Os Amantes Passageiros, Pedro Almdóvar

by - agosto 10, 2013

Assim como acontece com Woody Allen, toda vez que estreia algum filme de Almodóvar, é quase uma obrigação assistir. É um trato seguro, os filmes de diretores consagrados são escolhas certas e priorizadas no circuito cinematográfico. São os filmes de autores, garantias de entretenimento pra quem os segue, reduto cult e panelinha do cinema mundial, não importando a estética, gênero e narrativa.

Pois então: com toda essa certeza, fui ver o trailer de Los Amantes Pasajeros e cheguei à triste conclusão de que era bem fraquinho. Um anúncio de comédia boba e afetada, com uma estória que parece só ter meio e não sustenta nem os 3 minutos da propaganda. Ainda assim, o suspense sobre a participação de Penélope Cruz e Antonio Banderas, aliado a um elenco de peso chamavam a atenção e dava uma pontinha de esperança.
Um avião sai de Madri em direção à Cidade do México e tem seu destino alterado quando se descobre que o trem de pouso tem um defeito. A aeronave circula pelo céu espanhol à espera de um aeroporto em condições de atender a um pouso de emergência. A tripulação da classe executiva lida com a tensão do acidente iminente e a tentativa de acalmar seus passageiros, enquanto a classe comercial segue dopada, junto às suas comissárias de bordo – evitando o pânico generalizado. São 90 minutos de avião e filme no ar e até aí tudo certo, não faltam boas histórias em ambientes restritos.
A crise do filme está na ausência de estória que sustente a duração. Enquanto o avião segue gastando combustível e paciência, vemos despedidas por telefone, personagens se conhecendo em diálogos vazios, comédia rasa. Os comissários, três homossexuais, piloto bissexual e co-piloto se descobrindo gay são os comandantes de uma fábula fraca, onde o excesso de chistes cansa mais do que extrai sorrisos. Parece que estamos diante de um roteiro mal escrito, feito às pressas. Depois de A Pele que Habito, é difícil encontrar em Amantes Passageiros a mesma alegria de ver um bom filme. Talvez o diretor tenha chegado àquela linha tênue de vaidade em que acredita poder fazer o que quiser, considerando seu público fiel.
O problema é o contraste. A genialidade dos filmes de Almodóvar está em diálogos bem construídos em tramas intrincadas. Há um cuidado em deixar o filme fechado esteticamente, que nos prenda do início ao fim, num êxtase crescente. Aqui não há trama, mas uma ênfase no sexo pelo sexo. As próprias cenas picantes são tão ocas como a droga que tomam em coquetéis para aliviar a tensão, lembrando quase uma pornochanchada atualizada e com ótima fotografia. Exageros à parte, o incômodo é que, depois de uma filmografia importante, sai um filme diluído em água, sem gosto.
Penélope Cruz e Antonio Banderas abrem o filme indicando problema da trama: o inevitável está ali. As cores e o figurino e os tons de 30, 40 anos atrás favorecem, mas não preenchem a lacuna fundamental da narrativa. Um raro momento que relembra filmes anteriores é a única sequência importante que acontece em paralelo ao avião, mas em terra: um ator dentro do avião liga para sua namorada suicida e acaba reencontrando a ex que nunca deixou de amar. É aqui que chegamos perto de um final feliz. 
Os Amantes Passageiros talvez não seja mais do que isso; uma sequência de situações para fazer passar o tempo, mas que acaba sem rumo definido.

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