É uma sina?
A pergunta esdrúxula e de resposta óbvia não é tão
simplista, mesmo comportando apenas três palavras.
Tão antiga quanto o conceito de humanidade, a homossexualidade parece ressurgir
socialmente de tempos em tempos como uma grande novidade. Anormalidade, doença,
opção, são todas palavras equivocadas e insuficientes.
Se invertermos os pólos e analisarmos a heterossexualidade, não há muita diferença. E para os heteros como eu, certamente não é uma opção. Aqui
não é uma discussão de gênero e sociedade, mas somente uma opinião de quem
partilha algum desejo. O desejo não vem como opção, mas como uma pulsão, uma
das forças que nos move independentemente de nossas vontades.
É muito estranho que a sociedade precise se meter na sua cama e avaliar se você
deve ou não dormir com alguém e por quê. Não sei quem lhes deu esse passe livre
sobre nós e como se concordou tão
rapidamente com tudo.
O fato é que sempre houve essa posição conservadora – também familiar – que
encontra aí por alguma razão o direito
de intervir em nossas intimidades. Vi de perto uma dessas histórias e insisti sempre
no porquê da polêmica do não pode, não deve. A procriação e tudo mais é
possível pra todos assim como a constituição de uma família e o casamento. Dá
pra entender, as famílias não querem deixar de existir, querem perpetuar esse
legado incrível e individualista do nada que somos. O que não se entende é que
até para as famílias, a diversidade é possível. E saudável.
Trabalhando com comunicação, tenho a sorte de conviver na diversidade. Já ouvi
de amigos gays sobre sua infância e adolescência e em como era uma batalha
diária se entender, se aceitar e se preparar pra uma luta mesmo, de
autodescoberta, exposição e sofrimento. De como essas marcas só começam a ser
suavizadas agora que se transformam em adultos.
E dá pra ver que assim, a minha vida sempre foi um mar de rosas, com algodão
doce e ursinhos carinhosos, não importando qualquer problema que estivesse
vivendo. Sem ter que me explicar o tempo inteiro ou até fazer terapia para
entender por que eu seria e me via de forma diferente, eu era
simplesmente igual a todo mundo, isso não era uma grande novidade e não havia ninguém de cara feia me olhando.
E por que, nestes tempos depois de tanta História e histórias se volta a crer
que um projeto de lei possa entender a "opção" sexual como parâmetro
de (a)normalidade? Justo agora que se levantam bandeiras, mais uma vez, contra
as intolerâncias? Agora que os preconceituosos finalmente estão recebendo uma
merecida e atrasada lição e que se pode reclamar abertamente os abusos e ter
seu direito justificado sem sentir vergonha? Parece que vivemos num mundo retrô, onde voltamos às ruas para lutar
pelo que, teoricamente, havia sido conquistado décadas atrás.
Há que ser um preconceito tão antigo como a segregação
religiosa, há de vir de uma mente tão tacanha como a de um sujeito cujos
próprios desejos parecem estar reprimidos, tensionados em uma paixão tão forte
e tão proibida que se transforma em
ódio e intolerância. Como Alan Chambers e sua igreja de cura gay nos Estados Unidos que hoje pede desculpas ao mundo por sua trajetória horrenda e, ele próprio se assumiu homossexual, este pastor
brasileiro precisa acordar do pesadelo em que vive. Ele sim precisa de tratamento
e todos os que concordam com essa ação insana.
Que não seja uma sina, que esse movimento de contrassenso funcione no seu extremo oposto em tempos de ruas cheias.
Que nos faça ridicularizar o sujeito, sua ideia e destituí-lo de seu poder
político, religioso e perigoso. E que no próximo futuro retrô, com causas tão
fundamentais como estas de hoje, se ria dessa sandice, se conte como uma piada
de bar, o dia em que um político entendeu que sexo era doença.
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