Por que assistir | Crítica: Sete dias com Marilyn

by - maio 07, 2012

Correndo contra o tempo e tentando conciliar muitas obrigações e pouco lazer, finalmente assisti a Sete dias com Marilyn, com grande expectativa depois de ter visto o trailer e o lindíssimo cartaz. Saber que Michelle Williams faria o papel me convenceu sem precisar de sinopse. Vamos falar dele?

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Sete dias com Marilyn

O filme trata da adaptação do livro de Colin Clark (Eddie Redmayne), na época terceiro assistente de direção, que conviveu com Marilyn Monroe e o elenco de O Príncipe Encantado, com sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh). Segundo a estória - que ainda carrega a experiente Judi Dench e a mocinha de Harry Potter, Julia Ormond em papéis menores - Laurence era apaixonado por Marilyn e achou que trazendo ela à Inglaterra, conseguiria um grande filme e um grande amor. Só não sabia quão difícil seria conviver com uma estrela ainda maior do que ele.

Michelle Williams é Marilyn, uma atriz no auge da carreira, com trinta anos, três casamentos e não à toa, problemas com barbitúricos. A atriz consegue carregar a protagonista como eu não imaginei que ela fosse capaz, com toda a insegurança por trás do mito, seus problemas, mimos, dificuldades, refletindo ainda numa carência e numa dependência de todos que estavam ao seu redor. A atriz - que não tinha traços nem o corpo da diva - se transformou de tal forma que era impossível não ganhar o Globo de Ouro. 

Colin foi o garoto novo que deu a sorte de cruzar olhares e cativar a grande atriz. Com um jeito de ‘menina levada’, fetiche dos homens de então, todos se apaixonavam por ela por ser diferente, por não ser o padrão da mulher recatada e certinha da época com quem todos acabavam casando. Busquei a biografia da moça e sua história traz respostas: Marilyn não teve a família tradicional, foi abandonada pelos pais e viveu entre orfanatos e casas de família. Casou aos 16 para evitar outro orfanato e foi descoberta para o cinema com uma beleza e um carisma inigualáveis até hoje.

O filme me lembrou Sex and the City. Morando sozinha e sem tv a cabo, acabei aproveitando para rever alguns episódios e relembrar minhas amigas de Salvador e outras que fiz no Rio, hoje espalhadas pelo mundo. São as conversas intermináveis nos cafés, almoços, cinemas, bares e livrarias que me ajudaram a sobreviver nesses anos de pós-adolescência. A chegada à vida adulta, ao trabalho, estudos, moradia e relacionamentos precisam de muito debate, sempre. Ainda na série, o grande sucesso está na facilidade com que as quatro mulheres solteiras e bem sucedidas de NY vivem e tratam de sexo, carreira e relacionamentos de uma forma nunca vista antes – pelo menos na televisão. 

Há uma honestidade nas cenas, uma franqueza e um despudor que ao contrário de vulgarizar, torna os diálogos realistas e sinceros, não como um guia de comportamento, mas em conversas íntimas e finalmente compartilhadas, trazendo pra mesa o que antes ficava preso em casa e nos diários. As referências para as histórias, a moda, o sexo são reais e tão fundamentais para a formação quanto a educação que tivemos em casa ou a escola de nossa infância. Essa terceira etapa ajuda a nos definir, a desenvolver a personalidade, reforçar amizades e, porque não, contribuir para o nosso posicionamento com o mundo. 

Marilyn aparentemente não teve isso. Muito cedo ela viveu o sucesso e a solidão. Segundo o filme, as amizades não eram mais do que muletas ou profissionais em atendê-la de pronto e personalizadamente. Ao encontrar com nosso escritor, ela chega perto de vivenciar uma experiência, um romance de sonho pra ele e o que poderia chegar mais perto de pessoa normal pra ela. Por isso ela se apegou a ele naquela curta semana, por ver ali a possibilidade de algo puro e sincero e, no mínimo, uma companhia. Ainda assim, falamos de um mito, uma lenda e é assim também que a vemos aqui. O filme nos deixa apaixonados pelo personagem que Marilyn Monroe se transformou, basta relembrar a cena em que a protagonista canta na banheira ou ri com o protagonista em casa. 

O que dá o que pensar é que tanto as mulheres de Sex and the City quanto a Marilyn deste filme têm quase o mesmo perfil. Guardadas as diferenças de contexto, são mulheres bem sucedidas que são ou querem ser livres e percebem mais ou menos da mesma forma os relacionamentos, sempre desafios e enigmas. No entanto ainda hoje – poucos anos depois da série e muitos depois da atriz – o pensamento continua o mesmo. As histórias íntimas de todas estas personagens corajosas se repetem com as pessoas normais de qualquer tempo. 

Os romances, as críticas, os envolvimentos, ser solteira, namorada, casada, amante, de caso, com mais ou menos censura e dinheiro, perpassam gerações – o que muda são os termos, o tamanho das saias, a etiqueta. Até os preconceitos são iguais. Aparentemente, o que faltou a Marilyn foi a companhia feminina, ouvidos atentos e bocas doces e sarcásticas que a ajudassem com as dificuldades da vida.

Enquanto na década de 1950, Marilyn dominava os corações, audiências e filmes americanos exibidos no mundo inteiro, hoje vemos outras tantas Marilyns – respeitando a importância e singular majestade da primeira – em nosso cotidiano. A personagem que eu vi neste filme, engrandecida pela fotografia privilegiada, linda e característica da época, me passou uma ideia de uma mulher extremamente frágil – ou uma menina – lidando com uma pressão muito grande e uma exigência em se manter personagem a todo instante, sem nem saber direito quem é. 

Marilyn Monroe se fundiu em fantasia e realidade. Não me recordo de outros filmes que tragam cenas de sua história real à tona – mas imagino que existam alguns documentários – mas este trouxe o mito para mais perto de nós. Ainda assim, a impressão que temos é a de que é impossível não se apaixonar por ela. E, claro, agradecer por ser a pimenta que foi, ajudando a trazer um pouco mais de leveza e graça às vidas das mocinhas certinhas de então. Se é que elas realmente existiram.

Título Original: My week with Marilyn
2011 / UK, USA / 99min
Dir.: Simon Curtis.

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