista extrai da trama sim, é que o torna
imenso e tão diferente de enredos similares de um sem-número de produções
americanas.
Rodado em um pequeno vilarejo pesqueiro da Islândia,
acompanhamos a vida de Thor (Baldur Einarsson) e Christian (Blaer Hinriksson),
dois amigos da vida: seus familiares, amigos, rivais, a vida na região, a
natureza imponente, as descobertas. A fotografia e as locações já valem a
sessão e, da mesma forma, é difícil acreditar que Guðmundur Arnar
Guðmundsson seja um diretor de primeiro longa-metragem. Com quatro curtas
no currículo, levou, apenas com Heartstone, 30 premiações.
O apelo do filme reside na naturalidade dos
protagonistas, na intimidade que os atores conseguem construir em cena, na
força das imagens. Em como a natureza configura, contrasta e enfatiza os
sentimentos, diálogos e ações, em como cada fala e silêncio funcionam em grande
equilíbrio. Não há apenas um aspecto da adolescência abordado aqui, mas tudo
que o envolve e que hoje é distante de muitas realidades de nossa vida urbana,
de prédios, grades e videogames. Na Islândia há espaço, natureza e segurança.
Há vida fora de casa e longe de equipamentos eletrônicos. Há o aproveitamento
do clima ao máximo, especialmente quando não está inclemente.
A construção dos personagens é o forte da trama e isso não se limita aos
protagonistas, mas a todos e, em especial, às meninas. Não há o clichê do sexo
frágil, mas meninas que também estão saindo da infância em pé de igualdade com
os garotos e se manifestam sem medos e pudores e, ao mesmo tempo, sem se
firmarem sob nenhum estereótipo. A Islândia é um dos países menos machistas do
globo. Isso é visto nas discussões na lanchonete, na relação com os amigos e
paqueras, nas tomadas de decisão e liberdades concedidas.
A grandiosidade de um filme que parece pequeno se
resume nisso, em uma trama muito bem elaborada, delicada e atenciosa. É um
filme sem pretensões e que não busca lições de moral, mas apenas a vida, o dia
a dia de uma região pequena e magnânima em beleza, específica e distante de
nós, mas que, mesmo assim, nos afeta e encanta. Talvez os prêmios concordem com
isso, com a universalização de uma obra como esta, tão localizada quanto ampla,
com questões humanas e ainda atemporais. É um filme para ser revisto.

E aqui um brinde: o site lindo do filme.




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