Noite de seis graus

by - julho 10, 2008

E ela resolveu sair pra dançar. Morria de frio em terra de amiga, se reconstruindo de mais um clichê desses que nos aparece na vida. Com meias rosa-choque até o joelho, escondidas numa justa calça jeans, blusinha leve por dentro, manga comprida e gola alta por fora, botas e casaco, desceu a rua, atravessou a praça e seguiu pro forró.

Lá dentro, nada acontecia. As amigas conversavam animadamente, analisando o circo ao redor: como em todos os lugares dançantes do mundo, uns dançavam, outros olhavam e comentavam os dançantes e outros apenas caçavam, olhavam, buscavam um primeiro contato pra se dar bem até o final da noite.

As amigas, como de costume, só queriam conversar, beber, dançar e rir. Sempre foi assim, desde que são amigas. O tempo de convivência é tão raro, que apenas o encontro delas é suficiente. O forró havia começado e os rapazes que já olhavam as duas estranhas na cidade, ameaçavam uma aproximação. Elas, cujo interesse era apenas esquentar os ossos nos seis graus da noite serrana, aceitariam qualquer oferta razoável.

Depois de ensinarem, cada uma, uma média de cinco rapazes afoitos por um canto da boate, elas desistiram. A primeira, já de saco cheio por seus próprios clichês, postou-se ao lado da banda que tocava músicas gostosas. Não ia dançar com mais ninguém, mas gostava de olhar quem sabia dançar e se esbanjava acompanhado no meio do salão. A amiga teve mais sorte: encontrou outros amigos e descolou uma conversa de interior.

A sina que perseguia a dona dos clichês era ainda mais cruel do que o hábito de gostar de dançar. Eles, certamente acima dos 45, a encarava como se ela estivesse ali, única e disponível para mostrarem-se bem sucedidos e ela aceitar. Mas ela não aceitava nem começo de conversa àquela altura do campeonato. No primeiro ‘oi’, cansada de ser simpática, virava a cara. Com a continuação da perseguição, sucessivos ‘não’ eram ouvidos secamente. Quando estava à beira de uma grosseria educada de menina esnobe, o rapaz a chamou para dançar. Com o sorriso de que finalmente teria sua noite salva, num ar de vingança, olhou para o cinqüentão e saiu para o centro com o menino de quase 30. Ela, de 25, finalmente iria dançar, rir, esquecer. Rodou, abraçou, apertou, gargalhou. A dança não parava e eram só eles dois naquele momento, no mundo. Uma felicidade a inundou como se precisasse ser salva e houvesse encontrado seu príncipe.

Brigada, você é ótimo. E você dança muito bem! Vai na minha peça amanhã, ver a gente. Vou sim. Ele era ator, mas foi ela quem fingiu por último.

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4 Comentários

  1. hahahahaha adoreiiiii! o final foi ainda melhor
    forrozinho bom, aproveita o clima
    beijão, neiloca

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  2. uuuuuhhhhhhhhhh... tchananann! hehehe... aproveita td ao máximo, divirta-se sempre! vc merece, amore. arrisque-se mais. no mais, saudade, saudade, saudade. muitos beijos ;)

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  3. deu uma vontade de arrumar um forrozinho por aqui... ;)

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