E viva a Bahia!

by - julho 11, 2007

Tentei fugir, mas não consegui: hoje me apareceu a cópia pirata do "Ó Paí, ó" e assisti. Somemos a isso os acontecimentos do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual nesta semana e o caderno especial lançado pelo jornal A Tarde sobre o evento.O Seminário foi grande, com convidados especiais, temas interessantes e oportunidades de ser um acontecimento cultural de peso na cidade. Filmes importantes foram lançados e se buscou pensar o audiovisual em suas diversas performances. O cinema baiano teve um destaque polêmico.Alguns acreditam que existe Cinema Baiano. Acreditar nisso é separá-lo do Cinema Brasileiro, que deveria abarcar todas as produções nacionais, independente de onde foram feitas. É compreensível: somos paternalistas. Só é permitido entender assim, já que não falamos sinceramente dos filmes que fazemos, sempre passamos a mão na cabeça de nossos diretores e dizemos 'muito bem'; quase não fazemos filmes e ainda assim, nos achamos especiais e diferentes do restante do país.

Encaremos a realidade: vivemos de editais e pronto. Nem todos os nossos filmes são bons, André Setaro tem razão em suas palavras. Seu artigo publicado no caderno do A Tarde nada mais diz senão a verdade sobre nós. Mas o que ele fez foi um crime: jogou na nossa cara que somos assim, não disse um 'tudo bem' no final e pronto, ficamos 'com a cara mexendo', pra fazer jus à coleção de falatórios do "Ó Paí, ó".O mais interessante é que não para por aí. O link: isso tudo aconteceu de uma só vez no Seminário. Descobriram a polêmica de fazer Cinema Baiano, depois ouviram um importante critico de cinema dizer que este não existe porque não há cinematografia suficiente e mais, ainda falou que precisamos aprender. Quase ficamos à deriva, não fossem as manifestações de nossos pais protetores nas listas de cinema e em outras manifestações.

Perdemos tempo pensando em como nos proteger frente ao nada que nos infrenta. Em um espaço destinado ao conhecimento, debate e cultura, discutimos o formato de nossos umbigos e gritamos quando alguém os acha feios. Perdemos de conversar mais, de saber mais sobre quem faz o quê, de mostrar pra quem é estudante o que acontece de fato no cinema feito na Bahia e no mundo. Tudo se transformou num bate-boca vazio e sem sentido. Deveríamos achar ótimo ter alguém para criticar nossos filmes, só assim aprenderíamos alguma coisa. Apenas intuição, boa vontade e elogios não servem de nada.E, pra fechar com chave de ouro, o filme da Mônica Gardenberg. Filme feito na Bahia, sobre a Bahia: é uma coleção de falatórios, de nossas gírias e dos tipos que circulam por aqui. É a soma do dicionário baianês com todos os clichês há pensados para a terra do acarajé. É a superfície da superfície da margem de qualquer realidade baiana e mais, atesta que o jeitinho brasileiro é exclusividade do baiano, já que nunca foi tão explorado como neste filme. Não solicitamos dramas, produções de crítica social, temas sérios. Pode ser até sobre o Carnaval, como foi, só que poderia ir além, como... mostrar realmente o Carnaval... mostrar realmente o Pelourinho, como as pessoas são, como não vivemos só de farra e 'gaiatice'.

Do filme inteiro só vi que somos atirados... nada mais. É clipe de Carnaval, filme feito por turista e para turista. As pessoas que vivem em Salvador, que trabalham com cultura... ou que simplesmente pensam, não deveriam gostar do filme. Ele perde em verossimilhança e, sem isso, não há obra que se sustente. Tiraram uma foto da "Salvador do Carnaval Mundial" e colocaram em movimento. E aí, esse filme faz parte do Cinema Baiano? Melhor é dizer que somos brasileiros...Ganhamos com "Ó Paí, ó" a lembrança de sermos provincianos sem solução, eternos adoradores de farra e orgulhosos de nossa dança e sensualidade. Somos tão vaidosos que nem ligamos muito pra essas coisas sérias. Somos bonitos e pronto, nossa música é fantástica. Mas somos tão pequenos que discutimos isso tudo em Seminários Internacionais. Ou é por que somos grandes demais e só o nosso espaço é suficiente? Será que precisamos de mais alguma coisa?

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8 Comentários

  1. É, Tati, não sei se tem muito jeito a dar. Essa necessidade de receber elogios e condenar críticas é uma prática que só se consegue parar quando se quer, quando se aprende a ouvir mais do que falar. Não me parece que os realizadores que apedrejaram o Setaro têm esse discernimento.

    Não acompanho listas específicas de Cinema, não sei como foi a reação. Mas acho que, no mínimo, deve-se levar em consideração o tal artigo n'A Tarde. É uma opinião isenta e bem fundamentada, a meu ver.

    Concordo plenamente com o que você disse sobre "Ó Paí, Ó". E o buraco é tão mais embaixo que nem aqui na província ele fez algum sucesso digno de nota...

