Maravilhosidades da Netflix – O retorno!

by - outubro 25, 2016

Antes de sair de férias, previ que teria tempo de escrever as despedidas, dicas para deixar o tempo passar, para seguir se perdendo nas listas intermináveis que ponho aqui e que a Netflix nos impele e subverter. Ledo engano: o trabalho me tomou, tendo que adiantar tudo aqui para sair de férias, com 'o resto da vida' que corre em paralelo e pronto, nada aconteceu. Mas, agora volto depois de pouco mais de um mês, no meio da semana para correr atrás do tempo, tão caro e escasso ultimamente.

De volta das férias magníficas que trarão publicações posteriores, segue o retorno das Maravilhosidades com um pouco de novidade, clássicos, seriados e documentários. Tem para todos os gostos! 

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Ata-me (1989, de Pedro Almodóvar) – 101 minutos
Almodóvar não é novidade no reino do cinema. Todo mundo pelo menos já ouviu falar do diretor de Fale com ela, Volver, Má Educação, A pele que habito e Julieta para lembrar apenas de alguns ótimos filmes. Todos estes, contudo são de sua nova safra, mas a Netflix esconde algumas pérolas, como Ata-me, de 1989, com Antonio Banderas novinho e Victoria Abril fazendo um par romântico inesperado e esdrúxulo. Banderas é Ricky, um homem que acaba de sair de um manicômio e decide encontrar a mulher de uma vida, uma ex-atriz pornô que encontrou apenas uma vez e que hoje atua em um filme b de um diretor aficionado por ela. A forma que Ricky encontra de seduzir e convencer a mocinha a viver com ele é simples e direta: um sequestro, até que ela entenda que o ama. Inesperado, ousado e divertido, traz um Pedro Almodóvar mais livre, com as liberdades sexuais contrastando com os sexismos da indústria do cinema e da vida e ainda, com as cores lindas e fortes que o diretor sempre imprime em seus filmes.

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O homem irracional (2015, de Woody Allen) – 95 minutos
Saindo de um grande diretor para outro, o Woody Allen de 2015 é este Homem Irracional, uma comédia com humor negro escondido em grandes diálogos e moral duvidosa. Joaquin Phoenix é um professor de filosofia entre o prestígio e a decadência que começa a lecionar em uma universidade onde é adorado, especialmente pelas mulheres. Ali, deprimido, é levado a uma situação extrema e descobre uma vida melhor após uma drástica decisão. A comédia aqui é levada ao limite e não haverá gargalhadas, mas as pontuações entre as aulas de filosofia e sua aplicação prática são mordazes e lógicas: de alguma maneira podemos acabar concordando com a situação e essa é a grande qualidade do filme, além da interpretação de Joaquin e Parker Posey. Não será o melhor filme do diretor, mas já ganha do fraquinho Magia ao Luar e nos deixa ansiosos por uma chance de ver sua série nova na Amazon (Crisis in Six Scenes) e seu próximo filme, em pre-produção. Isso tudo no aguardo, depois de Café Society lançado esse ano e lembrando os 80 anos de possivelmente o diretor mais ativo do planeta.

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Black mirror (2011-, de Charlie Brooker) – 60 minutos / episódio
A terceira temporada estreou essa semana, então o assunto é quente em todas as publicações do gênero. Black Mirror, desde a sua estreia traz a pauta do futuro distópico e não tão distante e suas relações com tecnologia, redes sociais, política, sociedade, tudo o que nos cerca, por fim. Cada episódio é independente do anterior, mas todos trazem um diálogo crítico do que vivemos hoje, de como nos relacionamos em família, com os conceitos de poder, informação e sociedade e muitas vezes em que parecemos ver um episódio levado ao exagero, nos deparamos com alguma situação similar, talvez em menor escala, que conhecemos, algum fato de um amigo, de um político, algum escândalo real. A série é extremamente bem produzida e abre espaço para discussões sobre o que queremos para o futuro e de que forma  nos comunicamos, usamos e vivemos nossas informações e as que temos de quem nos cerca, de que forma e se usamos as tecnologias a nosso favor, por um viés de evolução social ou em benefício próprio. Vale, pelo menos e com certeza, o primeiríssimo episódio da primeira temporada.  

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A family affair (2015, de Tom Fassaert) – 110 minutos
Uma história de família, para mim, é um dos maiores assuntos para se fazer um grande filme, principalmente se for documentário. Essa ideia de investigar quem somos a partir de quem, em tese, nos conhece melhor, corrompe aquela outra de que o documentário deveria ser objetivo e enriquece ainda mais o gênero. Aqui, o diretor Tom, de 30 anos, que mora na Holanda é convidado por sua avó com então 95 para que lhe visite na África do Sul. Ali, os dois conversam por dias e ele filma todo o encontro: sua avó em si é um personagem para a grande história, abandonou os filhos a uma espécie de orfanato/creche e foi viver a vida como modelo, independente e afastada do resto da família. O filme é esplêndido, como Elena e Stories we tell, por dar diversas dimensões a uma história sem heróis e bandidos, por mais que sejamos levados a criticar essa mulher à primeira vista. Impressionante, contagiante e interessante, é um dos melhores filmes documentários da Netflix hoje.

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Requisitos para ser uma pessoa normal (2015, de Leticia Dolera) – 90 minutos
Primeiro filme dirigido por Leticia Dolera, que também o escreve e protagoniza, este Requisitos é uma comédia deliciosa. Letícia é Maria de las Montañas, uma mulher que chega aos trinta anos voltando para a casa da família, sem dinheiro, sem namorado, sem vida social e sem emprego. No meio desta crise sem fim, Maria segue os preceitos de um livro de autoajuda e com uma troca de favores com um novo amigo que precisa perder peso – um de seus requisitos para ser normal – consegue, aos poucos, entender porque ela quer ser normal, se ela precisa disso e que requisitos realmente são importantes para ser feliz, normal, não normal, aceita ou qualquer termo que a satisfaça. Leve, inteligente e crítico sem ser chato, o filme passa que nem percebemos e acaba bem, nos fazendo buscar outros filmes e séries que a diretora multitarefa possa ter participado. 

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