Vincent

by - maio 19, 2016


O trailer mostra um filme francês de super-herói e dá vontade de ver pela combinação das palavras mesmo: filme, francês, de super-herói. Inusitado em sua concepção e produzido sem efeitos especiais, a produção de baixíssimo orçamento do diretor, roteirista e protagonista Thomas Salvador se constrói sob a égide de um filme de gênero, quase o rompendo enquanto conceito.

Thomas Salvador é Vincent, um homem que, ao entrar em contato com água, ganha superpoderes. O que ele faz com isso? Aparentemente nada. Qual é sua missão na Terra? Ninguém sabe. Ele sequer se fantasia? Não. A graça está justamente nisso, em um cara qualquer que, quase por acaso, tem uma particularidade. E é aí que o roteiro quase se perde.

Leve, divertido e interessante, o filme trata desse homem que chega a um vilarejo próximo de grandes lagos, encontra emprego e se firma. Ali conhece sua namorada Lucie (Vimala Pons) e tudo parece correr bem, até que um amigo recente, Driss (Youssef Hajdi), se envolve numa briga e ele vai ajudá-lo. Acaba perseguido pela polícia. A trama corre por caminhos como se o acaso estivesse sempre alterando sua vida e isso é interessante, já que há filmes suficientes de super-heróis querendo salvar o planeta de alguma ameaça obscura, e chegamos nos cinemas com aquela ideia clara do que vamos ver. Vincent não quer salvar ninguém de nada – à exceção deste amigo e só porque estava por ali no momento – e sua cidade é quase idílica de tão tranquila. Em tempos caóticos no Brasil, até dá vontade de morar lá.

O fato é que algo se perde no caminho. Ficamos esperando a trama se desenrolar e até nos divertimos com o romance deste homem calado e tranquilo com uma mocinha engraçada e meio circense. A quase ausência de diálogo é uma das graças do filme, recurso pouco utilizado no cinema do gênero e aqui funciona muito bem. Não há muito que dizer, de qualquer jeito. A fotografia segue os tons do verão europeu e a música corrobora para um filme cheio de gracejos. A montagem cansa um pouco; as perseguições longas demais nos fazem questionar qual é a relevância de tantas sequências e a estrutura narrativa se afrouxa. O diretor disse em entrevista recente que passou um bom tempo trabalhando no roteiro do filme, mas talvez por ser seu primeiro longa-metragem – já havia dirigido curtas – faltou uma percepção maior de ritmo e equilíbrio.

Ainda assim, o filme nasce com uma ótima premissa e nos deixa pensando sobre o que é ser um super-humano, ao invés de super-herói. As cenas de natação e seus poderes de escapar das situações são impressionantes. A construção de artefatos, dispositivos para promover os efeitos visuais não computadorizados nos deixa surpresos, pois nos fazer lembrar filmes de décadas passadas. Da mesma forma, há uma referência ou homenagem ao Homem Aranha em uma cena com Lucie que não conto aqui. As cenas de intimidade são deliciosas e pouco realistas, de uma ingenuidade ou leveza infantil. Talvez seja esta a graça dos filmes de herói.

Por um momento, esperei a grande metáfora sobre meio ambiente, poder e importância da natureza no desenvolvimento humano, mas passa longe da intelectualização. A ideia é transmitir a ilusão do gênero e seus protagonistas o fazem muito bem. Não é uma obra-prima, mas não chega a ser perda de tempo. A interpretação do diretor parece tão sutil, que não sabemos se ele está de fato interpretando ou só participando das cenas, tornando real tudo o que havia imaginado antes das filmagens. Há uma calma e brincadeiras de um filme de verão que fazem valer o ingresso, se você não estiver esperando muito. 

Veja o trailer aqui!

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