Na Natureza Selvagem

by - março 27, 2008


Hoje é um daqueles dias que nos mudam para sempre. Sabe quando você se pega parado pensando e tem a certeza de que naquele momento, alguma coisa mudou? Alguma coisa muito forte, ainda que você não saiba direito o que é, apenas sinta. Hoje foi a noite em que eu vi Na Natureza Selvagem.


É um daqueles filmes que você pede muito pra que não acabe, porque a estória tomou um rumo tão interessante, te despertou tantos desafios e questões e é tão bem feito que não precisa acabar. Quando acabar, não tenha dúvida, vai ter deixar pensando por milênios. Na Natureza Selvagem, que eu insisto em digitar No Coração Selvagem(o livro de Clarice que não li - Perto do Coração Selvagem), de tão coração que ele é, trata da história de um garoto americano que, ao se graduar na faculdade, resolve desaparecer da vida de seus pais e de sua irmã para viver sua própria vida, rumo ao Alasca.

O mais importante desse filme é assistí-lo. Não vou pesquisar na internet sua trajetória, porque sei que deve ser cheio de prêmios. O filme é baseado na história real de Alexander Supertramp, como gostava de se chamar, ou Christopher McCandless e é narrado por sua irmã Carine. A viagem de Alexander Supertramp é de conhecimento. É uma experiência extrema, onde ele busca o isolamento total da sociedade, mas, para chegar nisso, invade a privacidade e entra ainda mais nela. Alexander conhece muitas pessoas em seu caminho de andarilho, trabalha e vive relacionamentos mais íntimos do que o que tinha com seus pais. O isolamento que ele busca é justamente da família que ele rejeita, que não o compreende, mas o aceita. E ele não os compreende, não os aceita e não os perdoa.
Emile Hirsch
Enquanto Alexander vive seus dilemas e põe em questionamento as pessoas que passam por sua vida - e aí temos que brindar à fantástica atuação destes coadjuvantes - trechos e mais trechos de autores fundamentais são citados por ele, são os livros que lhe fazem companhia e ajudam durante suas viagens, Tolstói, Byron, Thoreau entre outros. E, mesmo para quem nunca tenha lido a maioria destes autores, seus trechos nos fazem refletir e percebemos que também começamos a nos questionar durante a exibição. Solidão, morte, felicidade, amor, família, amigos. São significados muito particulares e que, cada uma dessas palavras, já carrega um imenso potencial. No filme, encontramos com Alexander uma parte de suas definições e saímos dele, reconhecendo que o que descobrimos ainda é muito pouco para atestarmos qualquer coisa. Por isso saí calada. Saí com um nó na garganta e uma agonia, como essas em que tentamos dizer as coisas e sabemos que não vamos conseguir, porque o nó vai se desatar e um rio correrá dos nossos olhos. Então, saímos calados, pensando...pensando... até que vamos digerindo tudo aos poucos e conseguimos um sorriso. Esse é o resultado de um bom filme.

Na Natureza Selvagem é dirigido por Sean Penn, que depois de trilhar uma carreira de ator inquestionável, se desenvolve com o mesmo potencial na direção. Para Emile Hirsch, o protagonista, nada além de muito aplauso. Ele, só com esse filme, se tornou um dos melhores atores de sua geração. Como trata-se também de um road movie, conseguimos imagens surpreendentes dos Estados Unidos, aquelas que raramente vemos em seus filmes. É uma obra que trata de pessoas, de suas vidas, de suas emoções e descobertas. As pessoas que atravessam a vida de Alexander durante seu percurso não apenas admiram sua coragem, sem compreender seu motivo, como, de alguma forma, se identificam com ele e o ajudam, afinal, estamos sempre a procura de quem somos. E os atores que interpretam estes passantes garantem esse resultado tão íntimo e próprio de todos, do sentimento. O filme consegue não se firmar apenas com uma história bem contada, mas sua equipe, em todos os setores merece prêmios. Os gráficos deste filme, os textos citados com letra corrida, condizem muito bem com a história contada, já que foi extraída de um diário-livro e vemos o protagonista escrevendo e lendo todo o tempo. A montagem, que volta e meia altera o percurso do contar da história vai construindo seus personagens de forma que, ao final do filme, conseguimos um apanhado de todos muito bom, até daqueles que pouco aparecem, mas dão sentido à trama e tornam-se fundamentais.
O real Alexander Supertramp
Acredito que Clarice, que escreveu Perto do Coração Selvagem iria se identificar bastante Na Natureza Selvagem deste filme, ainda que o universo dele gire em torno de um jovem rapaz. Como Clarice, em seus textos, esse filme, ainda que parta de um diário e de impressões próprias a um indivíduo, entra em nossas vidas como se nós fôssemos também protagonistas de sua história. Nunca sabemos realmente o que nos muda, ou como nós mudamos. Sentimos e vemos no olhar das pessoas que nos conhecem e algumas delas podem até dizer: tem alguma coisa diferente em você, não sei o que é, só sei que tem. Espero que todos que vejam esse filme descubram algumas respostas que ele nos provoca com seus questionamentos. Da minha parte, reconheço um aumento considerável da saudade de meus amores e a identificação com um pedaço da aventura de Alexander, aquela em que nos permitimos ir em busca de conquistar nossos objetivos, ainda que enfrentemos os obstáculos do caminho.

Se o filme não chegou aí ainda, visite o site.

Posts relacionados

3 Comentários

  1. Fiquei com vontade de ver agora..
    Vou tentar baixar
    E Perto do Coração Selvagem vale a pena tb, como tudo de Clarice vale.
    Beijo linda

    ResponderExcluir
  2. parabéns... voce entendeu minhas criticas, e parece que o filme ajudou bastante, apareceu em boa hora... parabéns de verdade... está muito bom... estou muitissimo surpreso... mas no fundo, eu sabia que voce sabia o que eu queria dizer com minhas criticas... só faltava assumir o seu "coração selvagem"... keep going "into the wild"...

    ResponderExcluir
  3. "...tu és um corpo vivendo, eu sou um corpo vivendo, nada mais. (...) cada um com um corpo, empurrando-o para frente, querendo sofregamente vivê-lo."

    ResponderExcluir