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  2. O episódio do teatro foi vexatório. Concordo que não pode haver diferença entre cinema baiano e cinema brasileiro. Me irrita muito perceber que a miopía dos realizadores do Nordeste afasta o público das suas obras.
    O paió parece engraçado à primeira vista, mas é vazio e uma péssima propaganda da Bahia. Conheço uma galera que achou muito bom, pois reflete o povo do pelourinho, mas gostari de saber quando alguém vai fazer um filme que reflita o povo que mora na Vitória, Barra, Ondina, Iguatemi, Pituba, Costa Azul... Porque só a pobreza e a periferia alcança os olhos dos cineastas? Não gosto dessa estética da pobreza, o culto à histórias do nordeste, com sertão, sol quente e terra rachada. Acho que é preciso mostrar o Nordeste Cosmopolita, a praia de Boa-viagem, os frequentadores de Aleluia, o jet-set da cultura de entretenimento. Vamos mudar um pouco o foco e ver como nos saímos.

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  3. É, concordo...
    Mas, falando de alguns detalhes do filme... vejamos o roteiro:
    gíria, comédia, música, gíria, palavrão, comédia, gíria, palavrão, música... e no final, OS GURIS MORREM!!! Os dois!! O filme não conduz sequência alguma pra isso... o clímax é que nem o de Apocalypto: algo completamente diferente do proposto, querendo chocar, querendo dizer: "Viu, vc tava preocupado com outra coisa, e olha o que aconteceu..." Mas no caso de Ó paí, ó, nem há proposta... o roteiro não tem uma linha, são apenas trechos, como vc mesma disse, da Bahia vista pelos turistas, trechos do que o baiano gosta de ver e ouvir...
    Não quero falar em "ouvir" pq lembro de Lázaro Ramos cantando...
    Ó paí, ó... me estressei!

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  4. ;)...Qnto a "ó pai ó",estou até me sentindo culpado por ter gostado do filme, vou rever com olhos mais críticos, afinal posso ter me deixado inebriar pelos belos seios de uma mulata faceira estampados na tela do cinema (admito que esse é o meu fraco - cinema e seios, ou seria na ordem inversa!? Aliás, pra mim o motivo para curtir o carnaval nunca foi muito bem a música...), talvez depois da cena inicial nada mais eu tenha exigido do filme. Mas esse é um problema meu, talvez eu deva tentar me tornar um ser superior, deixar esses hedonismo de lado, buscar a elevação da alma, fazer yoga e viajar pro capão...Nãooo!!!Bom, sobre o resto do seu texto (o tema do momento!!!), deixo a seguinte mensagem: "...como diria o poeta, pouco sacana ou muito sacana, somos todos uns sacanas"...bjão, Tati

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. eu não sei bem o que se quis dizer com essa frase... "...como diria o poeta, pouco sacana ou muito sacana, somos todos uns sacanas..." esta me parece a carnavalização da máxima nietzschiana, "humano, demasiado humano", muito parecido com o que monica gardenberg fez com a mais bela das verdades baianas "nesta cidade todo mundo é d'oxum"... mas existe algo que precisa ser lembrado aqui... alguém sabe quem foi oxum? porque oxum? o esta cidade tem a ver com isso? porque e o que nesta música/mensagem atinge o intimo de tantas pessoas? de que humano nietzsche está falando? e do que se trata, quais repercussões, onde chegaremos sendo humanos e cada vez mais humanos? por que e o que é sermos humanos?... chega... porque sacana? o que é sacana pra voces? mostrem uma lista dos melhores e dos piores sacanas... ser sacana é ser machista? ser viado? ser gilete? ser ladrão? ser falso, ser hipócrita, ser mesquinho? o que é ser sacana?... porra, sem querer polemizar e já polemizando, expliquem melhor, pois quando leio isso sinto que tem alguma coisa errada...

    o que é ser sacana?

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  7. O "sacana" não tem nada haver com o filme da Mônica (ou será que teria?). Trata-se na verdade de uma frase que faz referência a situação que ocorreu no seminário (tema assinalado no texto de Tati)."...somos todos uns sacanas...", frase retirada da peça "O arquiteto e o Imperador da Assíria", texto esse que tem como tema justamente a crise de identidade, o desnorteio, a loucura. Portanto, a frase em questão, e no contexto, não busca uma conotação moral, ou pelo menos não deveria ser vista dessa maneira, ainda que se admita que trafegue inevitavelmente por essas vias, é o seu sentido filosófico que deveria ser ressaltado. Deslocada do contexto serve apenas para sinalizar justamente uma esquizofrenia, para provocar justamente essa reflexão (ou a polêmica) a respeito dessa coisa contraditória que se passou no seminário e que no final leva-nos a pensar, chegando à conclusão óbvia, que estamos todos passíveis, vulneráveis, como Reis patéticos das nossas idiossincrasias. Ou seríamos apenas "humanos, demasiado humanos"?...Não sei se há algo errado, mas deve haver, geralmente há... Abraço

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  8. primeira coisa: qnd vc resolveu aceitar minha defesa de que não há cinema baiano, senão brasileiro? rebateu tanto naquele dia, na pizzaria, hehe... eu sempre venço :P outra coisa: no sexto parágrafo, vc lançou um "infrenta"... c tá ligada que é enfrenta, né? com E! deve ter sido efeito do ó paí ó. pra finalizar: essa discussão aí em cima quanto ao "sacana" ficou muito chata... gustavo questionou, perguntou, questionou e não disse pn, ao que o 'broder' de baixo respondeu: bla bla bla bla bla. hahaha, beijos!

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