Sometimes it’s good to do what you’re supposed to do when you’re supposed to do it. (Às vezes é bom fazer o que você deve fazer quando você tem que fazer)
E
por mais que pareça óbvia, é uma boa frase e indica uma ideia maluca da
protagonista, seguida de um quase arrependimento. Frances (Greta Gerwig) é uma
garota que está perto dos 30 anos, quer viver de dança e sobrevivendo
de atividades próximas disso, enquanto tenta de todo jeito, morar em algum
lugar. Ela precisa amadurecer, definir uma forma de viver mais estável pelo
menos e que lhe traga felicidade. Esse crescimento não vem do nada, mas com uma
aceitação do que somos e o que queremos. E para muita gente, como para mim e
para a mocinha do filme, é difícil definir o que queremos e se somos
capazes de cumprir. O que nos leva a outro diálogo do filme, quando perguntam a
ela o que faz:
It’s kind of hard to
explain. (É meio difícil de explicar.)Because what you do is complicated? (Por que o que você faz é complicado?)
Because I don’t really do it. (Porque eu não faço, na verdade.)
E é essa a grande graça do filme, a descoberta dela – e de todas as pessoas nesse momento de vida – de uma forma realista e divertida ao mesmo tempo. A fotografia e a construção da personagem criam um ambiente que lembra as grandes comédias do cinema mudo, com o p&b e trilha sonora que nos pegam pela nostalgia, se não parecesse tanto o (meu, pelo menos) presente. É como se o diretor buscasse uma forma leve e romântica com uma ingenuidade na medida e de outros tempos e os representasse na fotografia, a enriquecendo com diálogos sinceros.
Depois
de ver este, busquei outros filmes com Greta, para ver se o que ela tem é um estilo de
atuar ou se é exclusivo do personagem. Cheguei à conclusão de que é um pouco
dos dois. Ao assistir Lola Versus
vemos uma personagem um pouco menos... carismática
(não é a melhor palavra – particular talvez
seja), mas uma garota parecida, vivendo outros dilemas. Lola Versus tem uma pegada mais comum,
um filme bacana, mas mediano. Já Arthur, em que faz opar romântico do protagonista dessa comédia insossa, é uma personagem sem grandes artifícios. Numa comparação um tanto cruel pra quem não gosta, é como a Meg Ryan dos tempos modernos, em filmes muito menos bobos, mas ainda assim, leves e gostosos de assistir. Seu melhor personagem é, sem dúvida, Frances.
A produção lembra muito os filmes de Woody
Allen. É NY, nossa protagonista é engraçada e inteligente com uma forma diferente de ver a vida. Mas o filme
tem um ganho – não desmerecendo Woody – que é a direção de Noah Baumbach. Se em
A Lula e a Baleia e Margot
e o Casamento, ele já mostrou uma sensibilidade diferencial, aqui
surpreende. É um cinema independente gostoso de ver, pautado em situações
de vida real que nos aproxima de seus
personagens e histórias.
Saímos apaixonados pela história, especialmente – pela forma dela. Também por Greta que, não coincidentemente, esteve no último filme de Woody, Para Roma, com Amor, num papel menor. Talvez seja cedo dizer qualquer coisa sobre o futuro dessa atriz-roteirista-produtora-diretora, mas ela parece ter um perfil das novas boas comédias. E saímos, talvez me repetindo, felizes, emocionados e querendo mais filme, a trilha sonora, resolver os (nossos) problemas e sentindo que precisamos ver tudo de novo.
O site ótimo do filme está aqui: http://www.franceshamovie.com/